Aniversário de Joe Biden suscita debate sobre idade e sabedoria do presidente mais velho dos Estados Unidos
O presidente Joe Biden assinala esta segunda-feira o 81.º aniversário com uma celebração familiar discreta, enquanto se prepara para um ano eleitoral exigente.
Mas embora a família mantenha as celebrações discretas e fora do alcance público, o momento destaca a maior fragilidade da campanha - a sua idade avançada e a perceção entre os eleitores de que as suas aptidões físicas e mentais têm diminuído.
Na segunda-feira de manhã, enquanto presidia ao perdão anual do peru de Ação de Graças, Biden aparentemente confundiu as estrelas pop Britney Spears e Taylor Swift.
Ser o peru nacional do Dia de Ação de Graças, disse, é "mais difícil do que conseguir um bilhete para a digressão Renaissance [Beyoncé] ou para a digressão da Britney - está um pouco quente no Brasil neste momento", parecendo confundir Spears com Swift, que está atualmente na etapa sul-americana da sua digressão Eras.
Também fez várias piadas sobre a sua idade.
"Só quero que saibam que é difícil fazer 60 anos - difícil", disse, rindo, à audiência do perdão do peru. E, ao assinalar o 76.º aniversário do evento, brincou que "não estava lá" na primeira edição.
Os responsáveis da Casa Branca e da campanha reconhecem em privado que se trata de um problema, e trabalham para eliminar potenciais gafes e projetar vitalidade. Este ano, foram prescritas a Biden palmilhas personalizadas, depois de o seu exame físico anual ter determinado que ele apresenta uma "marcha rígida". Nos últimos meses, quando Biden voa no Air Force One, tem utilizado com maior frequência um conjunto de escadas mais pequenas e curtas para embarcar e desembarcar.
Biden também tem feito um esforço para passar pelos jornalistas em passeios de bicicleta durante as férias em Delaware, parando ocasionalmente para responder a perguntas enquanto usa o seu capacete. (O presidente é um ávido utilizador do Peloton na Casa Branca).
Ainda assim, o peso da idade torna-se cada vez mais evidente. Pesquisas recentes, incluindo uma nova sondagem da CNN, indicam que se trata de um problema crónico para os eleitores. E os críticos levantam a questão sempre que podem. No sábado, o antigo presidente Donald Trump, e principal candidato à liderança do Partido Republicano, chamou a Biden "uma pessoa estúpida" que "não consegue sair do palco (...) enquanto o efeito do que está a tomar não passar", provocando aplausos de uma multidão em Fort Dodge, Iowa. No domingo, o governador da Florida, Ron DeSantis, 45 anos, observou que "o tempo é imbatível", apontando a idade como um problema tanto para Biden como para Trump, de 77 anos, numa entrevista a Jake Tapper, da CNN.
Biden já é o presidente mais velho da história, ultrapassando Ronald Reagan, que tinha 77 anos no final do seu segundo mandato. Caso seja reeleito em 2024, Biden terá 86 anos no final do seu segundo mandato. Trump, que se aproximaria dos 83 anos no mesmo momento, assumiria o bastão de presidente mais velho da história, em caso de eleição.
Os assessores de Biden argumentam - e reclamam - que existe um duplo padrão de critérios, com a cobertura mediática mais centrada na idade de Biden do que na de Trump. Ainda assim, insistem que os eleitores estão concentrados noutras questões e que a idade não será um fator decisivo nas próximas eleições no próximo novembro.
"Não creio que a campanha se deva centrar em nada que não seja o registo de vitórias", disse o democrata Robert Garcia, da Califórnia, membro do conselho consultivo nacional da campanha de Biden. "Tudo o resto sobre a biografia das pessoas ou a data dos seus aniversários - isso não importa. As pessoas querem é saber o que eles fizeram e o que vão fazer."
Esta segunda-feira, o marco do aniversário de Biden deverá passar com pouca pompa. Além do perdão anual do peru, espera-se também que receba informações dos seus conselheiros de segurança nacional sobre crises globais.
A campanha não está a ignorar o aniversário de Biden, informaram os seus assessores à CNN. Um responsável do Comité Nacional Democrata disse à CNN que há planos para assinalar a ocasião com uma publicação nas redes sociais, como o partido tem feito todos os anos desde 2011, exceto nos três anos em que Biden era candidato ou potencial candidato.
O Comité de Campanha do Congresso Democrata também está a encorajar os seus apoiantes a assinarem um cartão de aniversário virtual para o presidente.
Tanto Biden como Trump tentam contornar a questão da idade
Donald Trump, que criticou abertamente Joe Biden em praticamente todos os assuntos, tem mostrado uma contenção invulgar quando se trata de atacar diretamente a idade do presidente.
É um tema sensível para ambos e Trump parece estar ciente dos perigos de se confrontar com Biden sobre a sua diferença de idades - que é de três anos e cinco meses. Numa entrevista recente, Trump evitou atacar diretamente a idade de Biden.
"Ele não é demasiado velho, é incompetente", disse Trump a Megyn Kelly numa entrevista no seu programa na Sirius XM no mês passado.
"A idade é interessante porque algumas pessoas tornam-se mais perspicazes e outras perdem isso, mas também se perde aos 40 e 50 anos", prosseguiu. "Mas não, ele não é demasiado velho. Ele é demasiado incompetente."
Por sua vez, a campanha de Biden começou a dar sinais de que também não tem receio de abordar esse tema.
"Donald Trump está bem?", foi escrito numa publicação na conta oficial da campanha de Biden na plataforma X, no início deste mês. O post incluía um vídeo com várias gafes de Trump, como confundir a cidade onde estava, chamar o antigo presidente Barack Obama de “o seu principal adversário político" e confundir o país de origem do primeiro-Ministro húngaro Viktor Orbán.
Por sua vez, Biden brinca com a sua idade.
"Não pareço, mas tenho 180 anos. Já ando por cá há muito tempo", brincou com os doadores numa recente angariação de fundos.
Mas na sua maioria, ele e outros responsáveis apresentam a sua idade como uma fonte de sabedoria e experiência.
"Tenho mais experiência do que qualquer outro presidente na história dos Estados Unidos", disse noutro evento de angariação de fundos. "Uma das coisas que vem com a idade, espero, é a sabedoria.”
John Kirby, coordenador de comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional, sugeriu que a experiência de Biden - particularmente no domínio da política externa - é uma vantagem.
"Nunca vi o mundo tão turbulento e, num momento como este, quando as coisas estão tão instáveis, incertas e, nalguns casos, assustadoras, como estão agora, queremos alguém ao comando que tenha visto o mundo, que tenha desenvolvido relações com os líderes mundiais, que tenha enfrentado problemas semelhantes a estes e que compreenda a história por detrás da situação em que nos encontramos hoje", disse Kirby à CNN.
Biden "traz para o comando da política externa uma mão firme, sabedoria e experiência", disse Kirby. "Isso é insubstituível."
Assessores da Casa Branca também apontam a capacidade do presidente de participar em viagens exigentes e reuniões de alto nível com líderes mundiais como evidência da sua resistência. Frequentemente dizem que ele deixa os seus colegas exaustos.
Kirby mencionou casos em que Biden pressionou os seus colegas para acrescentarem eventos ou compromissos a agendas já sobrecarregadas. Referiu uma chamada com o emir do Catar na sexta-feira de manhã, antes das reuniões da cimeira da APEC na Califórnia. Acrescentou ainda um encontro improvisado com jornalistas no Air Force One, após uma viagem extenuante a Telavive, Israel, no mês passado.
Problemas nas sondagens
As sondagens mostram que a questão persiste. Numa sondagem da AP-NORC realizada em agosto, 77% dos inquiridos concordaram com a avaliação de que Biden é demasiado velho para cumprir eficazmente outro mandato de quatro anos como presidente, enquanto 51% dos inquiridos disseram o mesmo de Trump.
Numa sondagem nacional da CNN realizada pela SSRS no início deste mês, apenas 25% dos eleitores registados afirmaram que Biden tem a resistência e a lucidez necessárias para servir como presidente, enquanto 53% consideraram que Trump é que tem.
E na mais recente sondagem da CNN, realizada pela Universidade de New Hampshire, 56% dos prováveis eleitores democratas no Estado do New Hampshire mencionaram a idade do presidente quando questionados sobre a sua maior preocupação em relação a Biden como candidato.
Quando os adultos de New Hampshire foram inquiridos sobre uma lista de atributos pessoais dos candidatos, Trump teve piores resultados em cada (temperamento, honestidade e integridade, posições políticas, capacidade de decisão) do que Biden - exceto em aptidão física e mental.
A maioria dos eleitores - 58% - avaliou negativamente a aptidão física e mental de Biden, em comparação com os 53% que deram a Trump. Ainda assim, estes números refletem preocupações claras dos eleitores sobre esta questão para ambos os candidatos.
Existe, naturalmente, a possibilidade de Biden enfrentar um adversário diferente nas eleições gerais. A ex-governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, que está em segundo lugar nas primárias do Partido Republicano de New Hampshire, propôs "testes obrigatórios de competência mental para políticos com mais de 75 anos".
A visão de uma geração mais jovem
A idade do presidente é frequentemente um dos primeiros tópicos a ser abordado em conversas com eleitores mais jovens - muitas vezes como tema de perguntas sobre se ele está à altura do cargo.
"Não quero dizer que apenas a sua idade é um fator de dissuasão para os jovens eleitores", considerou Kerry Singleton, finalista do Morehouse College em Atlanta. "Eu diria que é o cumprimento das promessas que foram feitas a muitos dos jovens eleitores."
Rachael Carroll, que se formou no ano passado na Clark Atlanta University, disse acreditar que Biden pertence a outra era, e que não entende as visões progressistas de muitos eleitores democratas.
"Sem ofensa, mas sim, para mim ele é um pouco velho", sublinhou Carroll, acrescentando que a idade de Trump também deveria ser motivo de igual preocupação para os americanos. "Eles não entendem o que estamos a passar agora porque viveram em épocas completamente diferentes."
Nabilah Islam Parkes, que no outono passado se tornou a mulher mais jovem eleita para o Senado do Estado da Geórgia, afirmou que não acredita que a idade seja a principal preocupação em relação a Biden. Segundo ela, as questões sobre a forma como a administração lida com o Médio Oriente - e a sua visão do mundo - são muito mais urgentes.
"Desde que sintamos que ele reflete os nossos valores", disse, "a idade não deve ser um problema".
E os grupos progressistas que trabalham para mobilizar eleitores mais jovens disseram que não acham que a idade de Biden será, em última análise, um fator significativo para que os jovens eleitores o apoiem nas urnas.
"É tão pouco importante na lista de coisas em que pensamos e que estão realmente a afetar as nossas vidas", observou Jack Lobel, secretário de imprensa nacional da Voters of Tomorrow, uma organização que se concentra nos eleitores da Geração Z. "Não é uma preocupação primordial."
Jeff Zeleny, Camila DeChalus, Kristen Holmes e Arlette Saenz contribuíram para este artigo