Cardeal-patriarca reage a cartazes que lembram as vítimas de abuso sexual: "Desde que cumpram a lei, as pessoas têm o direito de se manifestar"

31 jul 2023, 13:30

Manuel Clemente revela ainda que não sabe nem quando nem onde é que o Papa Francisco se vai encontrar esta semana em Portugal com as vítimas de abuso sexual

Como é que a organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) reaje aos vários cartazes e manifestações públicas que têm surgido nos últimos dias a lembrar as vítimas de abuso sexual no seio da Igreja Católica? "As pessoas que se queiram manifestar estão no seu direito, desde que o façam no cumprimento da lei", disse o cardeal-patriarca Manuel Clemente, questionado pelos jornalistas, esta segunda-feira.

"Da parte da igreja portuguesa, o empenho é total em resolver esta questão", garantiu Manuel Clemente. Nesse sentido, sublinhou que "todas as dioceses já estão a trabalhar" com especialistas - quer da área da criminalidade e da justiça, quer com psicólogos - e em rede, tal como foi decidido pela Conferência Episcopal Portuguesa.

O encontro do Papa Francisco com as vítimas de abuso sexual na Igreja Católica portuguesa vai acontecer esta semana, mas está envolvido em grande secretismo: "É tão secreto que nem eu sei onde e como vai acontecer", disse o cardeal-patriarca. Os pormenores sobre o evento só vão ser revelados depois - e mesmo assim tentando sempre manter a reserva das vítimas.

A Jornada Mundial da Juventude, que acontece esta semana em Lisboa, é "sobretudo uma obra da juventude portuguesa, com a colaboração de pessoas que já são jovens há mais tempo", disse Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa. "E eu tenho a certeza que esta experiência de compromisso, de militância, de compromisso destas dezenas de milhares de jovens que estão envolvidos nesta organização já não passa, fica para a vida."

Esta "geração 2023", com a sua vontade de fazer e com o entusiamo da JMJ, "marcará a sociedade portuguesa mas também o resto do mundo", deixando uma mensagem de esperança: "Eles são o rosto desta esperança", concluiu o cardeal-patriarca na primeira conferência de imprensa da JMJ, realizada no enorme centro de imprensa instalado no Pavilhão Carlos Lopes, no Parque Eduardo VII, em Lisboa.

O cardeal-patriarca recordou como surgiu a ideia para fazer em Lisboa a Jornada Mundial da Juventude e como ela foi crescendo: "Foi determinante o incentivo e até a pressão da parte de movimentos associativos juvenis católicos, quer do meio universitário quer dos grupos das paróquias". Em 2017, Manuel Clemente escreveu uma carta ao Papa Francisco, fazendo uma proposta oficial. "Para isso também foi necessário que o Estado e as autarquias reconhecessem a importância de um evento que traria a Portugal o correspondente a um décimo da população. Devo dizer que, independentemente da cor da política, todos foram concordantes e até entusiastas." Em janeiro 2019, no Panamá, Francisco anunciou então que a próxima JMJ seria em Lisboa. Só que, entretanto, aconteceu a pandemia de covid-19 e o evento teve de ser adiado um ano.

A JMJ começa oficialmente esta terça-feira, mas na verdade para milhares de pessoas começou há três anos com toda a organização necessária para pôr de pé um evento desta dimensão. Além disso, já têm vindo a acontecer diversas atividades - desde o percurso dos símbolos da JMJ por todas as paróquias, que durou dois anos ao longo de mais de 40 mil quilómetro, até aos Dias das Dioceses, com mais de 67 mil jovens peregrinos que estiveram espalhados pelo país na última semana.

O padre Filipe Dinis, que esteve na organização destes eventos, lembrou a alegria que se foi instalando entre os participantes mas também em todo o país, à medida que se aproximava a JMJ - na verdade "a jornada já estava a acontecer". Neste momento, está tudo a postos, dizem os responsáveis. Os peregrinos estão a chegar a Lisboa e, tal como diz o hino da jornada, "há festa no ar".

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