Internamentos por hepatite B crónica subiram. Quase 1,5 milhões de testes feitos em 2022

Agência Lusa , DCT
28 jul 2023, 08:41
Homem no hospital (Pexels)

Os autores do relatório do Programa Nacional para s Hepatites Virais apontam para um ligeiro aumento de internamentos por hepatite B crónica, justificando com o aumento da migração forçada associada a conflitos armados e insistem no rastreio.

Portugal realizou quase 1,5 milhões de testes contra hepatite B e C em 2022, uma tendência crescente, mas os responsáveis do Programa Nacional das Hepatites Virais sublinham que é preciso manter a pressão para que todos se testem.

“É uma das nossas mensagens principais: fazer o teste, pelo menos uma vez na vida, da hepatite B, hepatite C e HIV. Com apenas uma gota de sangue conseguimos saber se a pessoa está infetada ou não com três doenças que podem ser graves, mesmo mortais, mas que têm ou vacina ou tratamento ou cura”, disse à Lusa Rui Tato Marinho, diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais.

Em declarações à Lusa no dia em que o relatório de 2023 é divulgado, o responsável alertou: “São doenças sem som – a hepatite B e C -, não fazem barulho. A pessoa pode andar uma vida inteira, 20 ou 30 anos sem saber que a tem e depois surgir numa fase mais avançada, como, por exemplo, o cancro do fígado”.

“O ideal é fazer as análises, como se faz para a diabetes, ou para as anemias, pelo menos uma vez na vida”, acrescentou.

Os autores do relatório 2023 do Programa Nacional para as Hepatites Virais, um dos programas de saúde prioritários da Direção Geral da Saúde (DGS), lembram que a maior parte dos testes (cerca de um milhão) são prescritos pelos hospitais, mas avisam que os resultados podem estar subestimados, uma vez que existem centros de saúde com capacidade para realizar testes à hepatite C.

“De uma maneira geral, mesmo a nível mundial, há uma deficiente notificação das doenças, ou seja, os médicos não notificam muito os casos que lhes aparecem”, disse Tato Marinho, referindo que muitos dos casos são crónicos.

Internamentos por hepatite B crónica subiram devido à migração de zonas com elevada prevalência

Os autores do relatório do Programa Nacional para s Hepatites Virais apontam para um ligeiro aumento de internamentos por hepatite B crónica, justificando com o aumento da migração forçada associada a conflitos armados e insistem no rastreio.

Segundo o relatório que é hoje divulgado, os internamentos por hepatite B crónica passaram de 17 em 2021 para 21 no ano passado e os responsáveis alertam que tal pode ser explicado com o “aumento significativo” da migração associada a guerras em países onde a prevalência de hepatites virais B e C é muito elevada (1% e 3% da população da Ucrânia).

“Teremos de estar atentos a esta situação, que pode vir a alterar a curva descendente que temos vindo a observar na última década, bem como implementar medidas de rastreio, diagnóstico precoce, tratamento e vacinação de hepatites virais B e C nas populações de imigrantes e refugiados”, alertam.

Em declarações à Lusa, o diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais, Rui Tato Marinho, reconhece estes casos em imigrantes de países onde os cuidados de saúde não são bons, nomeadamente no continente africano e na Ásia, e diz que é recomendado aos médicos de medicina geral e familiar que assistam estas pessoas para, pelo menos uma vez, pedirem o teste.

“Nós recomendamos aos colegas de medicina geral e familiar que, se avaliarem estas pessoas, (..) peçam o teste da hepatite B, C e HIV. Até para permitir que essas pessoas tenham os melhores cuidados de saúde, porque também precisamos deles para ajudar a fazer o país”, explicou.

O relatório aponta para uma diminuição dos internamentos por hepatites B e C crónicas na população portuguesa na última década: de 74 internamentos por hepatite B crónica em 2013 para 21 em 2022 e de 228 internamentos por hepatite C crónica em 2013 para 13 no ano passado.

Esta diminuição é mais significativa para a hepatite C crónica, sendo mais acentuada desde 2015, “coincidindo com o início da medicação com antivíricos de ação direta para a hepatite C”, refere o documento.

Os autores do relatório citam ainda um artigo publicado em abril de 2021 sobre a evolução dos internamentos por cirrose hepática em Portugal, de 2010 a 2017,que mostrou uma redução para metade dos casos de cirrose associada à hepatite C (de 424 internamentos em 2015 para 206 em 2017).

“Já no ano passado tínhamos notado, diminuiu muito. Até houve doentes que saíram da lista de transplante. E em relação à hepatite B a mesma coisa, por causa de 20 anos de vacinação”, explicou Tato Marinho.

O documento aponta, a nível europeu, a falta de dados epidemiológicos completos tanto na hepatite B como na C, incluindo as informações sobre a via de transmissão, casos importados e se se trata de hepatites crónicas ou agudas.

“Essa falta de dados abrangentes afeta negativamente a efetividade das estratégias de prevenção e controlo das hepatites virais, dificulta a monitorização das políticas e programas em curso e, em última instância, impede o progresso em direção aos objetivos globais de eliminação”, alertam os autores.

Aumento no acesso ao tratamento

O relatório indica que, em 2022, houve acréscimo de 3% do acesso ao tratamento, tendo sido realizados 2.192. O diretor do programa diz que as coisas estão mais facilitadas, com menos burocracia, mas reconhece que depende de cada hospital o doente ter acesso imediato ao tratamento, na altura da prescrição.

“Por exemplo, no hospital de Santa Maria [Lisboa], o doente leva a medicação no próprio dia, portanto, não precisa de ir lá outra vez, como às vezes acontecia há um ano atrás”, exemplifica o responsável, lembrando: “Os hospitais de maior dimensão, que utilizam mais medicamentos, têm mais facilidade em ter stock ou pedir ao laboratório para trazer logo a medicação”.

O documento aponta para uma melhoria na notificação de casos confirmados de todas as hepatites no SINAVE (Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica) de 2021 para 2022 e, particularmente, uma “tendência crescente” de notificação de casos confirmados de hepatite B e hepatite C no sistema desde 2020.

A prevenção também teve resultados positivos em 2022, não só relativamente à vacinação contra a Hepatite B, com uma cobertura média de 97,8% nas últimas duas décadas, mas também através da distribuição de preservativos. Depois da redução na sequência da pandemia de covid-19, houve uma subida de 34% no número de preservativos distribuídos, que ultrapassou os 5,2 milhões, um valor próximo do registado em 2019.

Apesar da tendência de decréscimo dos últimos 12 anos, o Programa de Troca de Seringas distribuiu no último ano mais de um milhão.

Objetivo para 2024: acesso imediato ao tratamento

As metas para 2024 incluem a promoção do acesso imediato ao tratamento da hepatite C no momento da prescrição médica, da vacinação contra a hepatite B na população adulta, assim como uma melhoria do conhecimento sobre o tratamento da hepatite B em Portugal.

Melhorar a abordagem futura às hepatites “passará pelo acesso imediato aos tratamentos, de forma equitativa, ou pela melhoria do processo de notificação da doença, prevendo-se também a inclusão da Hepatite D como doença de notificação obrigatória”, refere uma nota da DGS.

Os autores do relatório mantêm para 2024 a intenção de cumprir “de forma global” os objetivos definidos pela Organização Mundial de Saúde para 2030 para as hepatites B e C, com uma redução da incidência (novos casos) em 90% e da mortalidade em 65%.

Segundo a DGS, como reconhecimento dos progressos registados na abordagem das hepatites, Portugal será, em 2024, o país anfitrião da 4.ª Cimeira Mundial das Hepatites, coorganizada pela OMS e pela World Hepatitis Alliance.

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