"É hora de falar": Zelensky dirige-se à Rússia e pede negociações que evitem perdas para várias gerações

19 mar 2022, 04:16
Volodymyr Zelenksy

Presidente ucraniano mostrou-se no centro de uma praça deserta em Kiev para dizer a Moscovo que "chegou a hora" de falar sobre "paz e segurança"

O presidente da Ucrânia afirmou esta sexta-feira ter chegado "a altura" de dialogar sobre "paz e segurança" e advertiu Moscovo que sem este diálogo as consequências para a Rússia vão ser sentidas por várias gerações.

"As negociações sobre paz e segurança para a Ucrânia são a única hipótese para a Rússia de minimizar os danos causados pelos próprios erros", declarou Volodymyr Zelensky, num vídeo publicado na rede social Facebook e filmado à noite, numa rua deserta em Kiev.

"Conversas no terreno sobre paz e segurança para a Ucrânia são a única possibilidade de a Rússia reduzir os danos dos seus próprios erros. É hora de nos reunirmos. É hora de falar. É hora de restaurar a integridade territorial e a justiça para a Ucrânia. Caso contrário, as perdas da Rússia serão tais que não terá gerações suficientes para se reerguer", escreveu Volodymyr Zelensky no texto que acompanha a publicação do vídeo.

Várias rondas de conversações entre Kiev e Moscovo decorreram já presencialmente e por videoconferência, desde o início da invasão russa da Ucrânia. A quarta ronda começou na segunda-feira ao nível de delegações a negociar à distância.

Rússia fala em "aproximação" sobre neutralidade

Na sexta-feira, ao início da noite, o chefe da delegação russa anunciou ter constatado "uma aproximação" de posições sobre a questão da neutralidade da Ucrânia e progressos sobre a desmilitarização do país.

"A questão do estatuto de neutralidade da Ucrânia e a não adesão à NATO é um dos pontos chave das negociações, e é o ponto sobre o qual as posições das partes estão mais próximas", declarou Vladimir Medinski, citado pelas agências de notícias russas. Todavia, assinalou existirem 'nuances' a propósito das "garantias de segurança" exigidas por Kiev.

Um dos membros da delegação ucraniana, o conselheiro da presidência Mikhailo Podoliak indicou que as "declarações da parte russa são as exigências [feitas] à partida". Podoliak escreveu na rede social Twitter que a posição ucraniana "não mudou: cessar-fogo, retirada das tropas [russas] e fortes garantias de segurança com fórmulas concretas".

Na quarta-feira, a Ucrânia considerou persistirem "contradições profundas" nas conversações russo-ucranianas, mas "um compromisso" é ainda possível. Os bombardeamentos russos de localidades ucranianas continuam enquanto decorrem as negociações, tomando como alvo várias infraestruturas civis.

Zelensky anuncia apoio aos ucranianos afetados pela invasão russa

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou esta noite um programa de apoio aos cidadãos afetados pela invasão russa. Na habitual mensagem de vídeo publicada diariamente, Zelensky adiantou que o governo ucraniano está a desenvolver um programa para prestar apoio aos cidadãos que foram forçados a fugir ou perderam as suas casas por causa da guerra.

De acordo com o presidente ucraniano, citado pela CNN Internacional, o programa deverá:

  1. Apoiar pessoas deslocadas a encontrar emprego nas cidades onde se encontram, "para que cada um dos nossos cidadãos, e cada família tenha ferramentas para a vida"
  2. Disponibilizar habitação aos deslocados e organizar esforços para reconstruir casas, assim que a guerra acabar
  3. Apoiar as famílias que recebem cidadãos ucranianos que fugiram de territórios ocupados pelas forças russas ou de áreas onde há confrontos: "No mínimo receberão um reembolso das despesas de serviços públicos relacionadas com o acolhimento de deslocados"

Zelensky diz que não sabe quantas pessoas morreram no ataque ao teatro

Sobre a cidade cercada de Mariupol, onde um teatro, refúgio de mais de mil pessoas, foi bombardeado na quarta-feira pelas forças russas, Zelensky afirmou que mais de 130 sobreviventes foram resgatados dos escombros.

"Alguns sofrem, infelizmente, de ferimentos graves. Mas, nesta fase, não dispomos de informações sobre um [eventual] número de mortos", indicou o líder ucraniano, precisando que "as operações de socorro prosseguem".

Zelensky disse que os corredores humanitários criados no país permitiram que mais de 180 mil ucranianos se afastassem dos combates, entre os quais mais de nove mil habitantes de Mariupol.

"Mas os ocupantes continuam a bloquear a ajuda humanitária, sobretudo em torno de zonas sensíveis. É uma tática muito conhecida (...) é um crime de guerra", acusou Zelensky. A Rússia "vai responder por isso. A 100%", reiterou.

 

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