A caravana da CDU segue estrada fora sem desmobilizar (mas com testes) apesar da covid-19 de João Ferreira

18 jan 2022, 21:35

Num dia marcado pelo teste positivo à covid-19 de João Ferreira, a campanha comunista quis dar voz aos empresários da restauração e aos agricultores, que exigem mais medidas para combater as mazelas deixadas pela pandemia

João Ferreira testou positivo à covid-19, mas mais ninguém desmobilizou, esta terça-feira, na campanha da CDU. Na comitiva, fizeram-se testes e seguiu-se viagem. Não há, até ao momento, informações de isolamentos ou infeções relacionadas com o dirigente socialista. Foi um dia a três velocidades, dois substitutos - João Oliveira, que já revezava com Jerónimo de Sousa até alta médica, e agora também com Bernardino Soares -, e com muita estrada pela frente. Com a covid-19 a mudar protagonistas, não se mudaram planos, e a CDU cumpriu a agenda prevista, que juntava restauração e agricultores do mesmo lado da força - setores muito afetados pela pandemia.

Mário Cotrim é empresário da restauração e apenas partilha o apelido com o presidente da Iniciativa Liberal. Não se revê nos ideais, pouco conhece e pouco interesse tem em conhecer mais. Natural de Ferreira do Zêzere, herdou do pai o restaurante "O Cotrim", em São João da Talha, onde, além das refeições do dia que nunca deixou de servir em tempos de pandemia - "o take away foi uma benção" -, o empresário tenta agora vender a sorte das cautelas e dos jogos da Santa Casa da Misericórdia a quem ali entra para uma bica. Na montra do estabelecimento são vários os boletins premiados, mas a sorte, para Mário Cotrim, é mais uma coisa de fé. "Sou um homem de fé e tenho muita esperança que isto vai melhorar", confessa.

"Mandaram-nos fechar a uma sexta-feira e ninguém sabia o que fazer. Foi quando decidimos - eu e a minha mulher - começar o take away." Mário Cotrim não é homem de baixar os braços. Atrás do balcão, leva várias vezes a mão ao peito, a reforçar, com um gesto, a verdade do que vai dizendo aos jornalistas.

Os primeiros meses da pandemia foram duros e o empresário de São João da Talha chegou a pensar em transformar o restaurante num estabelecimento de refeições para fora. Mas hoje as mesas continuam postas, apesar das encomendas de comida feita serem a maior fatia da faturação.

"No take away só consegui ganhar para os meus empregados, eu não ganhava nada, mas já ficava feliz porque eu bebia daqui e comia e pagava os ordenados deles. E não despedimos ninguém. Para mim, é muito bom porque são pessoas que dependem do restaurante".

Mário Cotrim cumprimenta Bernardino Soares, que substituiu João Ferreira na ação de campanha em Loures

Com um negócio com 11 empregados, Mário recorreu aos apoios, mas diz que, ainda assim, faltaram apoios para aguentar a situação causada pela pandemia. "Podiam-nos ter dado a ajuda na quebra de receitas. (...) Agora, a única coisa que nos podiam ajudar era na redução do IVA e no preço eletricidade, que está muito cara. Na hotelaria, o que pesa mais é a taxa do IVA e a eletricidade. Para nós, tanto faz darmos 10 refeições como 20 que pagamos o mesmo de eletricidade. Devia de haver alguma coisa. Outra coisa são as telecomunicações: nós pagamos uma pipa de massa para ter televisão e acho que é muito caro para a hotelaria. Podiam fazer um preço mais simpático. Tudo somado ao fim do mês...".

Contas, contas e mais contas

Outras dificuldades apontadas por Mário Cotrim são os aumentos do combustivel que, "só no ano passado, foram mais 1.800/1.900 só em combustíveis sem aumentar refeições". Aumenta o combustível, aumenta a matéria prima, aumentam os transportes. Queixas comuns a Mário Cotrim e a Silvino Tomás, agricultor da zona de Aveiro e que "há muitos anos" conheceu o único partido que lhe resolveu o problema da arte xávega.

Em conversa com a CNN Portugal no Troviscal, em Oliveira do Bairro, em Aveiro, o agricultor Silvino Tomás lamenta que "os combustíveis estejam ao preço que estão" e não só.

"Os adubos, na safra passada, ali até chegar a outubro/novembro, eu paguei adubo a 360 euros a palete. Hoje, essa mesma palete custa 1.200. Onde é que a gente vai parar?"

Entre tratores e caixas de batatas, Silvino Tomás diz que falta ainda mão de obra porque os rendimentos são insuficientes para pagar a quem trabalha nesta arte que sempre alimentou o país. No ar cheira a terra seca e adubo, à lama ali à volta e a idade média dos agricultores que ali veio ver a comitiva comunista ronda os 70 e muitos. 

As preocupações são partilhadas por João Alves, dirigente da União de Agricultores e Baldios do Distrito de Aveiro, que diz que em Portugal se produz menos porque cá "brincam com o agricultor em nível de preços".

João Alves (de boné) na ação da CDU no Troviscal

"Pagam tarde e a más horas. Sou agricultor de minifúndio e tenho o privilégio de escoar os meus produtos no mercado em Aveiro", desabafa, acrescentando que a pequena e média agricultura devia ter valorizado "o estatuto da agricultura familiar".

Simpatizante do Partido Comunista, o dirigente deixou a lavoura para ali se dirigir, ao volante da carrinha vermelha com o jornal do Avante no tablier, porque "é o único partido" que defende os agricultores "a sério".

"Andei a semear batatas e estou aqui, porque sei que são realmente os únicos [PCP e PEV] que depois nos ajudam nas políticas. Se assim não concordasse com eles, não estava aqui."

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