Redes sociais: Tudo começou “com um vídeo com som dos grilos num aeroporto vazio”. João Zoio conta como se transformou num fenómeno de conteúdos sobre imobiliário, dinheiro e finanças pessoais

CNN Portugal , CNC
17 set 2023, 12:00
João Zoio (Instagram/João Zoio)

Tem 22 anos e milhares de seguidores. Numa entrevista à CNN Portugal fala dos bastidores dos seus videos, explica como ganha dinheiro e deixa sugestões a quem quer começar a postar conteúdos

João Zoio, um jovem de 22 anos, é licenciado em Gestão Hoteleira, tem um pós-graduação em investimento imobiliário e utiliza partilha a informação nas redes sociais sobre finanças pessoais, dinheiro e imobiliário. Tem mais de 32 mil seguidores no Instagram, cerca de 100 mil seguidores no TikTok e 105 mil seguidores no Youtube.

Como surgiu a ideia de começar a postar conteúdo sobre finanças pessoais, dinheiro e imobiliário?
A ideia surge, essencialmente, porque comecei a trabalhar bastante cedo estava completamente alheio a todas as responsabilidades que daí advinham. E não havia nada na internet, pelo menos aplicado à realidade portuguesa, que me ajudasse a perceber melhor o que é que eu tinha de fazer, quais eram as minhas responsabilidades e o que é que eu devia fazer com o dinheiro. Nessa altura, fiquei bastante desmotivado porque não tinha ajuda. Como tal, decidi partilhar nas redes sociais o conhecimento que fui adquirindo.

Porque é que se envolveu no imobiliário? 
Foi na mediação imobiliária que encontrei a minha vocação. Depois, chegou o período da pandemia e durante essa altura a atividade de mediação imobiliária ficou bastante limitada e a carga de trabalho que tinha diminuiu muito. 

Como é que começou a publicar conteúdo no TikTok?
Ainda durante a pandemia, estava a passar férias com um amigo e ele estava agarradíssimo ao telemóvel. Eu não percebia bem porquê, mas depois vi que era por causa de uma nova aplicação, o TikTok. Ao vê-lo tão entretido fiquei curioso e acabei por instalar também a aplicação. 
Durante essas férias, aproveitei para fazer uma experiência. Naquela altura, os aeroportos já estavam bastante vazios, então, gravei um vídeo do aeroporto e publiquei, para perceber como é que funcionava, porque já gostava de fazer vídeos informativos no Instagram, mas não chegavam a ninguém.

E como foi publicar esse primeiro vídeo no TikTok? 
Esse primeiro vídeo que publiquei não acrescentava valor absolutamente nenhum, só tinha o som dos grilos no aeroporto vazio, mas teve cerca de 10 mil visualizações. Pensei: “Uau! Isto pode ser engraçado explorar”. 

E a partir daí apostou nessa rede?
Basicamente, percebi que o TikTok tinha a oportunidade e capacidade de descoberta de conteúdo por parte dos utilizadores. Mas foi quando voltei das férias, quando a nossa equipa de mediação estava a acompanhar uns clientes estrangeiros e a fazer visitas a casas que a maior parte das pessoas não têm a oportunidade de experienciar, que publiquei o primeiro vídeo sobre imobiliário.

Qual era o conteúdo desse vídeo?
Nesse vídeo, mostrei uma dessas casas e tive 300 mil visualizações. Depois fiz outro e teve 250 mil visualizações. Percebi que havia mesmo potencial nessa plataforma e decidi começar a partilhar algum conhecimento que fui adquirindo ao longo do tempo. Quis começar a partilhar informação de forma gratuita e disponibilizá-la na internet para que os outros não cometessem os mesmos disparates que eu. 

E depois como se deu a evolução?  
Comecei a fazer vídeos assim bastante curtos, a explicar conceitos básicos de gestão de finanças pessoais, de poupança, de trabalho para menores de idade e por aí fora. E as pessoas foram pedindo mais desse conteúdo e, então, estive um ano a criar conteúdo no TikTok. No ano a seguir, em março de 2021, publiquei o meu primeiro vídeo no YouTube sobre como ganhei os meus primeiros mil euros aos 16 anos e a explorar formas sobre como é que menores de 18 anos podem fazer dinheiro. 

Portanto, o TikTok vem antes do YouTube. Há aqui uma espécie de migração de plataformas? 
Não propriamente uma migração, mas quase que uma transferência de seguidores do Tiktok para o Youtube, porque essa audiência base foi a audiência necessária para o YouTube aprender que são essas as pessoas que gostam do meu conteúdo. Então depois o algoritmo do Youtube espalhou-o por pessoas com padrões de consumo semelhantes e é assim que funciona. 
O YouTube precisa de um kickstart e esse kickstart veio, para mim, do TikTok. Uma pequena audiência de mil pessoas, duas mil pessoas, mas que foi o suficiente para o YouTube perceber: “Ah, ok, é isto, então vamos lá espalhar a mensagem.”

O género de conteúdos que põe nas duas plataformas é exatamente o mesmo, mas construído de formas diferentes? 
O conteúdo é adaptado. No Youtube é mais aprofundado, já no TikTok, é mais superficial. No YouTube, posso explorar a fundo os conceitos, posso focar-me na qualidade da produção, na qualidade da estrutura do texto.
Mas em qualquer uma das redes, tenho sempre como prioridade o facto de toda a informação estar factualmente correta. Ou seja, de a mensagem ser entregue da forma mais bem estruturada e mais concisa possível e da qualidade de produção ser a melhor possível mediante as ferramentas que tenho.

Os vídeos e as publicações que faz nas redes sociais têm rentabilidade financeira? Sei que o TikTok não permite a remuneração, mas, por exemplo no YouTube? 
Sim, é uma componente muito relevante da minha receita atual.
Basicamente, o trabalho que faço nas redes sociais tem, no fundo, como modelo de negócio a publicidade. Mas faço vídeos sobre um determinado tópico e esse tópico há de ter uma aplicação prática. Os meus patrocinadores são produtos ou serviços que estão relacionados à aplicação prática do que abordo nos vídeos e permitem às pessoas aplicar aquela teoria que acabei de explicar, mas sem qualquer tipo de viés a nível editorial.

Esses patrocinadores têm impacto nos temas que decide abordar? 
 Não têm qualquer tipo de impacto naquela que é a direção criativa e a direção de informação do próprio conteúdo. Apenas são associados enquanto mais valias para a audiência. Para que as pessoas possam aplicar o seu novo conhecimento na prática. 

Investiga sempre os temas que abordas antes de publicares conteúdo?
Sim, é preciso fazer sempre uma investigação antes de publicar qualquer coisa. Era impossível eu ser especialista em todos os tópicos que me proponho a abordar no canal. A minha especialização é, sem dúvida, o imobiliário. Tudo o que tiver a ver com imobiliário, a redação passa necessariamente por mim. 

O projeto cresceu, entretanto, e conta com várias pessoas. Passa sempre tudo por ti?
Na verdade, acabo por terceirizar várias fases do processo a especialistas e a conhecedores da área. A estrutura já é grande o suficiente para que possamos ter redatores primeiro, que são especialistas nas suas respetivas áreas. 
Depois esta primeira peça, este primeiro draft da peça, vai para um especialista para a revisão factual de tudo o que é dito. A seguir, passa para um jornalista para alinhar a transmissão da mensagem da melhor forma e para conciliar com o meu estilo de comunicação. Só depois é que passa finalmente por mim, para um último toque final. Finalmente, é gravado e depois passa para o pós-produção, que é feito por uma equipa, a nível de edição e de design das thumbnails.

Uma estrutura bem diferente daquela com que começou.
É uma estrutura já mais profissionalizada do que quando comecei, que foi literalmente no meu quarto a ligar uma câmara e a falar.

Acredita que o seu conteúdo tem um impacto e afeta as decisões da sua audiência?
O objetivo da minha criação de conteúdo é informar e entreter. Explico sempre à minha audiência que tudo aquilo que digo pode ser tomado como uma fonte válida de informação. Mas, como qualquer outro tipo de conteúdo na internet, peço sempre que não interpretem nada daquilo que eu digo como uma verdade absoluta, porque tudo depois variará dependendo dos casos particulares.

Tem objetivos de número de pessoas a comentar para cada conteúdo?
Não, não tenho nenhum objetivo.  O meu objetivo é criar os melhores vídeos sobre imobiliário, dinheiro e finanças pessoais em português.

Alguma vez pensou que teria este tipo de visibilidade? .
Não. E fico feliz que esteja a ter este alcance, porque os graus de literacia financeira em Portugal são muito baixos e gosto de sentir que posso contribuir para algo melhor no futuro. 

A sua rotina mudou muito, desde que se dedicou às redes sociais?
Não, sempre fui um trabalhador independente. Não tenho a história de sair do meu trabalho corporativo para vir fazer isto. Sempre fiz o que quis, quando quis, da forma que quis. Isto é uma extensão disso. Claro que à medida que o canal vai tendo mais impacto, à medida que conseguimos atrair mais patrocinadores que pagam mais, conseguimos investir ainda mais na qualidade dos vídeos e na qualidade da estrutura. No início, não dedicava nem um décimo do tempo que dedico atualmente, mas gosto de ver para onde estamos a progredir. 

Costuma ser abordado rua devido aquilo que faz?
Agora sou quase todos os dias. 

E como é que tem sido essa experiência? 
Incrível, porque dá para perceber quem é a audiência. Dá para ter uma perceção real de quem está do outro lado do ecrã, porque no ecrã são só números. Por exemplo, ainda agora fui a São Miguel, nos Açores, e o senhor da estação de serviço reconheceu-me. 
É incrível sentir que há pessoas reais por trás destes números, que essas pessoas reais reconhecem efetivamente valor naquilo que eu faço e naquela que é a informação e o conteúdo que consomem. Valorizam a minha postura nesta comunicação e sentem mesmo que absorveram algo de valor comigo, de forma totalmente gratuita e que estão gratos por isso. E digo gratos porque são maioritariamente homens. A minha audiência é cerca de 95% homens.

Recebe comentários negativos?
Não tenho muita experiência com comentários negativos porque aquilo que digo é sempre ao nível dos factos. Qualquer tipo de comentário negativo tem necessariamente de incluir algo de construtivo e, para incluir algo de construtivo, tem de ter um conhecimento superior ao meu ou ao dos especialistas que ajudam na criação do conteúdo para o fazer. Quando o fazem, fazem-no construtivamente, portanto, não é negativo. É mais do género: “olha, se calhar tens aqui um pequeno detalhe que te escapou” e, nesse caso, acabo sempre por deixar uma nota no primeiro comentário ou na descrição, se existir esse tipo de falha. 
Quanto ao ódio gratuito, não recebo porque não me ponho a jeito.

Sempre soube aquilo que queria fazer a nível profissional? 
Não, mas tive muita sorte por muito cedo ter experimentado um posto de trabalho de vendas em que a minha remuneração era dependente do valor que eu acrescentava a uma determinada pessoa ou a determinada empresa. 
Essa primeira experiência de trabalho, a vender produtos de telecomunicações, foi crucial para depois definir o meu pensamento. 
Lembro-me de, mais tarde, estar a trabalhar na Ryanair e ver os outros comissários de bordo que não tinham um décimo da atenção que eu tinha no atendimento ao cliente. Não se esforçavam nem metade para atingir os objetivos de vendas que na Ryanair existem, tanto a nível de raspadinhas, como de vendas de refeições, vendas de cosméticos e tudo isso. Não se esforçavam e, depois, recebiam exatamente a mesma coisa que eu no final do mês e estavam ali parados há oito anos a fazer a mesma coisa. Eu já estava ali há seis meses e pensava: “Realmente tenho de arranjar alguma coisa que me permita ser remunerado de forma meritocrática, que me recompense pelo que estou disposto a fazer”. Foi esse raciocínio que acabou por depois me levar para uma carreira de vendas, onde fui percebendo onde é que podia acrescentar mais valor e qual a área que me ia remunerar melhor e acabei por encontrar a mediação imobiliária. 

Existe alguma pessoa que admire na área do imobiliário ou das finanças pessoais? Ou alguém com quem tenhas aprendido muito? 
Sim. No imobiliário, sem dúvida. São duas pessoas. O Nuno Gomes, que é o broker da Remax Prestige e o Filipe Pereira, que foi quem no início acreditou em mim e me convidou para ser seu sócio numa equipa de mediação dentro da Remax Prestige. 

O que lê para se manter informado sobre imobiliário, finanças pessoais e gestão de dinheiros? 
Eu leio um livro por semana sobre todos os tópicos e mais alguns, mas, sobretudo, dinheiro, gestão de finanças pessoais, otimização de tempo, política, relações internacionais, etc.
O que estou a ler agora é o “Prisoners of Geography”, do Tim Marshall. Quanto a notícias, acompanho mais através do Twitter, recolhendo informação através de diversas fontes. 

Que livro sobre finanças pessoais recomenda? 
O “Psychology of Money”, do Morgan House. É incrível e toda a gente devia ler.

E que conselhos dá para quem quiser começar a postar esse tipo de conteúdo nas redes sociais? 
O meu conselho é primeiro fazer e depois falar sobre isso. A credibilidade e o conhecimento de causa têm de ser suficientes, porque é essa experiência prática, essa experiência real, que as pessoas e a audiência valorizam.

Relacionados

Imobiliário

Mais Imobiliário

Patrocinados