Parabéns, Portugal! Mas numa fase final é preciso fazer muito mais

13 out 2023, 22:58
Portugal-Eslováquia (Lusa/Fernando Veludo)

A análise de Maniche ao jogo com a Eslováquia e ao apuramento da seleção nacional para a fase final do Europeu

A análise de Maniche ao jogo com a Eslováquia e ao apuramento da seleção nacional para a fase final do Europeu:

Em primeiro lugar, parabéns a Portugal! Parabéns por chegar à fase final de mais um europeu - a oitava consecutiva desde 1996! – e parabéns pelo percurso histórico feito neste apuramento. A qualificação foi conseguida de forma tão rápida graças ao compromisso, à disponibilidade e à responsabilidade dos jogadores. E à qualidade, também, claro.

Não vale a pena esconder: o grupo é muito acessível. Daí os números, os 27 golos marcados e apenas dois sofridos – e foi hoje, porque baixámos a intensidade. De resto, Portugal foi superior em tudo. Posse de bola, remates, cantos… o resultado podia ter sido melhor.

A seleção portuguesa é tão superior aos adversários do grupo, mesmo esta Eslováquia, que a notícia da noite - o apuramento - na verdade, já era esperada. Sim, estamos na Alemanha! Mas, novidade seria Portugal ter dificuldades neste grupo de qualificação.

O mais importante, a vitória, foi alcançado, mas ficam algumas questões deste jogo. Comecemos pelo ataque. Havia a dúvida sobre a compatibilidade de Cristiano Ronaldo e Gonçalo Ramos.

O selecionador resolveu juntá-los, quis dissipar a dúvida, mas a resposta não precisa de ser dada nestes jogos. Aqui, onde a diferença entre o valor das duas seleções é tão grande, preparam-se os grandes jogos.

Gonçalo Ramos marcou golo na primeira vez que tocou na bola, aos 18 minutos. De resto, a dinâmica teve muito a ver com ele jogar atrás de Ronaldo, por vezes a baixar ao meio-campo. Talvez não tenha agradado muito ao selecionador.

Estes jogos podem ser enganadores. Muita gente fala numa grande exibição de Portugal. Não me parece que tenha sido, em especial na segunda parte. O que fizemos hoje não chega para ganhar a grandes equipas no europeu. A minha experiência diz-me isso. É uma nota para refletir.

Entre os criativos, Bernardo Silva pode fazer mais do que fez. Rafael Leão parece perder na seleção a alegria que tem no Milan. Talvez sinta que não é tão determinante. Precisa de mais disponibilidade.

Bruno Fernandes, esse, é sempre regular: organiza, comanda, desequilibra, faz assistências quando não faz golos. Para mim, o melhor jogador da seleção em toda a fase de apuramento.

A perda de controlo do jogo também se pode entender pela demora do selecionador a fazer alterações. Podia ter mudado a dinâmica e até o sistema com a entrada de jogadores com características diferentes.

A equipa ficava pouco compacta com facilidade. Notava-se na perda de bola, com muitos jogadores de características ofensivas e apenas Palhinha como ‘tampão’.

Tanta mobilidade na frente pode acabar por ser prejudicial. A seleção não tem muito tempo para preparar a dinâmica, para trabalhar a forma de, tendo tanta gente ofensiva, ser inteligente na ocupação dos espaços para não passar por dificuldades.

É possível que a chuva, o relvado, o desgaste acumulado, tenham contribuído para isso. Mas a mobilidade que havia na frente não ajudou muito a ter um jogo de posse com mais qualidade.

Não me iludo: não foi um grande jogo de Portugal. Foi o suficiente para ganhar a este tipo de equipas, porque são inferiores.

Olhando para a frente, além da questão da disponibilidade, será bom ensaiar outras soluções, outros jogadores, com outras características. Até porque nunca se sabe como os jogadores chegam a uma fase final, que desgaste têm nos clubes, que lesões surgem.

Em 2026 vários jogadores estarão nos 30, 32 anos. Em 2030, metade desta seleção já não estará presente. No presente prepara-se o futuro.  

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