Chegou o fim do mês e não sabe onde foi parar o dinheiro? Saiba como gerir as suas finanças pessoais

18 ago 2023, 21:40
Finanças pessoais (Pexels)

Desde o dia em que o dinheiro chega aos bolsos das pessoas até ao fim do mês, são pagas as despesas da habitação, as saídas com amigos e as subscrições a serviços que nem são lembrados. No final das contas, há quem não saiba onde foi parar o dinheiro. Se é uma destas pessoas e quer mudar essa realidade, planear as férias dos seus sonhos e juntar dinheiro para pedir um crédito para a habitação, este artigo é para si

Portugal é um dos países da União Europeia onde as pessoas têm menos conhecimentos acerca de finanças, ficando à frente apenas da Roménia, de acordo com os dados da Eurostat. Por esse motivo, a CNN Portugal foi falar com João Morais Barbosa, diretor da consultora Reorganiza, que explicou, detalhadamente, quais são os passos a dar para começar a gerir, eficazmente, as suas finanças pessoais. 

A resposta está na criação de um "orçamento" - trata-se de um plano financeiro estratégico onde são definidos os montantes a poupar para atingir objetivos económicos, através da previsão das despesas e receitas futuras e da definição de cortes nas despesas. 

Primeira etapa: calcule o seu rendimento líquido

Preparar um orçamento implica começar primeiro por “perceber quanto recebemos”, conta o especialista. Para tal, é preciso saber o valor do rendimento fixo e o valor aproximado do rendimento variável. Por valor fixo entende-se um salário-base regular, e subsídios de alimentação e transporte. Já o rendimento variável é aquele que advém da prestação de serviços como freelancer, por exemplo. 

De acordo com o gestor, deve tomar atenção ao rendimento variável, visto que a sua natureza instável pode significar que, no final do mês, a sua totalidade não chegue à conta bancária.

Segunda etapa: defina os objetivos 

Definir quais são os destinos dos montantes a poupar constitui uma importante fonte de motivação para manter o foco em cumprir o seu plano financeiro, aponta o especialista. 

As férias de sonho, a compra de um carro, a mudança de casa, são alguns exemplos de metas que pode estabelecer. 

João Barbosa realça a importância de dois objetivos que são muitas vezes negligenciados pelos portugueses, não obstante a sua importância, nomeadamente o "cabaz de reforma" e "fundo de emergência".

O fundo de emergência é o “valor que deve estar de parte para suprimir necessidades”. O especialista aconselha que o valor poupado corresponda "entre quatro a seis meses do valor das despesas mensais”. Mas se for trabalhador independente, o valor guardado "deve ser maior”, dada ao carácter incerto do rendimento, justifica João Morais Barbosa.

O fundo serve como uma fonte de segurança financeira caso surja uma despesa inesperada, como o furo do pneu de um carro. Nesse caso, se tiver dinheiro no fundo de emergência, poderá usá-lo para cobrir esse gasto e, assim, não tem de abdicar de produtos e serviços essenciais para o seu dia a dia. 

Outra meta de poupança importante é o “cabaz de reforma”, que deve começar a ser poupado desde cedo, para que durante a reforma não tenha de reduzir o nível de vida. O especialista lamenta que este não seja um objetivo que esteja "na mira das pessoas” - o que “é uma pena”, confessa. 

Terceira etapa: entenda onde gasta o dinheiro

Uma vez contabilizado o rendimento e definidos os objetivos, chega a hora de “perceber quanto recebemos” para “planear o mês que vem”, afirma o especialista.

Nesta fase, é importante “definir um dia por mês” para analisar onde foi gasto o dinheiro, podendo recorrer ao extrato bancário. Com essa informação, comece por entender quais são os gastos prioritários. Enquanto as despesas da habitação são prioritárias, comer refeições em restaurantes já não são. Além disso, também é importante perceber quais são as despesas fixas e variáveis. A renda de uma casa é uma despesa fixa, mas o crédito à habitação pode ser variável se negociar os termos com o banco, informa o especialista. 

É nesta etapa que as pessoas “ganham consciência dos verdadeiros hábitos de consumo” e se apercebem que gastam dinheiro em coisas que “não tinham noção, como em roupa e almoços fora demasiadas vezes” e, muitas vezes, até continuam a pagar por serviços que nem utilizam, seja o ginásio ou um serviço de streaming.

Para manter o registos do seu orçamento, pode usar o meio que for mais confortável, desde folhas de Excel ao tradicional papel e caneta.

Mas "não cria muito valor apontar todos os cêntimos e euros” gastos diariamente, ressalva o gestor. Aliás, consciencializar-se das suas despesas e fazer os ajustes necessários devem ser feitos uma vez, e depois repetir o processo daqui a seis meses, para tornar o exercício mais interessante, alerta João Morais Barbosa. 

Quarta etapa: Faça os ajustes necessários

“As famílias que conseguem poupar, consideram a poupança como sendo uma despesa muitíssimo prioritária”, salienta o gestor. 

Para incorporar o montante a ser poupado como uma despesa fixa, o especialista aconselha programar uma “transferência automática de uma parte do que é o nosso rendimento para uma conta poupança”. 

A transferência deve ter lugar no início do mês, para “poupar enquanto o dinheiro existe” pois, no final do mês, "pode não sobrar dinheiro para poupar", alerta Barbosa. 

Uma vez anotadas as despesas, analise-as e verifique onde é possível cortar. Caso se aplique, pode negociar com o banco o seu crédito à habitação. Também pode mudar de operadora de telecomunicações para uma mais económica. Até pode mudar de conta bancária, pois existem bancos que não tem que pagar taxas de manutenção da conta. E caso queira fazer um deposito a prazo faça uma pesquisa sobre as opções mais rentáveis. “É possível com alguma pesquisa reduzir os custos e rentabilizar as nossas poupanças", explica João Morais Barbosa. 

Se definir como objetivo ir de férias por cada euro poupado nos operadores de telecomunicações, por exemplo, pode ser um bom exercício para manter o foco, senão acaba por ser um exercício chato e acaba por desmoralizar”, confessa o gestor. 

É possível que no primeiro mês, as diferenças se façam sentir. Os almoços num restaurante durante a pausa de trabalho vão ser mais reduzidos e deixam alguma nostalgia. Porém, depois “ajustamos os nossos hábitos de consumo e conseguimos a viver com o efeito da escassez criado”, explica o especialista. A longo prazo, é possível poupar, manter as finanças pessoais organizadas e manter um estilo de vida confortável.  
 

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