Inflação não afeta apenas os hospitais públicos. Privados exigem atualização de preços praticados com o Estado

14 dez 2022, 19:02
Hospital Santa Maria (Lusa/Tiago Petinga)

Óscar Gaspar alerta que beneficiários da ADSE estão a ter acesso a uma oferta cada vez mais reduzida e que, se os preços não forem atualizados, o impacto dos encargos vai passar para os cidadãos

O presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) acusa o Ministério da Saúde de lentidão na atualização dos preços praticados entre os privados e o Estado em função da inflação, em particular na ADSE, onde a oferta de serviços é cada vez mais reduzida. O presidente da associação alerta que há instituições que foram afetadas por aumentos de 400% apenas a eletricidade.

“O Governo tem sido lento a atuar. Desde junho ou julho que o Ministério da Saúde e a ADSE reconhecem que existe um problema e que é necessário tomar medidas. O que é verdade é que já passaram estes meses todos e continuamos sem ter qualquer tipo de ajustamento ou atualização”, afirma à CNN Portugal Óscar Gaspar, presidente da APHP.

O líder da associação de hospitais privados sublinha que o que está em causa não é “nenhum tipo de subsídio”, mas sim uma atualização dos preços, à semelhança do que foi feito nos hospitais públicos, onde já aconteceu “uma atualização dos termos de contratualização”. “Aquilo que pedimos é que se proceda com os privados da mesma forma que se procedeu internamente, onde se reviram os preços”, insiste.

“Todos estes preços não são definidos pelo mercado nem por negociação entre as partes, são definidos de forma administrativa, por parte do Estado. O Estado reconhece que a inflação tem um impacto forte na Saúde, mas não dá o passo seguinte, que, tendo em conta que há um grande aumento na estrutura de custos e das despesas, devia levar à atualização dos preços que lhe aceitam que sejam faturados”, reforça.

Muitos dos prestadores de serviços foram confrontados com aumentos significativos dos preços, particularmente da energia. Óscar Gaspar garante que existem “vários exemplos de hospitais” que verificaram aumentos de 400% nos preços da eletricidade.

“Temos vários casos que passaram, de repente, de pagar 15 mil euros e agora estão a pagar 60 mil euros por mês”, alertou.

Também o aumento do preço do gás natural é uma preocupação para os privados. A necessidade de manter as instalações climatizadas durante 24 horas faz disparar a conta. Além disso, produtos específicos utilizados na área da saúde, como o oxigénio, só nos últimos três meses, dispararam mais de 30%.

“Podemos também falar do aumento dos custos com os alimentos, que também se repercute nos custos da alimentação nos hospitais. Mas os aumentos atingem áreas como a lavandaria, segurança e afins”, frisa o presidente da APHP.

E o impacto destes aumentos já atingiu os utentes dos hospitais. Os beneficiários da ADSE, com as atuais tabelas, perderam acesso a hospitais, médicos e atos clínicos. A situação também está a afetar o aprovisionamento de medicamentos, onde tem havido a descontinuidade do fornecimento de alguns tipos de remédios, quer nas farmácias, quer nos hospitais. 

Óscar Gaspar aponta para o exemplo dado pelo governo francês, que para fazer face ao impacto da inflação na área da Saúde aprovou dois pacotes de ajuda, no total de 1.238 milhões de euros, para compensar os hospitais pelos custos de inflação. Estes apoios são aplicados à generalidade dos hospitais, sejam eles públicos, privados ou sociais, “uma vez que o impacto da inflação não é menor por se tratar de um hospital privado”.

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