"Faremos tudo o que for necessário". Presidente da Guiana admite base dos EUA em Essequibo

12 dez 2023, 14:15
Presidente Guiana Mohamed Irfaan Ali (AP)

Na véspera de se encontrar com Nicolás Maduro, na sequência do referendo sobre a potencial anexação de Essequibo pela Venezuela, Mohamed Irfaan Ali diz que tudo fará para "garantir a segurança, a integridade territorial e a soberania" do seu país. "A Guiana não está sozinha"

"Não temos medo. O que temos é de preparar-nos para qualquer eventualidade por causa da retórica vinda da Venezuela." É assim que o presidente da Guiana se refere ao recente referendo organizado por Caracas com vista à anexação de Essequibo, um território na fronteira com a Venezuela rico em petróleo e outros recursos naturais, cuja soberania foi atribuída aos guianeses em 1899.

Em entrevista à BBC, antes de um encontro com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, marcado para quinta-feira, Mohamed Irfaan Ali foi questionado sobre se pondera aceitar a instalação de uma base militar norte-americana no território, na sequência de exercícios militares conjuntos na última semana.

"Faremos tudo o que for necessário para garantir a soberania e a integridade territorial da Guiana. Estamos a monitorizar todas as ações da Venezuela [...] e no momento certo tomaremos a decisão apropriada."

Perante a insistência dos jornalistas sobre se essa decisão pode passar pela instalação de tropas dos EUA em Essequibo, o presidente guianês referiu-se apenas ao "apoio de todos os nossos aliados, independentemente do formato que isso venha a ter".

Depois de o presidente da Venezuela ter nomeado um governador para Essequibo após a controversa vitória do sim no referendo de 3 de dezembro, o que se pode esperar do encontro com Maduro? "Temos muitas coisas para discutir", diz Irfaan Ali, mas nenhuma delas se prende com a soberania de Essequibo, que representa cerca de 74% do território da Guiana e sobre o qual o Tribunal Penal Internacional (TPI) tem jurisdição reconhecida por todos os atores mundiais à exceção da Venezuela.

"Temos a segurança energética regional, o desenvolvimento da região, como podemos trabalhar juntos nas mudanças climáticas. Como podemos coexistir. Como podemos reduzir as tensões. Mas não vamos comprometer nenhum desenvolvimento em Essequibo nem a posição do Estado [guianês] de que este caso será decidido pelo TPI."

Apesar de ser um país pequeno face à gigante Venezuela, a Guiana conta com apoios de peso, entre eles os EUA e também o Brasil, cujo presidente, Lula da Silva, "tem sido muito ativo" na defesa da soberania de Essequibo, assegura na mesma entrevista. "Estivemos em contacto em mais de uma ocasião. Ele deixou bem claro que apoia a Guiana, que apoia os termos do acordo de 1899 e que apoia o processo do direito internacional para garantir que o TPI é respeitado. Também me contactou para conversar e para me reunir com o presidente Maduro, para reduzir as tensões e garantir que a ameaça de força é retirada da equação."

As declarações referem-se à recente mobilização de tropas para a fronteira de 734 quilómetros que separa a Venezuela da Guiana, uma decisão tomada por Maduro dias depois da consulta popular e que, para o chefe de Estado guianês, corresponde a uma tática para "incutir medo no povo da Guiana". Questionado sobre se o Brasil está disposto a enviar apoio militar, Irfaan Ali responde: "Os militares brasileiros e da Guiana estão em conversações, é tudo o que posso dizer."

E quanto aos restantes aliados da Guiana, o que esperar? "Temos amigos. Temos aliados. Temos trabalhado com a comunidade internacional. A Guiana não está sozinha. Não vou entrar em detalhes sobre as nossas relações, mas temos conversado com França, com o Reino Unido, com os Estados Unidos. Os nossos amigos não vão permitir que a Guiana seja prejudicada."

Já quanto às reservas petrolíferas e de gás natural descobertas e coexploradas pela ExxonMobil na Guiana desde 2015, Irfaan Ali rejeita liminarmente a possiblidade de partilhar essas receitas com a Venezuela como forma de resolver a atual disputa.

"[Maduro] pode dizer o que quiser. Ele não é Deus. Ele não é o presidente da Guiana. Você está a falar com o presidente. Ele não tem autoridade para ligar para nenhuma empresa a operar na Guiana ou para qualquer indivíduo que opere aqui para qualquer reunião. [...] Como é que ele espera conseguir investimentos para a Venezuela se quer desestabilizar a região ou se quer usar uma ameaça de força que não ajudará ninguém?"

Para além disso, adianta o chefe de Estado guianês, "é interessante que, à população local da Venezuela, o presidente Maduro diz que a Exxon é o imperialismo", mas ao mesmo tempo "está a trabalhar ativamente para fazer com que a Chevron, a BP e até mesmo outras empresas multinacionais voltem a investir na Venezuela".

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