Num dia marcado pelo teste positivo à covid-19 de João Ferreira, a campanha comunista quis dar voz aos empresários da restauração e aos agricultores, que exigem mais medidas para combater as mazelas deixadas pela pandemia
João Ferreira testou positivo à covid-19, mas mais ninguém desmobilizou, esta terça-feira, na campanha da CDU. Na comitiva, fizeram-se testes e seguiu-se viagem. Não há, até ao momento, informações de isolamentos ou infeções relacionadas com o dirigente socialista. Foi um dia a três velocidades, dois substitutos - João Oliveira, que já revezava com Jerónimo de Sousa até alta médica, e agora também com Bernardino Soares -, e com muita estrada pela frente. Com a covid-19 a mudar protagonistas, não se mudaram planos, e a CDU cumpriu a agenda prevista, que juntava restauração e agricultores do mesmo lado da força - setores muito afetados pela pandemia.
Mário Cotrim é empresário da restauração e apenas partilha o apelido com o presidente da Iniciativa Liberal. Não se revê nos ideais, pouco conhece e pouco interesse tem em conhecer mais. Natural de Ferreira do Zêzere, herdou do pai o restaurante "O Cotrim", em São João da Talha, onde, além das refeições do dia que nunca deixou de servir em tempos de pandemia - "o take away foi uma benção" -, o empresário tenta agora vender a sorte das cautelas e dos jogos da Santa Casa da Misericórdia a quem ali entra para uma bica. Na montra do estabelecimento são vários os boletins premiados, mas a sorte, para Mário Cotrim, é mais uma coisa de fé. "Sou um homem de fé e tenho muita esperança que isto vai melhorar", confessa.
"Mandaram-nos fechar a uma sexta-feira e ninguém sabia o que fazer. Foi quando decidimos - eu e a minha mulher - começar o take away." Mário Cotrim não é homem de baixar os braços. Atrás do balcão, leva várias vezes a mão ao peito, a reforçar, com um gesto, a verdade do que vai dizendo aos jornalistas.
Os primeiros meses da pandemia foram duros e o empresário de São João da Talha chegou a pensar em transformar o restaurante num estabelecimento de refeições para fora. Mas hoje as mesas continuam postas, apesar das encomendas de comida feita serem a maior fatia da faturação.
"No take away só consegui ganhar para os meus empregados, eu não ganhava nada, mas já ficava feliz porque eu bebia daqui e comia e pagava os ordenados deles. E não despedimos ninguém. Para mim, é muito bom porque são pessoas que dependem do restaurante".
Com um negócio com 11 empregados, Mário recorreu aos apoios, mas diz que, ainda assim, faltaram apoios para aguentar a situação causada pela pandemia. "Podiam-nos ter dado a ajuda na quebra de receitas. (...) Agora, a única coisa que nos podiam ajudar era na redução do IVA e no preço eletricidade, que está muito cara. Na hotelaria, o que pesa mais é a taxa do IVA e a eletricidade. Para nós, tanto faz darmos 10 refeições como 20 que pagamos o mesmo de eletricidade. Devia de haver alguma coisa. Outra coisa são as telecomunicações: nós pagamos uma pipa de massa para ter televisão e acho que é muito caro para a hotelaria. Podiam fazer um preço mais simpático. Tudo somado ao fim do mês...".
Contas, contas e mais contas
Outras dificuldades apontadas por Mário Cotrim são os aumentos do combustivel que, "só no ano passado, foram mais 1.800/1.900 só em combustíveis sem aumentar refeições". Aumenta o combustível, aumenta a matéria prima, aumentam os transportes. Queixas comuns a Mário Cotrim e a Silvino Tomás, agricultor da zona de Aveiro e que "há muitos anos" conheceu o único partido que lhe resolveu o problema da arte xávega.
Em conversa com a CNN Portugal no Troviscal, em Oliveira do Bairro, em Aveiro, o agricultor Silvino Tomás lamenta que "os combustíveis estejam ao preço que estão" e não só.
"Os adubos, na safra passada, ali até chegar a outubro/novembro, eu paguei adubo a 360 euros a palete. Hoje, essa mesma palete custa 1.200. Onde é que a gente vai parar?"
Entre tratores e caixas de batatas, Silvino Tomás diz que falta ainda mão de obra porque os rendimentos são insuficientes para pagar a quem trabalha nesta arte que sempre alimentou o país. No ar cheira a terra seca e adubo, à lama ali à volta e a idade média dos agricultores que ali veio ver a comitiva comunista ronda os 70 e muitos.
As preocupações são partilhadas por João Alves, dirigente da União de Agricultores e Baldios do Distrito de Aveiro, que diz que em Portugal se produz menos porque cá "brincam com o agricultor em nível de preços".
"Pagam tarde e a más horas. Sou agricultor de minifúndio e tenho o privilégio de escoar os meus produtos no mercado em Aveiro", desabafa, acrescentando que a pequena e média agricultura devia ter valorizado "o estatuto da agricultura familiar".
Simpatizante do Partido Comunista, o dirigente deixou a lavoura para ali se dirigir, ao volante da carrinha vermelha com o jornal do Avante no tablier, porque "é o único partido" que defende os agricultores "a sério".
"Andei a semear batatas e estou aqui, porque sei que são realmente os únicos [PCP e PEV] que depois nos ajudam nas políticas. Se assim não concordasse com eles, não estava aqui."