Joe Biden brinca afirmando que Trump foi uma 'praga horrível', no jantar anual dos correspondentes da Casa Branca
O Presidente Joe Biden atirou-se ao seu antecessor este sábado no Jantar dos Correspondentes da Casa Branca, brincando também com a imprensa, com o Partido Republicano e com a existência contínua do evento.
"Estou muito animado por estar aqui esta noite com o único grupo de americanos que tem um índice de aprovação mais baixo do que eu", disse Biden aos jornalistas nos seus comentários iniciais.
“Tivemos uma praga horrível seguida de dois anos de Covid”, afirmou. "Imaginem se o meu antecessor viesse a este jantar este ano, isso é que teria mesmo sido um verdadeiro golpe", brincou [numa referência ao “golpe” do ataque ao Capitólio, no final da presidência Trump].
Esta foi a primeira aparição de Biden desde que assumiu o cargo de Presidente neste evento, que é amplamente frequentado em Washington. Como primeiro presidente a dirigir-se aos participantes do jantar em seis anos, ele destacou o seu apoio à democracia e à imprensa livre.
O jantar de sábado à noite, que aconteceu no hotel Washington Hilton e recebeu mais de 2.500 convidados, voltou em total força depois de um hiato de dois anos devido à pandemia. O programa do evento foi encabeçado pelo apresentador do "Daily Show" Trevor Noah e contou com comentários cómicos de Biden. A Associação de Correspondentes da Casa Branca, que organiza este evento anual de “black tie”, homenageou vários jornalistas pelas suas contribuições.
Biden também gozou com a sua idade, dizendo que se lembra de quando o jantar anual começou, com o presidente Calvin Coolidge em 1924. "Eu tinha acabado de ser eleito para o Senado dos Estados Unidos", brincou.
O presidente disse que, quando foi eleito, Noah chamou Biden no seu programa de "o novo pai da América", o que fez Biden agora brincar: "Deixem-me dizer uma coisa, estou lisonjeado com o facto de alguém me chamar de ‘novo' qualquer coisa".
Ansiedades Covid
Na gala, foram necessários testes negativos à covid-19 para entrar e as máscaras eram de uso voluntário – assim como acontece na maior parte de Washington. Mas havia preocupações com a possibilidade de o evento de sábado à noite levar a casos de covid entre os convivas, depois de dezenas de participantes – incluindo alguns funcionários do gabinete de Biden – terem participado numa festa diferente em Washington, o Gridiron Dinner, e testarem positivo semanas atrás.
Os casos de covid em Washington agora estão estáveis, após o declínio da onda da variante omicron, mas Anthony Fauci, conselheiro médico principal do presidente, decidiu afastar-se do jantar de sábado depois de uma avaliação de risco pessoal. "Em geral, o risco é baixo, mas fiz uma avaliação pessoal. Tenho 81 anos e, se me infetar, tenho um risco muito maior", disse Fauci no início desta semana.
O evento de sábado ocorreu também depois de dois altos funcionários de Biden testarem recentemente positivo ao covid-19. A vice-presidente, Kamala Harris, testou positivo na terça-feira e permanece assintomática. E a principal autoridade de comunicação da Casa Branca, Kate Bedingfield, testou positivo na sexta-feira e está com sintomas leves. O presidente não foi considerado um contato próximo em nenhum dos casos. Mas a decisão de Biden de comparecer ao jantar, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, no início desta semana, foi "uma avaliação de risco e uma decisão que ele tomou de caráter pessoal". E Biden pretendia ir, disse ela, expressar o seu apoio à imprensa livre. A primeira-dama, Jill Biden, também compareceu. A Casa Branca disse antes do evento que o presidente tomaria precauções extra para evitar contágios de covid-19, incluindo saltar a parte das refeições do programa. Biden estava sentado no palco, longe da sala de jantar lotada, e não se esperava que participasse em receções, antes ou depois.
Durante o discurso, Biden também zombou da Fox News e anotou os requisitos relacionados com o covid para participar do evento.
"Se você está em casa a assistir a isto e está a perguntar-se como fazê-lo, basta entrar em contato com o seu repórter favorito da Fox News. Eles estão todos aqui. Vacinados e com doses de reforço. Todos eles", afirmou sob aplausos retumbantes.
Ajustando o tom para a número cómico de Biden
O presidente teve uma chance rara para mostrar as suas capacidades cómicas brilharem durante os comentários no jantar, mas a oportunidade nem um momento difícil para o país rir.
A recuperação económica depois da covid-19 tropeçou no primeiro trimestre de 2022, com números desta semana a revelar que o Produto Interno Bruto caiu a uma taxa anual de 1,4% nos primeiros três meses do ano - marcando o pior trimestre para a economia americana desde a primavera de 2020. A Rússia continua em guerra com a Ucrânia. E à medida que o seu partido entra numa fase de meio de mandato, o índice de aprovação de Biden estagnou - com uma recente média de sondagem da CNN Poll of Polls sobre Biden na presidência a revelar que 41% dos americanos aprovam o seu trabalho, com 54% a desaprovar.
No sábado, Biden reconheceu as dificuldades que teve em transmitir a sua agenda política, ao mesmo tempo em que tocou nas suas grandes promessas: "Cheguei ao cargo com uma agenda ambiciosa e esperava que ela enfrentasse forte oposição, no Senado. Só esperava que fosse dos republicanos."
O discurso ocorreu também num momento em que o ambiente político americano permanece extremamente polarizado, sem dúvida mais dividido do que em 2016 – a última vez que um presidente fez um discurso no jantar.
Embora seja possível um impasse partidário, Biden disse estar confiante de que pode resolver o problema num segundo mandato. "Podemos acabar com mais impasses partidários", afirmou. "Mas estou confiante de que podemos resolver isto durante os meus seis anos restantes na presidência."
Sobre o uso pelos republicanos da frase "Vamos Brandon" [uma espécie de código do partido para ‘Fuck Joe Biden], o presidente ironizou: "Os republicanos parecem apoiar um tipo. Um tipo chamado Brandon. Ele está a ter um ano muito bom e estou feliz por ele".
O discurso de Biden estava em preparação há algumas semanas, disseram autoridades, e não foi concluído na sexta-feira. Mas, no início do processo de redação, o presidente disse à sua equipa que imaginava um discurso que fosse além de apenas uma amálgama de frases curtas, piadas e piadas.
A Casa Branca obteve uma longa lista de piadas de toda a sua equipa para criar o número de sábado à noite. Autoridades disseram que o chefe de gabinete, Ron Klain, membros da equipa de comunicação e outros da Casa Branca enviaram piadas aos redatores dos discursos de Biden. Rob Flaherty, diretor de estratégia digital, e Dan Cluchey, redator sénior de discursos - ambos considerados entre os funcionários mais engraçados de Biden - enviaram material.
Esperava-se que Biden fizesse alguns ensaios para ter uma ideia do discurso e do tempo, disse uma pessoa familiarizada com o assunto. Biden usou a aparição para afirmar em voz alta a sua crença numa imprensa livre, depois de o seu antecessor - que saltou o jantar anual durante o seu mandato - rotular os jornalistas como "inimigos do povo".
"Em casa, o veneno está a correr pela nossa democracia", disse, mas "o que está claro... Vocês, a imprensa livre, importam mais do que alguma vez importaram no último século ".
Enquanto entregava o microfone a Noah, Biden disse-lhe: "Agora podes fritar o presidente dos Estados Unidos. E, ao contrário de em Moscovo, não vais para a prisão".
