Quinze pessoas perdem a vida a cada hora. Um mês depois do ataque do Hamas a Israel, vive-se o inferno em Gaza

7 nov 2023, 07:00
Bombardeamento israelita a Jabaliya atinge civis palestinianos na Faixa de Gaza (AP)

Os números falam por si. Um mês depois, a espiral de violência na região não para de aumentar. A cada hora que passa, 15 pessoas perdem a vida e 274 habitações são destruídas

Ninguém estava preparado para o que estava prestes a acontecer na manhã de 7 de outubro, quando três mil militares do Hamas que entraram de surpresa no território israelita espalharam o pânico e a morte, tirando a vida a 1.400 pessoas. Em simultâneo, mais de cinco mil foguetes do Hamas foram disparados num espaço de 20 minutos, sobrecarregando o sistema de defesa antiaérea israelita. Ao final do dia, os terroristas raptaram cerca de 241 pessoas, entre crianças, idosos, ativistas e soldados, levando-os para Gaza. Apenas cinco acabaram por ser libertados.

Diversas comunidades agrícolas na fronteira foram massacradas pelos terroristas do Hamas, bem como um festival de música junto à fronteira, onde cerca de 260 pessoas foram mortas e feridas. Este dia tornou-se o mais sangrento massacre de judeus desde o Holocausto e obrigou a que cerca de 250 mil israelitas fossem deslocados.

Um mês depois do ataque terrorista do Hamas contra várias localidades fronteiriças no dia 7 de outubro, a campanha militar israelita só tem vindo a aumentar de intensidade. Nos primeiros dias, marcados pela chamada ao serviço de centenas de milhares de reservistas e pela declaração de guerra do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, Israel começou uma campanha de bombardeamentos aéreos contra posições conhecidas do Hamas na cidade.

Apenas na primeira semana do conflito, seis mil bombas pesadas de precisão atingiram alvos dentro da cidade. Mais de mil edifícios foram arrasados, em sete dias de bombardeamentos, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários. Nestes primeiros dias, a cada hora 15 pessoas perdiam a vida, das quais seis eram crianças, e 35 ficavam feridas, vítimas das 42 bombas caem a cada 60 minutos e destroem 12 edifícios.

Pouco tempo depois, no dia 11 de outubro, a liderança da nação judaica anuncia que ia intensificar o bloqueio à região. Israel ordenou o corte do fornecimento de comida, água, eletricidade, telecomunicações e combustível. As Nações Unidas alertaram para os riscos cada vez maiores de uma crise humanitária.

À medida que milhares de reservistas são reintegrados nas Forças Armadas, Israel reforça as fronteiras a norte com o Líbano, onde o Hezbollah permanece uma ameaça, e pede para que os mais de dois milhões de civis palestinianos se dirijam para sul da Faixa de Gaza, junto da passagem de Rafah.

Durante semanas, a comunidade internacional observou enquanto Israel preparava o terreno para a invasão terrestre. Dezenas de líderes do Hamas foram mortos na campanha de bombardeamento. A entrada dos militares israelitas em Gaza começou no dia 27 de outubro. Imagens partilhadas nas redes sociais pelo Hamas, mostram militantes a sair de túneis e a emboscar colunas de veículos blindados israelitas.

Fotografias de alta-definição publicadas pelo fornecedor de imagens de satélite Planet Lab permitem antecipar a estratégia israelita. As forças armadas de Israel estão a cercar a cidade de Gaza em três eixos. O principal avanço aconteceu a Sul, através de Juhor ad Dik, onde os blindados israelitas cortaram o território de Gaza em dois. A Norte, o avanço das tropas parece estar a acontecer junto à costa, onde já foram vistos veículos militares juntos a Shati e em direção da Beit Hanoun.

No entanto, é difícil avaliar o efeito do impacto dos bombardeamentos israelitas no Hamas. O grupo terrorista opera numa vasta rede de túneis, alguns dos quais a mais de 60 metros de profundidade, que se estende a mais de 500 quilómetros. Israel garante estar a destruir estas estruturas com bombas que destroem alvos em profundidade, mas não é possível comprovar a sua eficácia.

Segundo as forças de Defesa israelitas, 29 soldados israelitas perderam a vida desde o início da operação.

Este conflito também está a ser particularmente devastador para aqueles que tentam fazer chegar ao mundo a realidade que se vive no terreno. Até ao momento, 36 jornalistas perderam a vida nesta guerra. É o período mais letal para a profissão desde que o Comité para a Proteção dos Jornalistas começou a registar estes dados, em 1992. 

Entre jornalistas, a vasta maioria das vítimas são palestinianas, cerca de 31. Quatro jornalistas israelitas foram mortos logo no primeiro dia da guerra, durante o ataque do Hamas e um jornalista libanês perdeu a vida num ataque israelita. No caso do fotojornalista libanês da Reuters Issam Abdallah e dois colegas mortos num bombardeamento aéreo no dia 13 de outubro, a investigação decretou que os jornalistas "não foram vítimas colaterais". Ou seja, foram um alvo intencional do exército israelita.

Ao mesmo tempo que os ataques se tornam cada vez mais violentos e mortíferos, a situação humanitária torna-se cada vez mais grave em Gaza. Cerca de 1,5 milhões de pessoas abandonaram a cidade de Gaza em direção ao Sul da região, o que está a levar ao limite todo o apoio humanitário. O cenário é particularmente preocupante no que toca ao apoio médico, com cada vez mais pessoas a procurar auxílio num número cada vez mais reduzido de hospitais.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, os 102 ataques contra unidades de cuidados de saúde resultaram em 504 mortes e 459 feridos. Desde que começou a guerra, 10.022 palestinianos morreram, dos quais 4.104 são crianças, e 24.808 foram feridos na Faixa de Gaza.

Ao todo, 16 hospitais e 32 clínicas estão fora de serviço, muitas deles danificadas pelos ataques, mas outras fecharam devido à falta de combustível ou materiais. Cerca de 31 ambulâncias foram atingidas e estão inoperacionais. As autoridades acusam o exército israelita de cometer crimes de guerra ao atingir equipamentos médicos. Israel responde com a acusação de que o Hamas se aproveita da segurança destas instalações para levar a cabo operações militares.

Apenas 451 camiões com ajuda humanitária entraram no país, através da passagem de Rafah.

António Guterres, uma das vozes mais ativas no alerta da situação humanitária na região, desdobrou-se em repetidos apelos a um cessar-fogo humanitário. O secretário-geral das Nações Unidas avisou que Gaza se estava a tornar “um cemitério de crianças”, sublinhando que centenas de crianças foram mortas ou feridas todos os dias do conflito.

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