Elizabeth Holmes, a burlona que enganou Kissinger, Murdoch e até mostrou uma fábrica falsa a Joe Biden

4 jan 2022, 18:51
Elizabeth Holmes

Burlona prometeu revolucionar o método de análises ao sangue, mas acabou em desgraça. Pelo meio, enganou meio mundo e especulou com dinheiro de investidores

Esta segunda-feira, uma deliberação há muito esperada foi anunciada por um tribunal californiano: a empresária Elizabeth Holmes foi considerada culpada de três crimes de fraude e um de conspiração, todas relativas à sua antiga empresa, a Theranos. Mas quem é Elizabeth Holmes? E o que produzia a Theranos?

Filha de um vice-presidente da Enron, uma gigante americana do setor energético que declarou falência após um escândalo relacionado com fraude contabilística, Holmes ingressou no curso de engenharia química na Universidade de Stanford em 2002. Foi lá que, motivada pelo seu medo de agulhas, começou a pensar e a propor aos seus professores desenvolver um método que permitisse fazer análises ao sangue com pequenas amostras.

Não demovida pelas respostas, a maior parte delas negativas, Holmes fundou a empresa Real-Time Cures, mais tarde rebatizada de Theranos, com a missão de “democratizar os cuidados de saúde” e  de desenvolver o método que revolucionaria o mundo da medicina.

Durante os anos seguintes, a burlona conseguiu convencer figuras como Henry Kissinger e George P. Shultz, ambos antigos governantes, a apoiar a empresa. No seu auge, em 2014, a Theranos chegou a valer quase oito mil milhões de dólares, tendo conseguido reunir mais de 350 milhões de euros em capitais de risco. Em 2015, o então vice-presidente Joe Biden chegou mesmo a visitar a "fábrica" (que era, afinal, falsa) da Theranos, e considerou Holmes uma pessoa "inspiradora".

A queda não demorou. Alertado por um médico, que suspeitou da eficácia do “Edison”, o dispositivo desenvolvido pela Theranos que, supostamente, conseguiria fazer as análises ao sangue com pequenas quantidades, o jornalista John Carreyrou, do Wall Street Journal, começou a investigar a empresa.

Numa série de artigos, Carreyrou denunciou a Theranos, acusando a empresa de fazer as análises em máquinas já disponíveis no mercado. No fundo, o “Edison” não existia. Todos os milhões foram investidos em pura especulação.

Após inúmeros processos e proibições dos reguladores norte-americanos, a Theranos fechou em 2018 e a fortuna de Holmes estava reduzida a zeros.

No processo, que deverá terminar em breve, tanto Holmes como o seu namorado à época e administrador operacional da Theranos, Ramesh Balwani, foram acusados de defraudar os investidores, entre eles o magnata dos média Rupert Murdoch e a família mais rica dos Estados Unidos, os Walton, em cerca de 620 milhões de euros. Holmes enfrenta, agora, a possibilidade de passar até 80 anos na prisão.

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