Os acordos de Xi Jinping e Joe Biden depois de conversas "francas, diretas e úteis"

CNN Portugal , AM com Lusa
16 nov 2023, 15:27

Presidente norte-americano e o seu homólogo chinês encontraram-se pela primeira vez no espaço de um ano

O presidente norte-americano, Joe Biden, disse ao seu homólogo chinês, Xi Jinping, que embora nem sempre estejam em concordância, valoriza as suas conversas “francas” "diretas" e "úteis".

“Nem sempre estivemos de acordo, o que não é surpresa para ninguém, mas as nossas reuniões sempre foram francas, diretas e úteis”, disse Biden no início do seu encontro com Xi, em São Francisco, destacando o facto de haver contacto direto entre as duas potências.

Naquela que foi a primeira reunião no espaço de um ano entre os dois líderes, depois daquela que mantiveram durante cerca de três horas, em novembro de 2022, em Bali, na Indonésia, à margem da cimeira do G20, Biden e Xi chegaram a consenso sobre vários temas, ainda que divirjam sobre outros (e que Biden considere Xi "ditador" após concordarem manter abertas linhas de comunicação).

Acordo para conter produção ilícita de fentanil

Joe Biden e Xi Jinping chegaram a um acordo para acabar com a produção ilícita de fentanil, um opioide que mata cerca de 200 norte-americanos por dia. Os dois presidentes chegaram a um acordo para que o Governo chinês controle a saída do território de produtos químicos que os cartéis de droga mexicanos utilizam para fabricar fentanil e vendê-lo ilegalmente nos Estados Unidos, disse aos jornalistas um responsável norte-americano no final da reunião de mais de quatro horas entre os dois líderes.

A mesma fonte não adiantou pormenores sobre o acordo, mas, antes da reunião, um funcionário norte-americano já tinha antecipado que seria alcançado um acordo sobre um “pacote completo” de medidas.

De acordo com a agência Bloomberg, este pacote inclui o compromisso da China de perseguir as empresas que produzem precursores de fentanil, ou seja, produtos químicos utilizados como matéria-prima para fabricar este opioide. Em troca, os Estados Unidos levantariam as sanções ao Instituto de Ciências Forenses do Ministério de Segurança Pública da China, sancionado durante o Governo de Donald Trump (2017-2021) por abusos contra minorias muçulmanas na região de Xinjiang, no noroeste do país, algo que Pequim nega.

Durante meses, a China questionou os pedidos de Washington para colaborar na luta contra o fentanil, ao mesmo tempo que continuavam as restrições a esse instituto forense, dedicado a investigações criminais, incluindo na área dos narcóticos. Em 2021, as overdoses de fentanil causaram 70.601 mortes nos Estados Unidos, o que significa que cerca de 193 pessoas morreram diariamente por causa desta droga, de acordo com dados dos Centros de Prevenção e Controlo de Doenças norte-americanos.

O Presidente da China transmitiu hoje “profunda solidariedade” aos Estados Unidos pelo sofrimento infligido pelo consumo e abuso de fentanil.

“Gostaria de vos dizer que a China está profundamente solidária com o povo norte-americano, especialmente com os jovens, pelo sofrimento que lhes é infligido pelo fentanil”, afirmou Xi Jinping, num jantar com empresários em São Francisco, que contou com a presença dos presidentes executivos da Tesla e Apple, Elon Musk e Tim Cook, entre outros.

Algumas comunicações militares vão ser restauradas

Os dois presidentes concordaram em restaurar algumas comunicações militares entre as duas Forças Armadas. Ambos os lados prometeram uma cooperação para aproximar os Estados Unidos e a China do regresso a conversações regulares no âmbito do que é conhecido como Acordo Consultivo Marítimo Militar, que até 2020 foi usado para melhorar a segurança aérea e marítima.

No final do encontro, Biden considerou que a reunião com Xi levou a "progressos importantes", de acordo com uma mensagem do Presidente norte-americano, divulgada na rede social X (antigo Twitter).

"Acabei de concluir um dia de reuniões com o Presidente Xi e acredito que foram algumas das discussões mais construtivas e produtivas que tivemos", disse.

"Baseámo-nos no trabalho de base estabelecido ao longo dos últimos meses de diplomacia entre os nossos países e fizemos progressos importantes", concluiu.

Xi Jinping afirmou, depois da reunião, que os dois líderes concordaram em retomar os diálogos militares de alto nível com base na equidade e no respeito, de acordo com um comunicado divulgado pela emissora estatal chinesa.

Os responsáveis militares norte-americanos têm vindo a manifestar repetidas preocupações sobre a falta de comunicações com a China, especialmente porque o número de incidentes entre os navios e aeronaves dos dois países aumentou.

Um funcionário dos EUA, que pediu para não ser identificado, disse, após o fim da reunião entre Biden e Xi, que os acordos de comunicação militar significam que o secretário de Defesa norte-americano, Lloyd Austin, poderá reunir-se com o homólogo chinês, assim que este for nomeado. 

Isto também abre a porta para acordos a outros níveis, incluindo permitir que o comandante das forças dos EUA no Pacífico, com base no Havai, se envolva em conversações com comandantes homólogos, disse o funcionário. O acordo provavelmente significará ainda compromissos operacionais entre os condutores de navios e outros a níveis muito mais baixos em cada país.

De acordo com o relatório mais recente do Pentágono sobre o poder militar da China, Pequim “negou, cancelou ou ignorou” comunicações entre militares e reuniões com o Pentágono durante grande parte do ano passado e deste ano. O relatório alertou que a falta de tais conversações “aumenta o risco de um incidente operacional ou um erro de cálculo evoluir para uma crise ou conflito”.

Os EUA consideram as relações militares com a China essenciais para evitar erros e manter em paz a região do Indo-Pacífico.

Consenso sobre o clima

Segundo a BBC, os dois países, que são os maiores emissores de carbono do mundo, chegaram a acordo sobre novas medidas para combater as alterações climáticas, mas não se comprometeram a pôr termo à utilização de combustíveis fósseis.

No entanto, Biden e XI comprometeram-se a cooperar para reduzir as emissões de metano e apoiar os esforços globais para triplicar as energias renováveis até 2030.

Conversações vão continuar

O presidente chinês apelou para a construção de "mais pontes" com os Estados Unidos e para tentar estabilizar os laços e evitar que a relação, cada vez mais competitiva, resulte num conflito aberto.

"Temos de construir mais pontes e pavimentar mais estradas para que os povos dos dois países interajam. Não devemos erguer barreiras (...)", afirmou o líder chinês, citado pela agência de notícias oficial chinesa Xinhua.

Xi considerou que Washington não devia ver a China como o principal concorrente e garantiu que o país está pronto para ser um "parceiro e amigo" dos EUA, com base nos princípios fundamentais do "respeito, coexistência pacífica e cooperação para benefício mútuo".

"Se uma das partes encarar a outra como o principal concorrente, desafio geopolítico e ameaça, isto só conduzirá a políticas desinformadas, ações mal orientadas e resultados indesejáveis", afirmou.

"A China não vai travar uma guerra fria ou quente com ninguém. Independentemente do nível de desenvolvimento que alcançar, a China nunca vai procurar a hegemonia ou a expansão e nunca vai impor a sua vontade aos outros", explicou.

O líder chinês mencionou igualmente as principais iniciativas multilaterais de Pequim, incluindo o gigantesco projeto de infraestruturas internacional Faixa e Rota e as iniciativas de Desenvolvimento Global, Segurança Global e Civilização Global, "sempre abertas a todos os países".

E.U.A.

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