Ezzam Abu Raffa morto. 150 alvos atingidos, "terroristas foram mortos". Funcionários da ONU desaparecidos - outros mortos. Novo apelo aos civis: "Fujam"

28 out 2023, 16:24
Gaza

A guerra Israell / Hamas - o sumário do que se passou deste a madrugada deste sábado até agora. Não há Internet nem comunicações em Gaza: "Este apagão de informação pode servir para ocultar atrocidades em massa e contribuir para a impunidade das violações dos direitos humanos”

Os militares israelitas voltaram este sábado a emitir um apelo aos residentes de Gaza para evacuarem o Norte do território. É um pedido que surge antes de uma operação terrestre israelita que parece estar iminente.

“Para sua segurança imediata, pedimos a todos os residentes do norte de Gaza e da cidade de Gaza que se mudem temporariamente para o sul”, disse o porta-voz das forças armadas israelitas, Daniel Hagari.

O apelo surge depois de horas de intensos bombardeamentos israelitas sobre a Faixa de Gaza. Uma operação que Israel garante que vai continuar até nova ordem. O ministro israelita da Defesaa, Yoav Gallant, emitiu um comunicado em que diz isso mesmo.

Enquanto isso, intensificam-se as movimentações terrestres junto à fronteira com a Faixa de Gaza. As agências noticiosas internacionais divulgam imagens de tanques israelitas e carros de combate. Há mesmo notícias de algumas incursões no Norte do território e o Hamas - na conta do Telegram das Brigadas Izzedine al-Qassam, o braço militar do Hamas - diz ter bombardeado veículos israelitas.

Um dos cérebros do ataque de 7 de outubro morto

O exército de Israel anunciou já este sábado que levou a cabo um ataque com caças que resultou na morte do chefe do comando aéreo do Hamas, Ezzam Abu Raffa, suspeito de ter participado no planeamento do ataque de 7 de outubro.

“Abu Raffa foi responsável pela gestão dos sistemas de veículos aéreos não tripulados, drones, deteção aérea, parapentes e defesa aérea” do movimento islamita palestiniano, disseram as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês).

“Como parte da sua posição, participou no planeamento e execução do massacre assassino nos colonatos ao redor de Gaza em 7 de Outubro”, acrescentou o exército na rede social X (antigo Twitter).

Num outro comunicado, as IDF afirmaram que atingiram cerca de 150 alvos subterrâneos em Gaza, incluindo túneis e postos de combate subterrâneos, levando à morte de vários membros do Hamas.

"Durante a noite, aviões de guerra das IDF atingiram 150 alvos subterrâneos no norte da Faixa de Gaza, incluindo túneis usados por terroristas, locais de combate subterrâneos e outras infraestruturas subterrâneas. Terroristas do Hamas foram mortos", disse o exército.

O jornalista da CNN Portugal João Fernando Ramos, que está com Lucénio Carvalho em Ashkelon, Israel, descreve um "bombardeamento brutal" com “explosões constantes” na Faixa de Gaza: “Bum bum bum...bum bum bum"

"Estão envolvidos aviões, artilharia e ainda há tanques no interior de Gaza. Alguns dos disparos que estamos a ouvir podem ser desses veículos blindados", dá conta o enviado especial. 

Centenas de edifícios destruídos em Gaza

Os ataques aéreos de Israel na última noite destruíram centenas de edifícios em Gaza, disse à agência de notícias AFP o serviço de defesa civil no território controlado pelo Hamas.

“Milhares de outras casas foram danificadas”, disse um porta-voz à AFP, acrescentando que os intensos bombardeamentos “mudaram a paisagem” do norte de Gaza.

Carregue em cima da fotografia para ver a destruição provocada por uma noite de bombardeamentos na Faixa de Gaza

Ainda não há números sobre as vítimas em Gaza provocadas pelos bombardeamentos da última noite. As primeiras imagens que chegam mostram danos generalizados no norte da Faixa de Gaza, que tem sido regularmente atingida por ataques aéreos israelitas.

Não há ainda informações sobre o número de vítimas da última noite e manhã. Mas as agências internacionais falam de imagens do pátio de um dos principais hospitais de Gaza lotado de corpos cobertos por lençóis brancos e cobertores.

O Ministério da Saúde do Hamas fez um novo balanço do número de palestinianos mortos desde o início da guerra com Israel e fala em 7.703 pessoas mortas na Faixa de Gaza. Mais de 3.500 são crianças.

Sem Internet e sem comunicações

Gaza está sem Internet e sem comunicações há várias horas. Num comunicado, uma responsável da organização não governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW), Deborah Brown disse que “este apagão de informação pode servir para ocultar atrocidades em massa e contribuir para a impunidade das violações dos direitos humanos”.

Também a Amnistia Internacional avisou que “será ainda mais difícil obter informações e provas essenciais sobre as violações dos direitos humanos e crimes de guerra cometidos contra civis palestinianos em Gaza e ouvir diretamente aqueles que sofrem essas violações”.

"Os civis palestinianos já estão sitiados na Faixa de Gaza e agora também estão presos num completo apagão de comunicações”, lamentou a ONG de defesa dos direitos humanos, que disse ter perdido contacto com o seu pessoal no enclave.

Várias agências das Nações Unidas informaram que perderam o contacto com o seu pessoal local em Gaza.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou no X que a organização perdeu o contacto com o seu pessoal, bem como com as "unidades de saúde, os profissionais de saúde e o resto dos parceiros humanitários no terreno". 

Lynn Hastings, coordenadora humanitária e residente das Nações Unidas na Palestina, também foi ao X para dizer que "Gaza perdeu o contacto com o mundo exterior devido à intensificação dos bombardeamentos".

A diretora executiva da Unicef, Catherine Russell, já tinha afirmado numa publicação no X estar "extremamente preocupada" com a sua equipa em Gaza, depois de ter perdido o contacto.

Apagão pode durar vários dias

Um dos principais fornecedores de telecomunicações palestinianos afirmou ter sofrido uma "interrupção total de todos os serviços de comunicação e de Internet" em Gaza na sexta-feira, enquanto Israel continuava a bombardear o enclave costeiro com ataques aéreos, tendo as IDF anunciado que estão a "expandir as operações terrestres".

Grupos independentes de monitorização da Internet disseram à CNN que se tratou do pior apagão da Internet em Gaza desde o início da última guerra entre Israel e o Hamas, a 7 de outubro, o que suscita o receio de que os civis palestinianos não consigam comunicar com o mundo exterior à medida que a guerra se intensifica. 

"Lamentamos anunciar a interrupção total de todos os serviços de comunicação e de Internet com a Faixa de Gaza devido à agressão em curso", declarou a Companhia de Telecomunicações da Palestina, conhecida por Paltel, numa publicação no Facebook, na sexta-feira à noite, hora local. A Paltel fornece serviços de Internet e de telemóvel em Gaza e na Cisjordânia.

"Os pesados bombardeamentos da última hora resultaram na destruição de todas as restantes vias internacionais que ligam Gaza ao mundo exterior", afirmou a Paltel no Facebook. "Esta destruição vem juntar-se às vias que foram anteriormente destruídas durante a agressão em curso, o que levou à interrupção de todos os serviços de comunicação a partir da nossa querida Faixa de Gaza."

Pode levar dias, se não mais, para que os habitantes de Gaza restaurem a conetividade à Internet em larga escala, dado o bombardeio contínuo e a crise humanitária em Gaza, disse Doug Madory, diretor de análise da Internet da Kentik, uma empresa da Califórnia que monitoriza a conetividade online globalmente.

Mais funcionários das Nações Unidas e jornalistas mortos em Gaza

O número de funcionários das Nações Unidas mortos em Gaza aumentou para 53, depois de 14 terem perdido a vida nas últimas 24 horas, de acordo com uma declaração da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) na sexta-feira.

Cerca de 640 mil dos 1,4 milhões de pessoas deslocadas internamente em Gaza estão abrigadas em 150 instalações da UNRWA em toda a faixa, adianta o comunicado, acrescentando que algumas delas foram mortas em escolas administradas pela agência de ajuda humanitária.

As últimas três semanas da guerra entre Israel e o Hamas são também já considerado o período mais mortífero em décadas para jornalistas que cobrem conflitos, segundo o Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

Pelo menos 29 jornalistas perderam a vida desde o primeiro ataque do Hamas, a 7 de outubro, segundo um comunicado divulgado na sexta-feira. O CPJ disse que começou a registar as mortes de jornalistas que cobriam um conflito em 1992.

Dos jornalistas mortos, pelo menos 24 eram palestinianos, quatro eram israelitas e um era libanês, de acordo com o CPJ.

As IDF já disseram às organizações noticiosas internacionais que não podem garantir a segurança dos jornalistas que estão em reportagem a partir de Gaza.

As agências noticiosas internacionais Reuters e Agence France Presse (AFP) contactaram o exército israelita esta semana para obter garantias de que os seus jornalistas no terreno em Gaza não seriam alvo de ataques aéreos israelitas.

As IDF responderam por carta a ambas as agências afirmando que "estão a visar todas as atividades militares do Hamas em Gaza" e que "nestas circunstâncias não podem garantir a segurança dos seus funcionários e exortam-nos a tomar todas as medidas necessárias para a sua segurança".

A carta também dizia que o Hamas deliberadamente colocou operações militares "nas proximidades de jornalistas e civis", escreveu a Reuters. O Hamas não respondeu imediatamente quando questionado sobre a veracidade das alegações apresentadas pelas IDF, disse a Reuters.

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