Foi chamada a imprensa mas o voo foi feito em secretismo. É uma nova era para a Força Aérea russa, acredita-se
“É uma máquina nova, muita coisa sobre ela é nova. É mais fácil de controlar. É fiável”. Foi assim que o presidente da Rússia apresentou o moderno Tu-160M, um bombardeiro estratégico capaz de carregar bombas nucleares.
Vladimir Putin entrou mesmo a bordo da aeronave, fazendo um curto voo de demonstração que pode bem ser entendido pelo Ocidente como uma amostra da capacidade e da determinação russas.
Batizado pela NATO de “Blackjacks”, este bombardeiro é uma versão modernizada daqueles desenvolvidos pela União Soviética na época da Guerra Fria, quando a ameaça nuclear estava diariamente presente.
Num fato adequado à ocasião e com grande encenação, Putin subiu uma grande escada para embarcar. Antes disso garantiu à imprensa presente que o avião era fiável e que já podia ser incorporado na Força Aérea russa.
"É claramente de uma nova geração. Como disse ao comandante, agora vou dizer novamente à liderança do Ministério da Defesa: claro que é possível aceitar [o avião] nas Forças Armadas", afirmou.
Um voo que surge poucos dias depois da morte de Alexei Navalny, figura que o Ocidente via unanimemente como o principal opositor do Kremlin, mas também quando diplomatas russos e ocidentais admitem que a tensão entre Rússia e Estados Unidos, as duas maiores potências nucleares, está num dos pontos mais altos da história recente.
A televisão russa mostrou, com pompa e circunstância, o Tu-160M, que os russos apelidam de “Cisne Branco”, a descolar e a aterrar na pista numa fábrica de Kazan onde se desenvolvem aviões supersónicos. Na televisão estatal russa foi possível testemunhar Pavel Zarubin, um entusiasmado repórter, a falar num “evento único”.
Já o Kremlin, na tentativa de aumentar a dimensão do evento, disse que o trajeto do avião era um segredo militar. Sabe-se apenas que esteve no ar durante 30 minutos e que Putin estava lá dentro.
Com uma tripulação composta por quatro homens, o Tu-160M consegue transportar 12 mísseis de cruzeiro e 12 mísseis de curto-alcance. Pode também voar cerca de 12 quilómetros de seguida (o que lhe dá capacidade para chegar a qualquer lado do mundo), mas é a capacidade de transportar ogivas nucleares que conseguem chegar a qualquer parte do mundo que o tornam especial.
A doutrina nuclear russa estabelece que o presidente só deve considerar a utilização de tais armas como resposta a um ataque nuclear ou outras armas de destruição maciça, além de armas convencionais que possam colocar em causa a própria existência do Estado russo.
Esta não é a primeira vez que Putin voa num avião destes. Em 2005 participou num treino com um Tu-160, mas esta nova versão, desenvolvida em 2018, é um novo passo na modernização.
Para já o bombardeiro nuclear ainda não está ao serviço da Força Aérea russa. Espera-se que isso aconteça em 2027, sendo que cada um destes aviões tem um custo estimado superior a 150 milhões de euros.
A Tupolev, fábrica responsável pelo desenvolvimento deste avião, afirma que a nova versão é 60% mais eficaz que a anterior, nomeadamente pelas melhorias de navegação, mas também de armamento.