Irão investiga envenenamento de raparigas que participaram nos protestos contra a obrigatoriedade do uso de hijab

28 fev 2023, 15:48
Hijabs (Associated Press)

Autoridades ainda não identificaram suspeitos, mas os recentes ataques levantaram receios de outras raparigas poderem ter sido envenenadas apenas por frequentarem a escola

As autoridades do Irão estão a investigar o envenenamento de centenas de raparigas alegadamente por "vingança" depois de terem participado nos protestos contra a obrigatoriedade do uso de hijab e pela morte de Mahsa Amini. Algumas das vítimas chegam mesmo a precisar de tratamento hospitalar.

As autoridades iranianas não tinham associado estes incidentes entre si, mas agora estão a investigá-los como possíveis ataques intencionais que atingiram cerca de 30 escolas.

A intencionalidade dos envenenamentos, que têm sido registados na cidade sagrada de Qom, a sul da capital iraniana, foi confirmada por Homayoun Sameyah Najafabadi, membro da comissão de saúde do parlamento, que revelou que existem ainda vítimas na cidade de Borujerd.

As autoridades ainda não identificaram suspeitos, mas os recentes ataques levantaram receios de outras raparigas poderem ter sido envenenadas apenas por frequentarem a escola. O ministro da Educação do país descartou inicialmente os relatos como rumores.

De acordo com o The Guardian, que cita o ministro-adjunto da Saúde, "depois do envenenamento de vários estudantes em Qom", várias pessoas querem que "todas as escolas, especialmente as escolas femininas, sejam fechadas". 

"Foi revelado que os compostos químicos utilizados para envenenar as estudantes não são químicos de guerra. As estudantes envenenadas não precisam de tratamento agressivo e uma grande percentagem dos agentes químicos utilizados são tratáveis", revelou Younes Panahi.

Por sua vez, um médico que falou com o jornal britânico sob condição de anonimato, revelou que os dados disponíveis revelam que "a causa mais provável deste envenenamento pode ser um organofosforados (composto orgânico degradável) fraco".

"Mesmo que algumas das alunas envenenadas apresentem sinais de suor grave, excesso de salivação, vómitos, hipersensibilidade intestinal e diarreia, significa que o ataque foi feito utilizando este agente", afirmou o médico para quem o principal motivo para os envenamentos são "assustar os manifestantes".

O especialista diz ainda que os "grupos extremistas dentro e fora do país" responsáveis por estes casos "querem vingar-se das raparigas da escola, que são as pioneiras dos recentes protestos".

"Nunca antes tratei alguém que tenha sido envenenado com agentes organofosforados. Os únicos casos que tratei foram de trabalhadores que foram expostos a estes agentes em pesticidas agrícolas."

Os primeiros casos surgiram no final de novembro em Qom, cerca de 125 quilómetros a sudoeste da capital do Irão, Teerão. Estudantes do Conservatório de Noor Yazdanshahr adoeceram em novembro e ficaram novamente doentes em dezembro.

As estudantes queixaram-se de dores de cabeça, palpitações cardíacas, letargia e paralisia. Algumas alunas descreveram um cheiro a tangerinas, a cloro ou a agentes de limpeza.

É inverno no Irão, onde as temperaturas geralmente caem abaixo de zero à noite. Muitas das escolas são aquecidas a gás natural, levando a especulação sobre os envenenamentos poderem dever-se a monóxido de carbono.

Os ativistas preocupam-se que estas ações possam ser uma nova tendência de ataques aos direitos humanos no país, especialmente das mulheres.

Relacionados

Médio Oriente

Mais Médio Oriente

Patrocinados