Provas mostram que Hamas recorreu a violência sexual nos ataques de 7 de outubro

22 jan, 12:29
Faixa de Gaza (EPA/ABIR SULTAN)

 

 

Atrocidades cometidas pelos militantes foram documentadas e têm sido analisadas pela unidade de investigação policial de Israel

As atrocidades cometidas pelo Hamas aquando os ataques de 7 de outubro provavelmente nunca serão conhecidas na sua totalidade, mas muitas delas foram gravadas e estão agora a ser analisadas pela principal unidade de investigação policial de Israel, Lahav 433.

De acordo com o The Guardian, a Lahav 433 está a analisar mais de 50 mil provas visuais e 1.500 depoimentos de testemunhas para conseguir provar os crimes, apesar de não conseguir calcular quantas mulheres e raparigas sofreram violência de género às mãos do Hamas.

Num dos vídeos analisados aparece Shani Louk, a jovem de 22 anos de nacionalidade israelo-alemã, deitada na parte de trás de uma carrinha, semi despida, enquanto um dos homens lhe puxa o cabelo e outros homens armados gritam louvores a Deus. 

Através do cruzamento de depoimentos à polícia, dos testemunhos e das fotografias e dos vídeos capturados por sobreviventes e socorristas, a unidade conseguiu encontrar provas para, pelo menos, seis agressões sexuais nas quais duas das vítimas assassinadas tinham menos de 18 anos.

Segundo o jornal, que cita Ruth Halperin-Kaddari, professora de direito e defensora dos direitos das mulheres a nível internacional, a análise das provas até ao momento mostram que pelo menos sete mulheres mortas foram também violadas durante o ataque. Por sua vez, o New York Times e a NBC identificaram mais de 30 mulheres e raparigas mortas cujos corpos apresentam sinais de abuso, tais como órgãos genitais ensanguentados e falta de roupa.

Aquando os ataques de 7 de outubro, as morgues em Israel ficaram sobrecarregadas e, preocupadas em identificar os corpos - dado o elevado número de vítimas e o seu estado queimado ou desfigurado - não tiveram tempo ou capacidade para testar as vítimas para agressões sexuais, segundo revelou o porta-voz da polícia, Mirit Ben Mayor. O jornal israelita Haaretz acrescenta que outro dos problemas foi a falta de pessoal qualificado, uma vez que existem apenas sete patologistas treinados em Israel.

Já a maioria dos trabalhadores da Zaka (onde a maioria dos trabalhadores são homens ultra-ortodoxos conservadores), a organização de resposta a emergências em Israel, nem sequer equacionou a possibilidade de as mulheres assassinadas terem sido violadas. Um voluntário da organização diz mesmo que num kibbutz foi encontrada uma mulher nua da cintura para baixo, dobrada sobre uma cama e com um tiro na nuca, enquanto noutra casa, descobriu uma mulher morta com objetos nas partes íntimas, incluindo pregos.

No entanto, segundo o The Guardian, o testemunho mais pormenorizado de violação é o de uma jovem que participou no festival de música Supernova, onde morreram mais de 350 jovens. A testemunha, que foi baleada nas costas, contou que estava escondida na vegetação perto da estrada 232 quando chegou um grande grupo de atiradores do Hamas, que entre eles violaram e mataram pelo menos cinco mulheres.

Apesar das provas que mostram que o Hamas recorreu a violência sexual nos ataques e de ainda ser possível realizar alguns exames forenses póstumos, é improvável que alguma vez se conheça toda a extensão da violência de género cometida a 7 de outubro.

Desde os primeiros momentos após os ataques que o Hamas tem vindo a negar que as alegadas violações bárbaras tenham sido cometidas pelos seus apoiantes, com o grupo a dizer que as alegações nada mais são do que “uma coordenação de alguns meios de comunicação ocidentais com campanhas sionistas que promovem mentiras infundadas e afirmações destinadas a demonizar a resistência palestiniana”.

A tese do Hamas foi refutada pelos participantes na reunião da ONU em dezembro, onde foram mostradas evidências de violações através de imagens dos corpos, vídeos de depoimentos de elementos do Hamas sob interrogatório, testemunhos de polícias israelitas e pessoas que assistiram aos ataques de 7 de outubro. Os responsáveis pela preparação dos corpos antes dos cerimónias fúnebres descreveram que os combatentes do Hamas violaram algumas das vítimas e, propositadamente, dispararam ou mutilaram os genitais destas mulheres.

Em novembro, Cochav Elkayam Levy, presidente da comissão parlamentar sobre os crimes cometidos contra as mulheres nos ataques, disse que “a grande maioria das vítimas de violação e outras agressões sexuais em 7 de outubro foi assassinada e não poderá testemunhar”.

A ONU Mulheres afirmou à AFP estar “consciente das inquietações” em Israel e disse ter-se reunido com organizações de mulheres israelitas para “escutar os seus horríveis relatos sobre o que se passou em 7 de outubro” e “ajudar quanto possível a expor as atrocidades sexistas, incluindo as violências sexuais”.

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