opinião
Economista e Professor Universitário

O preço do petróleo e o descongelamento da taxa de carbono. As famílias portuguesas precisam da misericórdia do Estado

29 ago 2023, 13:49

Em Portugal, os preços dos combustíveis sobem há várias semanas consecutivas. Encontram-se a cerca de 20 cêntimos dos máximos atingidos em junho do ano passado. Considerando a conjuntura socioeconómica nacional, este é mais um embate nas já muito amolgadas famílias portuguesas.

Ainda esta semana, a propósito dos escandalosos preços do arrendamento em Portugal, a CNN Internacional, citando a agência de notícias Reuters, caracteriza Portugal assim: “O país é um dos mais pobres da Europa Ocidental, com um salário mínimo de 760 euros por mês e mais de metade dos trabalhadores a ganhar menos de 1.000 euros por mês.” A imagem é confrangedora.

O salário médio líquido nacional está fixado nos 1.044 euros por mês. O quadro é angustiante. Será mesmo possível viver com este nível de rendimento mensal? 

Os juros diretores do Banco Central Europeu estão no patamar mais alto desde que o Euro é moeda circulante. Segundo a OCDE, 70% dos créditos à habitação em Portugal estão indexados a taxas de juro variáveis. As taxas Euribor dizimam os parcos orçamentos mensais das famílias portuguesas. O problema é socialmente agonizante.

Nesta fase, a OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados) tem a vigorar uma redução de 3.6 milhões de barris diários na produção de petróleo. Adicionalmente, a Arábia Saudita decidiu aumentar o corte em mais um milhão, com efeitos a partir de julho. 

Entretanto, foi anunciado que a diminuição na produção será estendida a todo o ano de 2024. O objetivo dos países exportadores de petróleo é contrariar a queda dos preços da matéria-prima prima nos mercados. Para o efeito, reduzem a quantidade disponível do recurso à escala global. Consequentemente, o preço sobe e as petrolíferas aumentam as suas receitas.

Paralelamente, a Agência Internacional de Energia refere que a procura global de petróleo aumentará em 2.2 milhões de barris por dia durante este ano. A China representará entre 60 e 70% deste acréscimo na procura mundial. 

O petróleo é um dos grandes drivers da inflação. Por exemplo, é muito provável que as posições da OPEP+ e da Arábia Saudita potenciem o efeito inflacionista global da suspensão do Acordo do Mar Negro. Esta conjuntura internacional agravará, decerto, as condições de vida em Portugal.

Considerando o atual quadro externo, este é o pior momento para o Estado levar a cabo o descongelamento gradual da Taxa de Carbono. A mesma lógica é aplicada às medidas de redução do ISP. A conjuntura socioeconómica interna impõe frugalidade máxima aos portugueses. Para a maioria das famílias e empresas, a utilização de combustível fóssil cinge-se já às quantidades estritamente indispensáveis. Portanto, os objetivos ambientais que orientaram a decisão do Governo português podem ser contemporizados

Pede-se misericórdia ao Estado português.

Opinião

Mais Opinião

Patrocinados