Americanos apressaram-se a adotar órfãos ucranianos. A missão levou a uma investigação sobre tráfico de crianças

CNN , Por Rob Kuznia, Blake Ellis e Daniel A. Medina
1 mai 2022, 08:30
Crianças de um orfanato para necessidades especiais em Vinnytsia ainda não deixaram a Ucrânia. Mark Davis, da Abundance International, disse que por enquanto é mais seguro ficar naquela zona do país do que tentar atravessar a fronteira

Quando as bombas russas começaram a cair sobre a Ucrânia, no final de fevereiro, um cantor country, a meio mundo de distância, em Nashville, disse ter sentido o pânico de um pai cujo filho está em perigo.

O menino de nove anos para o qual Scooter Brown e a sua mulher, Vicki, tinham iniciado o processo de adoção, estava entre os que se escondiam na cave de um orfanato no centro da Ucrânia, quando três mísseis russos atingiram uma base militar a cerca de 100 quilómetros de distância.

Depois daquele episódio, os Brown decidiram agir por conta própria.

Scooter, um ex-fuzileiro musculado e barbudo, que lutou na linha da frente do Iraque em 2003, e cuja banda homónima produziu canções com títulos como "Guitars, Guns, and Whiskey" e "Wine Drunk", convenceu um "amigo das forças especiais" a juntar-se a ele no estrangeiro. Trabalharam com uma pequena organização de Nashville dirigida por outro veterano militar, numa tentativa de resgatar o futuro filho adotivo dos Brown, bem como outras crianças. A mulher, Vicki, chegou mais tarde para fornecer apoio adicional.

Scooter e Vicki Brown receberam o "Pequeno B", de 9 anos, nas férias de Natal do ano passado

O que se seguiu foi um conjunto de acontecimentos aleatórios que começou com Brown e o seu amigo a criar uma fortaleza de ecrãs de computador e quadros brancos, num hotel polaco. A partir daqui, enviaram a alguns colaboradores os detalhes de que precisavam para ir buscar passaportes a um apartamento em Kiev e fazer um resgate angustiante de uma mulher ligada ao orfanato, que estava presa num bunker.

"Nem um argumento de um filme teria todas estas coisas que aconteceram", disse Brown à CNN Internacional.

Mas a missão resultou num desastre e em muita confusão. Não só os Brown regressaram ao Tennessee sem as crianças, como a sua tentativa de resgate levou a uma investigação internacional de tráfico de crianças que o casal alegou ser infundada.

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, surgiram uma série de histórias sobre americanos, muitas vezes com boas intenções, que procuravam resgatar órfãos ucranianos e levá-los para um local seguro. Mas especialistas em adoção, membros de ONGs e defensores da segurança infantil disseram à CNN Internacional que se preocupam com o fim deste tipo de histórias.

Algumas destas missões foram detalhadas, e até mesmo louvadas, em notícias. Um pastor e um grupo de frequentadores da igreja alegadamente voaram para a Polónia com a esperança de trazer temporariamente crianças para o Missouri. Dois homens da Pensilvânia, um empresário e um padre católico, foram para a Ucrânia, de onde transportariam 22 órfãos ucranianos para a vizinha Lituânia com o plano original, agora em espera, de levar alguns deles para um porto seguro temporário em Pittsburgh. Uma mãe de 55 anos viajou para a Ucrânia - a certa altura refugiou-se num centro comercial da zona de Lviv, durante um ataque de rockets que abalou o edifício - para estar perto da adolescente que pretendia adotar e levar para o Kentucky. E um antigo legislador do estado de Washington com ligações à extrema-direita, que esteve envolvido num resgate dramático de mais de 60 crianças de um orfanato em Mariupol, mais tarde destruído, tornou-se o foco do escrutínio, depois de as crianças acabarem na Polónia e ele ter entrado em conflito com um voluntário polaco que questionou os seus motivos. Agora, um procurador polaco poderá iniciar uma investigação sobre o assunto.

"É o que eu chamo a reação de Rambo, que é entrar e retirá-los de lá", disse Nigel Cantwell, um consultor de política de proteção à criança na Suíça, que muitas vezes trabalha com a UNICEF. "E isso é, para mim, uma enorme preocupação na proteção das crianças."

Refugiados ucranianos fazem fila para entrar em autocarros para outros destinos na Polónia, em frente à estação de comboios de Przemysl, perto da fronteira ucraniano-polaca, no sudeste da Polónia, a 16 de março de 2022

Os americanos que tomam medidas extremas para resgatar órfãos em perigo e levá-los para os Estados Unidos dizem que muitas destas crianças não têm ajuda parental e estão ansiosas para integrarem uma família num ambiente estável, mesmo que temporariamente.

"Só queremos que as crianças estejam aqui connosco com uma casa e uma família, rodeadas de pessoas que conhecem e amam", disse Melissa Nowicki, da zona norte de Nova Iorque, que tinha acolhido e está agora a tentar adotar um rapaz de 11 anos, que estava entre os mais de 60 órfãos que o legislador do estado de Washington, Matt Shea, ajudou a resgatar em março. Shea, um pastor que está a tentar adotar quatro das crianças, não respondeu aos e-mails ou chamadas da CNN Internacional, para tentar obter uma reação, mas num podcast cristão de direita, disse que os relatos dos jornais locais eram "fake news" e acusou os jornalistas de parcialidade.

De qualquer forma, as missões independentes para tirar órfãos do país podem abrir um precedente que facilita o desaparecimento de outras crianças que, em última instância, poderão ser exploradas ou mesmo traficadas, alertam os especialistas. Os números ainda são escassos, mas já há relatos de crianças desaparecidas depois de atravessarem a fronteira, disse um porta-voz da Save the Children, uma organização humanitária que ajuda crianças durante conflitos e outras situações de emergência.

Alguns grupos que se dirigem para a zona de perigo não têm um historial comprovado de conseguirem cuidar de crianças ou atuar em zonas de combate, dizem os especialistas. Além disso, a maioria das crianças que vive em orfanatos ucranianos tem pais ou familiares que ainda são seus tutores legais, de acordo com o Departamento de Estado dos EUA, por isso, enviar qualquer pessoa para o estrangeiro, nestes tempos de agitação, poderá implicar separar as crianças das suas famílias imediatas ou alargadas. O Departamento de Estado acrescentou que o Governo ucraniano não aprova que as crianças ucranianas viajem para os EUA, ainda que temporariamente, neste momento.

"A poeira tem de assentar", disse Mark Davis, que dirige uma organização sem fins lucrativos chamada Abundance International, que trabalha com muitos dos orfanatos na Ucrânia. "Não se pode simplesmente pegar numa criança e levá-la para casa."

Um orfanato de necessidades especiais em Vinnytsia, na Ucrânia, criou uma zona de convívio subterrânea, para quando as sirenes de ataque aéreo disparam, o que Mark Davis da Abundance International diz acontecer três a quatro vezes por dia

Davis disse que alguém tentou convencê-lo a "colocar os órfãos num autocarro e levá-los para lá da fronteira" sem um plano sobre onde ficariam ou acederiam a cuidados médicos, enquanto outros dois homens que não conhecia lhe pediram 100 mil dólares para levar órfãos para outra zona do país.

Adam Pertman, presidente de um grupo político chamado Centro Nacional de Adoção e Permanência, disse que o frenesim para salvar crianças na Ucrânia segue um padrão: durante quase todos os conflitos ou catástrofes naturais no exterior, as agências de adoção dos EUA são inundadas com chamadas de americanos que querem adotar, mas não estão informados sobre os procedimentos em vigor para proteger as crianças.

"A melhor prática é manter a criança o mais perto possível de casa", disse. "No meio de uma guerra como esta, não se pode saber se um dos pais está vivo. Procuram-se as pessoas que conhecem a criança."

A Cáritas Polónia tem prestado assistência a cerca de 700 crianças e a cuidadores de orfanatos ucranianos e centros de reabilitação na sequência da invasão russa

“A ideia de que estão a ser feitas tentativas, durante o atual conflito, para trazer crianças ucranianas que ainda têm pais para os Estados Unidos não é uma hipótese”, disse Teresa Fillmon, diretora executiva de uma instituição de solidariedade ucraniana que trabalha com órfãos chamada His Kids Too!.

Teresa conhece uma mãe ucraniana que deixou temporariamente três dos quatro filhos numa instituição, porque se sentiu sobrecarregada. Fillmon, que divide o seu tempo entre a Ucrânia e a Florida, onde vive atualmente, passou vários dias a tentar contactar a mãe para lhe dizer que uma instituição de acolhimento andava à procura das três crianças para as enviar para famílias nos Estados Unidos. (Fillmon recusou-se a dizer qual é a instituição.) Mas a casa da mãe fica a poucos quilómetros da linha da frente e a cobertura de rede do telemóvel, juntamente com a eletricidade e a água corrente, tem sido inexistente há semanas.

Fillmon, cuja instituição opera na Ucrânia desde 1998, disse que não conseguiu localizar as crianças ou a mãe, e acrescentou que tenciona viajar para a Ucrânia "para ver o que se passa".

Teresa Fillmon, diretora executiva de uma instituição de solidariedade ucraniana que trabalha com crianças órfãs, chamada His Kids Too!, com uma mulher, à direita, com quem trabalha há anos. (Não é a mãe que Fillmon tem tentado contactar)

"É analfabeta, não sabe ler", disse Fillmon sobre a mãe. "Mas isso não significa que tenham de lhe tirar os filhos."

Em meados de março, o Governo ucraniano - que luta para sobreviver e mal consegue acompanhar milhares de órfãos deslocados - emitiu uma suspensão de adoções internacionais, manifestando preocupações de que a guerra traga o risco de exploração ou tráfico de crianças.

100.000 'órfãos'

Durante décadas, a Rússia foi um país popular para adoções por parte dos americanos. Mas no final de 2012, o Presidente russo, Vladimir Putin - em parte em resposta a uma lei de direitos humanos que visava os russos acusados de violações dos direitos humanos, assinada pelo então Presidente Barack Obama - proibiu as adoções de russos por cidadãos norte-americanos.

Desde então, embora o número de adoções por parte de americanos tem vindo a cair constantemente há quase 20 anos - incluindo da Ucrânia. A Ucrânia substituiu essencialmente a Rússia, como um dos principais países a partir dos quais os americanos adotam crianças.

Uma criança anda por um corredor, num orfanato em Lviv, na Ucrânia, que alberga 40 crianças dos três aos 18 anos. Lviv tem servido como paragem e porto de abrigo aos ucranianos que fogem da invasão russa, que se dirigem quer para a segurança dos países vizinhos quer para a segurança relativa do oeste da Ucrânia

Entretanto, a Ucrânia não está entre as 104 nações que estão ao abrigo da Convenção de Haia sobre Adoção de 1993, criada pela Conferência de Haia de Direito Internacional Privado. Isto significa que não há garantias de que a adoção tenha sido feita na sequência das salvaguardas e procedimentos estabelecidos por este tratado internacional, tais como a verificação da adoção da criança e a elegibilidade dos pais adotivos, disse um representante de Haia à CNN num e-mail.

"Assim, não há garantias de que a adoção internacional tenha decorrido no interesse da criança e respeitando os seus direitos fundamentais", disse o responsável.

À primeira vista, parece que a Ucrânia tem um grande conjunto de crianças que podem ser adotadas. A sua população infantil que vive em orfanatos e outras instituições de acolhimento – cerca de 100.000 – era a mais numerosa da Europa antes da guerra", disse um porta-voz da UNICEF à CNN Internacional, acrescentando que representa 1,3% de todas as crianças do país.

Mas, como os especialistas observaram, a maioria não são órfãos no sentido literal, na medida em que têm ligações familiares ou a tutores legais.

Muitos vivem em orfanatos para receber cuidados especializados para incapacidades clínicas ou outras necessidades que não podiam ser satisfeitas pelas famílias.

"Não é que os abandonem", disse Teresa. "Eles amam os filhos. Só não podem tomar conta deles naquele momento. E isso não é motivo para que um americano possa vir cá e buscá-los."

"Não tenho ninguém"

Mas alguns pais adotivos dizem que há órfãos ucranianos que foram abandonados pela família há anos e estão desesperados para serem adotados.

Colleen Thompson e o marido, David, do Kentucky, têm enfrentado obstáculos burocráticos para adotar uma adolescente chamada Maure, desde há três anos. No início de março, a adoção estava perto de ser finalizada, mas foi adiada devido à guerra. Maure e outras crianças refugiaram-se na cave de um orfanato de Donetsk, para se protegerem da carnificina nas ruas. Thompson, de 55 anos, decidiu ir à Ucrânia para encerrar o processo e levar Maure para casa, para junto de dois filhos biológicos e seis adotivos da Ucrânia.

Colleen Thompson viajou para a Ucrânia a partir do Kentucky durante a guerra, para finalizar a adoção de Maure, que completou 18 anos em fevereiro

Um dia, Thompson estava num centro comercial perto de Lviv, para onde os órfãos tinham sido enviados, quando ela e centenas de compradores tiveram de se abrigar durante um ataque de rockets a um alvo próximo, que literalmente abalou o centro comercial. Ela sentou-se perto de um quiosque de ursos de peluche durante algumas horas, e acabou por conseguir fugir para o estacionamento. Foi até à casa de uma amiga na Ucrânia, atravessando uma cidade em pânico.

"Havia tantas sirenes a tocar, pareciam sirenes da Polícia", disse Thompson à CNN, a partir da casa da amiga, onde tem estado hospedada. "Havia pessoas a conduzir no sentido contrário, pessoas a buzinar... Foi assustador."

Numa audiência de adoção em Lviv, há várias semanas, Thompson pôde continuar com o processo, em parte porque Maure, que foi institucionalizada aos 4 anos, fez 18 anos poucos dias antes da invasão. O juiz perguntou à adolescente se tinha família por perto, contou Thompson.

"Eu segurava-lhe a mão e ela estava a falar com o juiz. Eu estava sentada ao lado dela e ele perguntou-lhe: 'Onde está a tua mãe? E o teu pai? Irmãos?” E ela disse: “Eu não tenho ninguém’”, disse Thompson, ex-executiva de marketing, que agora é mãe a tempo inteiro e voluntária numa instituição americana sem fins lucrativos ao serviço dos órfãos ucranianos. "As lágrimas caíam-me no vestido."

Colleen Thompson teve de se abrigar num quiosque de ursos de peluche, num centro comercial perto de Lviv, por causa de um ataque de rockets a um alvo próximo

Thompson espera que o pedido de adoção de Maure seja aprovado em breve. Mas diz que o sistema tem sido duro para ela. “Um juiz adiou a decisão nessa audiência, no final de março, e fê-lo novamente na segunda-feira, dizendo que queria ouvir o Governo ucraniano”, disse Thompson.

"A minha filha chorava, enquanto o juiz sugeria que ela acompanhasse o seu orfanato de Donetsk para Itália, para onde se mudariam em breve", disse ela num e-mail.

O Departamento de Estado norte-americano recusou-se a comentar as tentativas específicas de levar órfãos ucranianos para os Estados Unidos, por questões de privacidade. Mas um porta-voz indicou, em declarações à CNN, que a agência reprova missões de resgate voluntárias.

"Sabemos que alguns cidadãos norte-americanos querem oferecer-se para abrir as suas portas e adotar, acolher ou receber estas crianças", disse um porta-voz em comunicado. "No entanto, o Governo ucraniano confirmou que não aprova que as crianças participem em programas de acolhimento, neste momento."

A maioria das famílias que procura adotar crianças da Ucrânia não embarca em missões perigosas para resgatar os filhos escolhidos para adoção.

Gina e Chris Callahan, da zona da Baía de São Francisco, cumpriram as regras e estavam quase a concluir um processo de dois anos de adoção de uma menina de 11 anos, quando a guerra pôs todos os seus esforços em standby.

Em janeiro, Chris e Gina Callahan, da Califórnia, tiveram a aprovação do Governo ucraniano para adotar uma criança. Em março, a adoção foi adiada, quando Kiev emitiu uma suspensão a todas as adoções internacionais, com receio de que a guerra trouxesse o risco de exploração ou tráfico de crianças

 

O quarto que os Callahan fizeram para a filha adotiva de 11 anos, na sua casa na zona da Baía de São Francisco

"Ficámos arrasados", disse Gina Callahan à CNN.

Eles, os Nowicki e os Thompson estão entre as 200 famílias americanas que iniciaram o processo de adoção de cerca de 300 crianças ucranianas, antes do início da guerra. Esse grupo pressionou o Departamento de Estado a conceder vistos especiais para as crianças virem e ficarem temporariamente com as famílias adotivas nos Estados Unidos, durante a guerra.

Embora tenham o apoio bipartidário de mais de 70 membros do Congresso, até à data, o Departamento de Estado não agiu em seu nome.

"Estes loucos heróis"

E depois há os Brown, que se encarregaram de resgatar órfãos ucranianos, incluindo aquele que pretendem adotar. Scooter e Vicki Brown receberam o "Pequeno B", de 9 anos, como lhe chamam, durante as férias de Natal do ano passado, e disseram que souberam em poucos dias que queriam que ele fizesse parte da família.

Iniciaram o processo de adoção em janeiro, e esperavam ter a aprovação do Governo ucraniano a tempo de levá-lo para casa no Natal. Quando souberam da iminente invasão, capitalizaram o passado militar de Scooter e começaram imediatamente a planear uma operação para o levar, juntamente com mais quatro crianças que os amigos tinham acolhido anteriormente, para os Estados Unidos, onde os Brown acharam que as crianças estariam a salvo até que a guerra acalmasse.

"O meu plano original era sermos uns heróis loucos e resgatar os nossos cinco filhos", disse Vicki. "Eu disse que ia fazê-lo, independentemente daquilo que alguém dissesse."

Scooter Brown disse que ajudou a planear e dirigir a operação para levar o "Pequeno B" e outras quatro crianças para a América, a partir do seu quarto de hotel em Varsóvia, na Polónia

Ao chegar à Polónia, Scooter, que viajou uns dias antes da mulher, avaliou a situação. Soube que os passaportes das crianças, que seriam necessários para levá-las para Nashville, estavam num apartamento vazio em Kiev. Era final de fevereiro, por isso os bombardeamentos já eram constantes. E sinistras imagens de satélite mostravam uma coluna de veículos militares russos a avançar em direção à capital. A mulher que tinha ajudado com o programa de alojamento do orfanato e estava encarregue dos passaportes, tinha-os deixado para trás quando deixou o seu apartamento para se abrigar num bunker. Scooter e os amigos arranjaram alguém para ir ao apartamento buscar os passaportes e entregá-los à mulher no bunker. Depois, um taxista disposto a participar na missão, levou-a pela cidade sitiada, a caminho de uma casa segura.

Assim que Scooter soube que os passaportes estavam a salvo, estava na hora de ir buscar as cinco crianças ao orfanato, no centro da Ucrânia.

Foi quando o plano foi desvendado.

O diretor do orfanato, Oleksandr Lobanov, contou o que aconteceu depois, numa entrevista à CNN. Enquanto decorria a missão dos Brown, o dono de um resort lituano ofereceu-se para receber lá as crianças e enviou um autocarro para as recolher. Ele Queria que todos viajassem juntos para a Lituânia, antes que a Vicki recolhesse as cinco crianças, por isso, ela também fez a caminhada.

Quando o autocarro chegou ao resort, Lobanov disse que soube que a dona ficou desconfiada, quando soube do plano para levar várias crianças para os Estados Unidos. Pouco tempo depois, disse que as autoridades lituanas o notificaram de que estava a ser investigado por tentar vender crianças a Vicki, uma alegação que negou veementemente. Disse que o único dinheiro que aceitou de Vicki foi para cobrir as despesas de alojamento, e que não havia planos para as crianças serem adotadas nos Estados Unidos de momento.

Os Brown, quando questionados sobre a investigação, disseram que "não há absolutamente nenhum indício de tráfico, nem surgirão quaisquer provas. Isto só está a causar mais stress e traumas às crianças, que já vêm de uma situação difícil." E em entrevistas sobre o plano original, sublinharam que as estadias teriam sido temporárias e que os seus esforços começaram antes de os governos ucraniano e norte-americano emitirem suspensões sobre estadias e adoções.

Lobanov disse que não havia motivos para iniciar uma investigação e que está zangado por o Governo lituano ter assumido a custódia das crianças. Disse que gostaria de transferir o grupo para a Alemanha, mas que as autoridades lituanas estão a impedi-los de sair. Disse ainda que está preocupado com as crianças, porque lhe disseram que querem deixar a Lituânia, que não comem muito e que estão a ser continuamente questionadas pelas autoridades. O Serviço Estatal de Proteção dos Direitos da Criança e Adoção do Governo lituano disse à CNN que elas estão seguras e que ficarão na Lituânia até que seja seguro regressarem à Ucrânia.

"Há queixas e denúncias sobre possíveis violência e tráfico de seres humanos relativamente ao grupo de 43 crianças da Ucrânia", disse um porta-voz da agência governamental. "Suspeitamos que estava previsto levarem crianças para um terceiro país, com o objetivo de adotá-las lá. Informámos as autoridades sobre esta possibilidade, e o caso está a ser investigado."

A procuradoria-geral lituana disse, em comunicado, que abriu uma investigação ao possível tráfico de crianças no mês passado, mas não confirmou se a investigação incluiu os Brown, ou se a intenção era levar crianças para os Estados Unidos. "De acordo com a informação atualmente disponível, algumas destas crianças destinavam-se a ser transferidas para outro estado, alegadamente para estadias temporárias em família, mas também existem indícios de que se destinavam a ser ali adotadas", refere o gabinete.

Lobanov disse que quando os mísseis começaram a voar diretamente sobre eles e as tropas russas surgiram perto do orfanato, estava determinado a fazer o que fosse preciso para as pôr em segurança.

Refugiados ucranianos atravessam uma ponte na Ucrânia, perto da fronteira polaca, a 6 de março de 2022

"Só estávamos a salvar as crianças de possivelmente serem mortas", disse Lobanov.

Olhando para trás, os Brown dizem que percebem que podiam ter tido mais paciência e esperar mais tempo, antes de entrar em ação. Mas, na altura, entraram em pânico e não sabiam o que mais fazer ou o que ia acontecer, pois parecia ser uma situação de "vida ou morte".

"Senti que se não fizesse nada, ninguém faria", disse Vicki. "Queria estar lá com ele e queria que ele soubesse que está a salvo e que o amamos... Queria que ele pensasse: "Eles estão aqui, vieram buscar-me." Queria que fôssemos resgatá-lo."

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