Bola de Ouro: sem Cristiano pela primeira vez em 20 anos, mas com muita história portuguesa

30 out 2023, 03:50
Portugal e a Bola de Ouro

Há um lugar só de Ronaldo quando se fala do troféu que distingue os melhores do mundo. Mas desde a criação do troféu que começou por coroar o jogador europeu do ano já houve mais de três dezenas de portugueses nomeados. Os também notáveis dados de Eusébio. E de Figo. E muitos outros lugares de honra

Cristiano Ronaldo não está entre os nomeados à conquista da Bola de Ouro pela primeira vez em 20 anos, um corte com a era dourada do jogador português mais vencedor de sempre. Pep Guardiola disse que devia haver um prémio para Lionel Messi, super favorito a vencer o troféu pela oitava vez na cerimónia desta segunda-feira, e outro para o resto do mundo. Tomando a ideia emprestada, do ponto de vista português também há um lugar só de Cristiano. Ele colocou a fasquia num lugar inimaginável. Mas há mais história portuguesa com a Bola de Ouro para lá de Ronaldo. Desde a criação do prémio atribuído pela France Football, em 1956, só por 13 vezes não houve portugueses entre os candidatos.

Bernardo Silva e Rúben Dias, repetentes

Este ano, os representantes nacionais entre os 30 nomeados são Bernardo Silva e Rúben Dias, depois da época de luxo do Manchester City. São ambos repetentes e para Bernardo é a terceira nomeação. Em 2019, o médio foi o nono jogador mais votado e no ano passado ficou na 22ª posição. Rúben Dias repete a presença depois do 26º lugar em 2021.

No total, houve até hoje 35 jogadores portugueses nomeados para a Bola de Ouro, num processo que já teve vários conceitos diferentes, que implicam condicionantes diversas nas escolhas. Numa primeira fase, até 1995, era restrito a jogadores europeus. Até 2007 passou a distinguir jogadores que atuavam na Europa e a partir daí passou então a compreender futebolistas de todo o mundo.

Também o número de nomeados sofreu alterações. Foram 50 durante muito tempo, depois 30, depois 23 no período em que o troféu foi atribuído em conjunto com a FIFA, entre 2010 e 2015. Agora são de novo 30, designados a partir de uma lista da responsabilidade da France Football e votados por jornalistas, um de cada um dos 100 primeiros países do ranking da FIFA.

O prémio era atribuído em função do ano civil, mas desde 2021/22 passou a ter em conta a época desportiva. Razão pela qual Messi é visto como vencedor anunciado este ano, porque entra nas contas o Mundial 2022, o da consagração de Leo e da Argentina.

Cristiano Ronaldo, recordista de nomeações

Aos 36 anos, Messi prepara-se para vencer o troféu pela oitava vez, ele que por sinal nem esteve entre os nomeados na última edição. Falhou então pela primeira vez a presença desde 2006 e quebrou o ciclo do duelo do outro mundo que protagonizou nas últimas duas décadas com Cristiano Ronaldo pelos troféus individuais do planeta. Estão a chegar ao fim os tempos do domínio dos dois monstros, um com 36 e outro com 38 anos, embora ambos continuem aí, a garantir que isto não acaba até eles dizerem que acabou.

Messi é o único jogador com mais triunfos do que Cristiano, mas o português é recordista de nomeações. Desde 2004, quando terminou na 12ª posição, somou 18 nomeações consecutivas – o troféu não foi atribuído em 2020 por causa da pandemia. Ronaldo venceu cinco vezes a Bola de Ouro e tem mais sete presenças no pódio – 12 no total. Messi já esteve 13 vezes no pódio. Só para termos um termo de comparação, o terceiro jogador com mais presenças entre os três primeiros, Michel Platini, tem «apenas» cinco.

Eusébio, 12 anos entre nomeações

Há mais dois portugueses que têm uma história notável com a Bola de Ouro. Eusébio venceu em 1965 e foi segundo em 1966, depois de encantar o mundo no Mundial e de perder o troféu por um ponto para Bobby Charlton. O Pantera Negra somou no total 11 nomeações entre 1961 e 1973, tem três presenças no pódio e terminou por oito vezes entre os 10 primeiros.

Muitos anos mais tarde foi Figo a ganhar lugar cativo entre os candidatos a melhor do mundo. Entre 1995 e 2005, somou dez nomeações consecutivas, com a consagração a chegar em 2000, com a conquista da Bola de Ouro no ano em que trocou o Barcelona pelo Real Madrid e em que liderou Portugal no Euro 2000.

Futre e depois Deco no pódio

Houve mais dois portugueses no pódio da Bola de Ouro. Futre foi segundo em 1987, depois da conquista da Taça dos Campeões Europeus com o FC Porto e da mudança para o Atlético de Madrid, ele que teve ao todo três nomeações. Nesse tempo o troféu era limitado a jogadores europeus, pelo que só mais um jogador portista entrou na lista de nomeados naquele ano – o guarda-redes Mlynarczic, que foi 21º.

Em 2004, quando o FC Porto voltou a ser campeão europeu e Portugal chegou também à final do Europeu, o protagonismo de Deco em ambas as campanhas, numa época que terminou com a mudança para o Barcelona, valeu-lhe o segundo lugar na Bola de Ouro, atrás do ucraniano Shevchenko. E valeu pela primeira vez a presença de dois portugueses no «top 10», com Ricardo Carvalho a terminar no nono lugar. 2004 teve nada menos que cinco portugueses entre os 50 nomeados, com o estreante Cristiano Ronaldo a terminar no 12º lugar, Figo no 22º e Maniche no 24º.

Chalana teve também um lugar de honra. Em 1984, depois de encantar França na caminhada de Portugal até à meia-final do Europeu e de se transferir para o Bordéus, o Pequeno Genial foi quinto na Bola de Ouro. Portugal teve jogadores entre os 10 primeiros da Bola de Ouro em mais de 30 ocasiões, repartidas por 11 jogadores.

Jogadores portugueses nos 10 primeiros da Bola de Ouro


 

Deco somou no total cinco nomeações para a Bola de Ouro, o quarto português com mais presenças. Depois vem Mário Coluna, que integrou a lista de candidatos por quatro vezes entre 1961 e 1996, ano em que terminou no 13º lugar, a sua melhor posição. Há vários jogadores com três nomeações, entre eles João Alves, que entrou na lista pela primeira vez em 1975, quando era jogador do Boavista, e repetiu em 1978 e 1979. Também Rui Costa, cuja melhor classificação foi o 24º lugar em 2000. Ou Pauleta, que foi nomeado por três vezes mas não recebeu votos em nenhuma delas.

2016 e o último jogador a representar a Liga portuguesa

As primeiras nomeações portuguesas remontam precisamente a 1961, com a presença de seis jogadores do Benfica campeão europeu - José Águas, que terminou na 10ª posição, Germano (17º), José Augusto (23º), Costa Pereira (28º), Coluna (35º) e o então estreante Eusébio (35º).

Foi até hoje o ano com mais presenças portuguesas, seguido de 2004. Em 2016, no ano da conquista do título europeu, foram três os nomeados portugueses. Cristiano Ronaldo venceu o troféu pela quarta vez, Pepe foi nono e Rui Patrício terminou na 12ª posição.

O guarda-redes, então no Sporting, foi o último representante de um clube português a somar pontos na corrida à Bola de Ouro. Em 2019, João Félix esteve entre os nomeados, no ano em que brilhou no Benfica antes de sair para o Atlético de Madrid, mas não recebeu votos na eleição final.

Se 2016 foi exceção num período, entre 2012 e 2018, em que Cristiano Ronaldo era o único português entre os nomeados, desde 2019 a representação nacional diversificou-se. Além de Bernardo Silva e Rúben Dias, também estiveram entre os nomeados Bruno Fernandes (21º em 2021), Rafael Leão (14º e o melhor português em 2022) e João Cancelo (22º em 2022).

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