Como a Premier League bateu o recorde de treinadores despedidos (duas vezes no mesmo dia)

3 abr 2023, 08:06
Graham Potter (AP Photo/Rui Vieira)

Este domingo viu cair mais dois técnicos. Inglaterra nunca tinha mudado tantos treinadores numa época. E os novos donos do Chelsea fizeram algo que nem Abramovich tinha feito

O anúncio da saída de Brendan Rodgers do Leicester na manhã deste domingo assinalou um novo recorde de treinadores despedidos numa só época na Premier League. Mas o dia não terminou sem esse recorde voltar a ser batido. Graham Potter também deixou o Chelsea, portanto passaram a ser 12 os treinadores afastados numa só temporada. Nunca tal tinha acontecido. E ainda faltam nove jornadas.

Na verdade, já houve 13 mudanças de treinadores nesta temporada na Liga inglesa, mas uma delas não foi um despedimento – Graham Potter, precisamente, deixou o Brighton no início de setembro para assumir o Chelsea. Os novos donos do clube despediram então Thomas Tuchel, o treinador que ano e meio antes tinha vencido a Liga dos Campeões, para contratar o técnico inglês, que assinou por cinco anos. Durou menos de sete meses.

Contando apenas treinadores que foram afastados, o total é então de 12. Sendo que dois clubes mudaram mais do que uma vez. Além do Chelsea também o Southampton, que despediu Ralph Hasenhuttl em novembro e três meses mais tarde fez sair Nathan Jones. Nestas contas não entram treinadores interinos, que fizeram a transição até à nomeação de um novo técnico.

Premier League despede mais que a Liga portuguesa

Nem Portugal, que é tradicionalmente um dos campeonatos onde os treinadores têm menos estabilidade entre as principais Ligas europeias, mudou tantos treinadores na atual temporada. Até agora, com oito jornadas por disputar, foram 10 os treinadores afastados na Liga, o último dos quais Jorge Simão, no Santa Clara. Os açorianos já mudaram duas vezes, tal como o Paços de Ferreira, mas no caso dos castores para fazer regressar César Peixoto, o treinador que tinha começado a época.

Nas três últimas temporadas, o campeonato português superou sempre estes valores: foram 12 chicotadas na época 2021/22 e 15 nas duas temporadas anteriores.

Inglaterra já vinha deixando nos últimos anos de ser referência de estabilidade para treinadores. Em outubro do ano passado, a BBC traduziu essa tendência em números, para concluir que numa década, entre 2012 e 2022, o período médio de permanência de um treinador num clube na Premier League tinha caído para metade: de 1400 para cerca de 700 dias.

Essa tendência vem-se acentuando. Na temporada passada foram 10 os treinadores despedidos, o que igualava um recorde estabelecido apenas em três outras ocasiões na era Premier League, desde 1992/93. Esta temporada esse registo foi duplamente superado num só dia – este domingo, 2 de abril.

Já mudaram de treinador no decorrer desta época metade dos clubes da Premier League. A dança começou ainda em agosto, quando Scott Parker deixou o Bournemouth, e envolveu também um treinador português, Bruno Lage, que deixou o Wolverhampton no início de outubro. Nas últimas semanas caíram quatro treinadores, entre eles Antonio Conte, que deixou o Tottenham na semana passada, ao fim de menos de ano e meio no clube. Os Spurs nomearam o adjunto do italiano, Cristian Stellini, até final da época.

Rodgers era dos treinadores mais antigos

Brendan Rodgers deixou o Leicester ao fim de quatro anos. Era o quarto treinador há mais tempo no cargo num clube da Premier League e liderou o Leicester na conquista de uma Taça de Inglaterra e de uma Supertaça. Sai com os Foxes em penúltimo lugar e por agora foram apenas nomeados dois elementos da equipa técnica para fazer a transição, devendo ser escolhido novo treinador ainda no decorrer desta temporada.

O técnico há mais tempo no cargo num clube da Premier League é Jurgen Klopp, que lidera o Liverpool desde outubro de 2015 e vai na oitava temporada em Anfield, mas está a atravessar o período mais difícil no cargo, com os Reds em oitavo lugar, a oito pontos dos lugares de acesso à Liga dos Campeões. O segundo na lista é Pep Guardiola, a viver a sétima temporada no Manchester City. 

São duas referências de longevidade, um cenário bem diferente do Chelsea. No que diz respeito a treinadores, os Blues são entre as equipas de topo da Premier League aquela que mais mudou nas últimas duas décadas. Até 2004, quando Roman Abramovich comprou o clube, o Chelsea tinha tido 22 treinadores desde a sua fundação, em 1905. Com o russo à frente do clube, foram 12 em 18 anos, 14 se contarmos as duas passagens de José Mourinho e também de Guus Hiddink.

Donos do Chelsea fizeram algo que nem Abramovich tinha feito

Mourinho, o treinador que levou o Chelsea ao patamar dos grandes, foi o primeiro técnico da era Abramovich e também foi quem esteve mais tempo seguido no banco, logo na primeira vez em que assumiu o clube. Foram três épocas e mais umas semanas, entre julho de 2004 e setembro de 2007.

Mas nem Abramovich despediu dois treinadores na mesma temporada, como acabam de fazer os novos donos. Depois de um defeso em que gastaram um recorde de 280 milhões de euros, os proprietários norte-americanos afastaram Tuchel logo em setembro, para irem buscar Graham Potter, um treinador com um percurso pouco comum e que se vinha distinguindo pelo trabalho no Brighton.

O Chelsea terá gasto qualquer coisa como 23 milhões de euros para ir buscar Potter ao Brighton. O retorno foi magro. O treinador inglês não começou mal, mas a partir do final de outubro a equipa entrou numa espiral de maus resultados, que se prolongou depois da interrupção para o Mundial. Em janeiro, os donos do clube tentaram pôr mais dinheiro em cima do problema. Rebentaram com a escala de gastos: 329 milhões de euros investidos em transferências no mercado de inverno, com o ex-benfiquista Enzo Fernández e o ucraniano Mudryk à cabeça, numa janela em que chegou também João Félix, cedido pelo Atlético Madrid.

As coisas não melhoraram. O Chelsea só venceu três em dez jogos desde o início de fevereiro. Está em 11º lugar na Premier League, a 12 pontos da zona Champions. Por outro lado, continua em competição na Liga dos Campeões, onde terá pela frente nos quartos de final o Real Madrid. Mas, tudo somado, Graham Potter tem o pior saldo entre os treinadores do Chelsea que nas últimas duas décadas fizeram pelo menos 30 jogos. Foram 12 vitórias, 11 derrotas e oito empates em 31 partidas, o que dá uma percentagem de 39 por cento de vitórias.

Por agora, o Chelsea limitou-se a anunciar que o treinador interino será Bruno Saltor, antigo defesa espanhol que terminou a carreira de jogador no Brighton e se tornou desde então adjunto de Graham Potter, tendo seguido com o técnico para o Chelsea. Agora começa a busca por mais um treinador. No Chelsea, como no Tottenham e no Leicester. A dança continua.

As mudanças de treinadores esta época na Premier League

Agosto

Bournemouth: Scott Parker por Gary O’Neil

Setembro

Chelsea: Thomas Tuchel por Graham Potter

Brighton: Graham Potter por Roberto de Zerbi

Outubro

Wolverhampton: Bruno Lage por Julen Lopetegui

Aston Villa: Steven Gerrard por Unai Emery

Novembro

Southampton: Ralph Hasenhuttl por Nathan Jones

Janeiro

Everton: Frank Lampard por Sean Dyche

Fevereiro

Leeds: Jesse Masch por Javi Gracia

Southampton: Nathan Jones por Ruben Selles

Março

Crystal Palace: Patrick Vieira por Roy Hodgson

Tottenham: Antonio Conte por Cristian Stellini

Abril

Leicester: Brendan Rodgers (Adam Sadler e Mike Stowell assumem provisoriamente)

Chelsea: Graham Potter (Bruno Saltor assume provisoriamente)

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