Polícia faz buscas na casa de Bolsonaro: ex-presidente tem 24 horas para entregar o passaporte

CNN Portugal , Com Lusa
8 fev, 11:57
Jair Bolsonaro pronuncia-se pela primeira vez após a vitória de Lula da Silva. (Imagem AP)

Investigação pretente "apurar organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito" nos eventos de 8 de janeiro de 2023. Bolsonaro diz estar a sofrer  uma "perseguição implacável". Lula congratulou-se com a ação da polícia: "Essa gente tem que ser investigada. Queremos saber quem financiou, quem pagou, quem financiava aqueles acampamentos"

O ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, foi alvo da operação da Polícia Federal (PF) esta quinta-feira. De acordo com a Folha de São Paulo, a PF foi à casa de Bolsonaro, em Angra dos Reis, e apreendeu o telemóvel de um de seus assessores, Tercio Arnaud Tomaz. Determinou também que Bolsonaro entregasse o passaporte. Como o documento não estava na residência, os policiais deram 24 horas para que ele o entregue. Em reação, o ex-presidente diz estar a sofrer  uma "perseguição implacável". 

A Polícia Federal informou em comunicado que está a realizar a Operação Tempus Veritatis “para apurar organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então Presidente da República no poder”.

Reagindo a esta operação, o atual presidente, Lula da Silva, congratulou-se: "O dado concreto é que houve uma tentativa de golpe. Houve tentativa de destruir uma coisa que nós construímos há tantos anos que é o processo democrático. Essa gente tem que ser investigada. Queremos saber quem financiou, quem pagou, quem financiava aqueles acampamentos, para que a gente nunca mais permita que aconteça o ato que aconteceu no dia 8 de janeiro [de 2023]", disse Lula em entrevista à rádio Itatiaia, citado pela Folha de São Paulo

"O cidadão [Bolsonaro] que estava no governo não estava preparado para ganhar, não estava preparado para perder, não estava preparado para sair, tanto é que não teve coragem e foi embora para os Estados Unidos, porque deve ter participado da construção dessa tentativa de golpe. Acho que não teria acontecido sem ele", concluiu Lula. "As pessoas precisam aprender que eleição democrática a gente perde e a gente ganha quando a gente perde a gente lamenta quando a gente ganha a gente toma posse e governa", disse.

E acrescentou: "Ele [Bolsonaro] passou o tempo inteiro criando suspeição sobre urna. Tática que utilizou para criar na sociedade um descrédito. Quando você cria um descrédito, você pode fazer qualquer coisa, desmoraliza o processo.

A polícia não divulgou o nome dos alvos da operação, mas os ‘media’ locais noticiaram que Filipe Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro, e o militar Marcelo Câmara, que também trabalhava com o ex-Presidente, são alvos de mandados de prisão. Entre os alvos das medidas judiciais também estão ex-ministros de Bolsonaro, entre eles os generais Augusto Heleno, Walter Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira, além de outros militares.

Segundo a autoridade policial brasileira, estão a ser cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão, que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de se ausentarem do país, com entrega dos passaportes no prazo de 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas.

Polícias federais cumprem as medidas determinadas pelo Supremo Tribunal Federal nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.

Nesta fase, segundo a nota da Polícia Federal, as investigações apontam “que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas eleições presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital”.

O primeiro eixo, segundo os investigadores, propagou a versão de fraude nas eleições de 2022, por meio da disseminação de notícias falsas sobre vulnerabilidades do sistema eletrónico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados da segunda volta das eleições em 2022.

O segundo eixo de atuação do alegado grupo criminoso consistiu na prática de atos para apoiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível.

O Exército Brasileiro acompanha o cumprimento de alguns mandados, em apoio à Polícia Federal. Os factos investigados configuram, em tese, os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.

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