Boris Johnson criticado por comparar resistência dos ucranianos ao Brexit. "As suas palavras ofendem os ucranianos"

20 mar 2022, 15:30

As declarações de Boris Johnson surpreenderam os líderes de vários países europeus, não só porque a Ucrânia formalizou o pedido de adesão à União Europeia no mês passado, na sequência da invasão, mas também porque compara a luta pela sobrevivência de um país com a escolha dos britânicos.

Boris Johnson está a ser alvo de várias críticas por parte de líderes políticos europeus e britânicos depois de comparar a luta dos ucranianos na defesa do seu país à decisão do Reino Unido de sair da União Europeia (UE).

No discurso de encerramento do Congresso do Partido Conservador, que decorreu este sábado em Blackpool, o primeiro-ministro britânico começou por salientar que uma vitória da Rússia na Ucrânia "significará o início de uma nova era da intimidação por toda a Europa de Leste", pelo que o mundo está a enfrentar agora um momento em que tem de escolher "entre a liberdade e a opressão".

"Sei que há algumas pessoas no mundo, até em alguns governos ocidentais, que invocam aquilo a que chamam 'real politik' e que dizem que seria melhor chegarmos a acordo com a tirania", acrescentou.

"Eu sei que o instinto das pessoas deste país [Reino Unido], tal como o dos ucranianos, é escolher a liberdade, sempre", disse, e deu "um exemplo recente" disso mesmo – o Brexit: "Quando os britânicos votaram a favor do Brexit, em grande escala, não acredito que o fizeram porque eram minimamente hostis em relação aos estrangeiros. Mas porque quiseram ser livres para fazer as coisas de forma diferente e para que este país se possa gerir a si próprio."

As declarações de Boris Johnson surpreenderam os líderes de vários países europeus, não só porque a Ucrânia formalizou o pedido de adesão à UE no mês passado, na sequência da invasão russa, mas também porque sugeriam que o Reino Unido saiu do bloco europeu para escapar à sua "tirania".

O antigo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, classificou as palavras de Boris Johnson como uma ofensa para o povo ucraniano: "Boris Johnson compara a luta dos ucranianos ao voto do povo britânico pelo Brexit. Ainda me lembro do entusiasmo de Putin e Trump após o referendo. Boris, as suas palavras ofendem os ucranianos, os britânicos e o bom senso.”

Também Guy Verhofstadt, ex-primeiro-ministro da Bélgica que representou o Parlamento Europeu nas negociações do Brexit, descreveu a comparação da "luta corajosa da Ucrânia" com o processo da saída do Reino Unido da UE como "insana".

"O Brexit foi sobre desfazer liberdades e deixar a UE. Os ucranianos querem mais liberdade e desejam aderir à UE", frisou, numa publicação no Twitter.

Os conservadores britânicos também manifestaram o seu desagrado para com as declarações de Boris Johnson. Gavin Barwell, um ex-deputado conservador, sublinhou que o voto no Brexit "não é comparável" à luta pela sobrevivência e pela defesa de um país contra uma invasão. Barwell disse ainda que esta comparação é "embaraçosa", lembrando que "os ucranianos estão a lutar pela sua liberdade para aderirem à UE", lembrando o pedido de Zelensky para se juntar aos 27.

Boris pede à China que condene a invasão russa

Depois de um sábado marcado por um discurso duramente criticado, Boris Johnson deu este domingo uma entrevista ao The Sunday Times na qual deixou um apelo à China, aliada estratégica de Moscovo, para se juntar aos países ocidentais na condenação à invasão russa.

“À medida que o tempo passa e o número de atrocidades russas aumenta acho que se torna cada vez mais difícil e politicamente inconveniente para as pessoas, ativa ou passivamente, tolerar a invasão de Putin", disse o líder britânico.

O chefe do executivo britânico considerou que os países que não querem decidir em que lado se posicionam neste conflito, estão confrontados com "dilemas consideráveis".

"Acho que em Pequim começam a surgir dúvidas", acrescentou.

Relacionados

Europa

Mais Europa

Patrocinados