Mourinho: «Não faço mind games»

5 mar 2014, 13:45
José Mourinho

Treinador do Chelsea garante que não tem medo de falhar no seu regresso aos blues

José Mourinho é sobejamente conhecido pelo seu jogo de palavras e constantes provocações ao adversário. No entanto, o treinador do Chelsea recusa que jogue fora das quatro linhas. Pelo menos, é essa a ideia que tenta passar numa entrevista à «Esquire»: «No futebol, o único jogo que conheço é o jogo que dura 90 minutos. Não são mind games. Não tento fazer isso. Antes do jogo pode ser importante influenciar opiniões, personalidades, sentimentos e, claro, uso isso para tocar os meus jogadores, os meus adversários, os adeptos. Mas, para mim, o único jogo que existe é o de 90 minutos.»

A troca de palavras fica-se pelo plano profissional. Mourinho garante que as “picardias” nunca são pessoais. «Prefiro jogar contra os melhores jogadores, as melhores equipas e os melhores treinadores, nunca é pessoal», aponta.

Mourinho regressou ao Chelsea, onde foi bem sucedido e deixou saudades. As expetativas são altas, mas o treinador não tem medo de falhar: «Quando decido voltar, há algum risco das coisas correrem mal, mas não tenho medo. Confio em mim mesmo. Não tenho medo de perder o meu emprego e quando não se tem medo, não se sentem pressões. Não estás demasiado preocupado, podes expressar-te de outra forma. Torna-te melhor, acho eu.»

Adorado por uns, odiado por outros, parece inequívoco que Mourinho acaba por influenciar carreiras: «É impossível tornar todos os jogadores melhores. Sou bem sucedido com alguns e com outros não. Mas, se for jogador a jogador, a percentagem de jogadores que conseguiram atingir os melhores anos e momentos da sua carreira comigo é enorme. Claro que há alguns com quem a ligação não foi boa, porque as personalidades chocavam ou eu não gostava de trabalhar com eles. Mas é uma percentagem mínima.»

«Os detalhes podem fazer a diferença»


Ibrahimovic disse, na sua autobiografia, que nunca trabalhou com alguém como Mourinho, que «vive e respira futebol». «Não é obsessivo», diz o treinador, acrescentando: «Acho que os detalhes são importantes. Os detalhes fazem com que os jogadores sejam melhores. Os detalhes ajudam-nos a vencer. Claro que existem alguns jogadores no mundo que, por si só, fazem a equipa parecer melhor do que realmente é. Mas, basicamente, o futebol é sobre equipas e as equipas são melhores se olhares para os detalhes. Por isso, não é uma obsessão. A minha experiência diz-me que os detalhes podem fazer a diferença.»

Uma das valias de José Mourinho é a atenção que dá aos seus jogadores: «É importante compreender as coisas. Às vezes o nível exibicional de um jogador desce e não percebes porquê. Treina bem, não está lesionado, está tudo perfeito, mas ele não está a jogar bem. Porquê? Tem de existir uma razão. Mas eles têm de confiar em ti. Não sou um polícia, por isso não os persigo fora do clube. Mesmo que os meus clubes tenham tendência para fazê-lo, não autorizo que sigam os meus jogadores. São as suas vidas e a sua privacidade.»

O técnico português tenta adaptar-se às mudanças sociais e desportivas: «Muitas vezes no Real Madrid, os jogadores faziam fila em frente ao espelho antes do jogo, enquanto o árbitro esperava por eles no túnel. Mas, agora, a sociedade é assim. Os jovens ligam muito a isto. Eles têm vinte e qualquer coisa e eu tenho 51 anos e, se quero trabalhar com miúdos, tenho de perceber o seu mundo. Como posso impedir que, no autocarro, os meus jogadores façam, como lhe chamam?... Twitters e essas coisas? Como poderei pará-los se os meus filhos fazem o mesmo? Por isso, tenho de adaptar-me ao momento.»

Selecionador? «Não é um trabalho que goste»


«Sempre fiz o que queria fazer», garante Mourinho, rejeitando sempre a ideia de que se sinta frustrado por não ter tido sucesso enquanto jogador.

O treinador volta a deixar a ideia de que só considera a possibilidade de assumir um cargo como selecionador quando já tiver alguma idade: «Não é um trabalho que goste. Tens de esperar dois anos para ter uma competição. Tens jogos mais fáceis, muitos particulares, jogos de qualificação. Treina-se dois dias por mês! Não preciso de uma fuga do futebol. Só preciso de umas semanas no verão para estar em algum lado, numa praia. Isso está bom para mim.»

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