A Crimeia é "uma vulnerabilidade imensa" da Rússia. Os ataques ucranianos não vão parar - a Ucrânia atingiu "a conjugação perfeita"

CNN Portugal , ARC
26 set 2023, 14:00

Especialista em geoestratégia explica à CNN Portugal que esta fragilidade revelada pelo invasor mostram às forças ucranianas que estão no caminho certo

A Crimeia, ilegalmente anexada pela Rússia em 2014, tem sido palco de sucessivos ataques nas últimas semanas, com a Ucrânia a considerar a última ofensiva, na segunda-feira, uma das mais bem sucedidas, ao resultar na morte de 34 oficiais russos, um deles o comandante da Frota do Mar Negro.

Mas porque é que a Ucrânia quer tanto atingir a Crimeia? “Em primeiro lugar, porque já aprenderam o caminho”, explica o major-general Arnaut Moreira, em entrevista no CNN Prime Time, garantindo que foi isso que as tropas ucranianas estiveram a fazer nas últimas semanas - “a criar condições para o sucesso destes ataques”.

Estas semanas de trabalho, como lhes chama o especialista em geoestratégica, levaram os ucranianos a atingir “a conjugação perfeita daquilo que é um ataque com drones para desgastar os sistemas, para os iludir [aos russos] e depois um ataque final com os mísseis de cruzeiro”.

Ora, tudo isto culmina numa descoberta importantíssima da parte de Kiev: a existência de “uma vulnerabilidade imensa” da Rússia, o que leva as tropas ucranianas a aproveitar “uma janela de oportunidade” para “infligir o máximo de danos sobre a estrutura que é a jóia da coroa do Mar Negro”: a frota russa na região, como aconteceu esta segunda-feira quando dois mísseis Storm Shadow atingiram o quartel-general da frota russa na cidade de Sebastopol.

“O ataque dá fôlego e dá animo também político - não só militar à Ucrânia - e mantém firme a capacidade de defesa e resiliência ucraniana”, garante a especialista em Relações Internacionais Sónia Sénica, também no CNN Prime Time. A ação contra o que a comentadora da CNN Portugal diz ser “o âmago da pérola da relevância da força militar russa no Mar Negro” terá vitimado, para além de mais de 34 oficiais da armada, o almirante Viktor Sokolov.

Todos os ataques daqui em diante terão como objetivo “explorar esta vulnerabilidade que foi descoberta e trabalhada”, acrescenta Arnaut Moreira.

A Rússia ainda não se pronunciou sobre este ataque a Sebastopol, que parece confirmar a crescente capacidade da Ucrânia atacar muito para lá das linhas da frente, mas o que fará Moscovo perante a exposição desta vulnerabilidade? “É provável que a Federação Russa vá procurar tapar e compensar esta vulnerabilidade, através da instalação de novos sistemas de artilharia antiaérea”, explica o major-general. Arnaut Moreira alerta ainda para “um problema muito complexo”: “Os próprios sistemas S-400 não têm a eficácia que até ao momento lhes era atribuída, o que significa que esta vulnerabilidade, apesar de poder ser reduzida, pode não ser completamente eliminada.”

Condições que não deixam dúvidas ao especialista em geoestratégia: “Os ucranianos não largam a Crimeia, nem vão largar.”

Os ataques da Ucrânia à Crimeia, ocupada pela Rússia, têm sido uma constante. Um dos casos mais marcantes teve lugar em julho, quando as tropas ucranianas atingiram a Ponte de Kerch, que liga a Rússia à Crimeia, com um drone marítimo. Nessa altura, Kiev prometeu outras “operações interessantes”.

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