Festa com pessoas seminuas em Moscovo motiva detenção de rapper e enfurece ativistas pró-guerra e conservadores russos

CNN , Anna Chernova
28 dez 2023, 17:29
Anastasia Ivleeva (AP)

Um dos participantes, o rapper Vacio, que apareceu apenas com uma meia a tapar os órgãos genitais, foi condenado a 15 dias de prisão e multado em 200 mil rublos (cerca de dois mil euros), depois de um tribunal de Moscovo ter decidido que o evento se destinava a "propagar relações sexuais não tradicionais"

Uma série de celebridades russas que apareceram com pouca roupa numa festa temática chamada "Almost Naked" ("Quase Nu") em Moscovo estão a enfrentar uma forte reação negativa, numa altura em que o país está em guerra na Ucrânia e as autoridades estão a promover uma agenda cada vez mais conservadora.

A festa, organizada pela blogger Anastasia Ivleeva, nos dias 20 e 21 de dezembro, no clube moscovita Mutabor, suscitou críticas de responsáveis da Igreja Ortodoxa e de ativistas pró-guerra, bem como de deputados pró-Kremlin.

Um dos participantes, o rapper Vacio (Nikolay Vasilyev), que apareceu apenas com uma meia a tapar os órgãos genitais, foi condenado a 15 dias de prisão e multado em 200 mil rublos (cerca de dois mil euros), depois de um tribunal de Moscovo ter decidido que o evento se destinava a "propagar relações sexuais não tradicionais".

Vasilyev foi considerado culpado de ofensas incluindo "hooliganismo".

"Nikolay Vasilyev (mais conhecido como rapper Vacio) participou numa festa no clube noturno 'Mutabor', perturbou a ordem pública, usou linguagem vulgar e divulgou publicações nos canais Telegram com o objetivo de promover relações sexuais não tradicionais nos meios de comunicação social e na Internet", diz a decisão do tribunal.

Nos últimos anos, o Kremlin expandiu uma série de leis anti-LGBTQ, uma mudança conservadora que se intensificou após a invasão da Ucrânia. No mês passado, o Supremo Tribunal da Rússia declarou o "movimento internacional LGBTQ" uma organização extremista.

A reação contra a festa em Moscovo surge numa altura em que o presidente russo, Vladimir Putin, se concentra cada vez mais nos valores tradicionais, em oposição àquilo que ele retratou como a decadência e a imoralidade do Ocidente.

Desculpas emitidas no meio de uma reação furiosa

Vasilyev foi um dos participantes na festa que emitiu um pedido de desculpas público.

Inicialmente, a organizadora Anastasia Ivleeva disse que as escolhas de vestuário dos convidados eram deles próprios e afirmou que o evento era uma oportunidade para mostrar fotografias feitas durante o seu tempo enquanto editora-chefe da edição russa da Playboy.

Na quarta-feira, Ivleeva divulgou um novo vídeo com mais de 21 minutos de duração, no qual se desculpa em lágrimas, pedindo perdão e uma segunda oportunidade, ou condenação pública.

Na terça-feira, foi intentada uma ação judicial contra Ivleeva por organizar a festa, pedindo uma indemnização de mil milhões de rublos (10 milhões de euros) por danos morais, informou a agência noticiosa estatal RIA Novosti.

Uma das outras participantes, a estrela pop Anna Asti, teve um evento de Ano Novo cancelado num outro clube em Moscovo, informou o local no seu site.

"Caros amigos, devido a razões alheias à nossa vontade, a atuação de Anna Asti foi reagendada para uma nova data, que anunciaremos em breve", dizia a mensagem.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, recusou-se a comentar na quarta-feira, afirmando: "Relativamente a esta festa, peço a vossa misericórdia: vamos continuar a ser os únicos no país a não discutir este assunto".

Ekaterina Mizulina, ativista pró-guerra e chefe da Liga da Internet Segura, agradeceu à polícia russa a sua resposta e partilhou no Telegram capturas de ecrã de mensagens de cidadãos preocupados e indignados.

"Como explicar ao meu sobrinho, que, enquanto participava na operação especial [guerra na Ucrânia], perdeu as duas pernas e ficou incapacitado, que foi pela roupa interior de Ivleeva que lutou e que acabou incapacitado?", lê-se numa das mensagens.

"Organizar este tipo de eventos numa altura em que os nossos jovens estão a morrer nas operações militares e muitas crianças estão a perder os seus pais é cínico", afirmou Mizulina na sua própria mensagem. "Os nossos combatentes na linha da frente não estão certamente a lutar por isto".

Entretanto, Vitaly Borodin, chefe do Projeto Federal de Segurança e Anti-Corrupção, expressou a sua indignação, chamando ao evento "sodomia, obscurantismo e propaganda LGBT", instando o Ministro da Administração Interna a enviar a polícia para o clube noturno Mutabor.

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