As redes sociais são a televisão dos dias de hoje e há uma razão para assim ser. A televisão, como creio que todos nós já percebemos, tem um sistema de procedimentos que sistematicamente procura a verdade e a isenção do que publica nos seus websites, redes sociais e, acima de tudo, no que transmite em direto nos seus canais de televisão. Por outro lado, não obstante haver uma presença ativa também nas redes sociais, os media vivem muito deste ecossistema que se tornou mesmo a televisão de hoje. A massas partilham e comentam nas redes sociais durante horas e em algumas redes, como o é o caso da X (o falecido passarinho), nem sequer possuem qualquer filtro, dizendo e gritando simplesmente tudo o que se passa nas suas cabeças, sem qualquer receio que alguém se sinta ofendido ou que apareça o Tribuno da Plebe para impor ordem.
Acordamos este fim de semana com uma querela retornada entre duas fações que estão há décadas em constante desalinhamento, mas com uma diferença. Com a invasão da Rússia à Ucrânia, as redes sociais, os telemóveis, os sistemas de CCTV e todo e mais algum drone com camara foram as testemunhas do que realmente se passou e desta vez não foi diferente. Não entro em discussão de quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, mas é um facto que chegam às redes sociais de forma massiva as imagens de crianças raptadas e fechadas em jaulas de animais, jovens mulheres raptadas e massacradas, senhoras e senhores raptados, grosseiramente agredidos, abatidos e arrastados pelas ruas – isto tudo em direto nas redes sociais, sem qualquer tipo de filtro.
Sem grande perda de tempo, as nações do mundo reagiram com apoio e com mensagens de repúdio e as fações passaram para o ataque digital em todas as redes sociais e fóruns dentro do Telegram e outros que tal. Se inicialmente as primeiras imagens eram para imprimir o medo por parte do atacante, esta fação facilmente reduziu na sua expressão face ao contra-ataque de Israel. Em vez de mostrarem conteúdo noticioso e das vítimas a correr para o hospital, a mensagem massificada foi unicamente não apagar ou filtrar qualquer vídeo ou mensagem da fação oposta. Deixa-se que a desumanidade passe em branco e às claras em direto em qualquer rede social, onde seguidamente apareceram contas com parcos meses ou menos de um ano onde se apresentam os mais variados argumentos para diabolizar em geral também os palestinianos. Desde vídeos onde personalidades descrevem como a Palestina já recusou várias vezes a solução dois estados, como outras publicações que mostram o início da querela desde a Guerra dos 6 dias e como o mundo veio a esquecer que não foram os Israelitas a levantar a espada primeiro.
Seja como for, nos comentários mede-se o pulso a este paciente que busca vitalidade e sangue fresco, não nos hospitais nem nas dádivas de sangue, mas sim naqueles que cegamente gritam, barafustam e se acusam em direto nas redes sociais, uns discutindo que os Palestinianos são o povo nativo daquele território, outros discutindo o discurso de Golda Meir que dizia há várias décadas que o povo da Palestina são todos os que vivem na margem direita do rio Jordão. Seja como for, esgravata-se até aos confins do tempo para garantir que um dos lados possa sair vitorioso deste plano pois o que importa é que haja uma maioria consistente e concordante.
A maioria concordante; mas o que é isto da maioria concordante?
É precisamente o que se procura criar na “internet” e nos olhos e ouvidos dos utilizadores das redes sociais. Procura-se mostrar a intolerância de um lado, o gritar absurdo do outro; procura-se criar conteúdo que mostre que um dos lados até é moderado e a vítima e para isso tem de se fazer sobressair a intolerância do outro lado. Claro que a internet não perdoa para cada um dos lados e assim vamos nós a assistir a esta guerra digital que quer apenas criar uma cultura predominante entre nós, nem que para isto se exponha ad nauseam o sofrimento dos Israelitas e Palestinianos que sofrem aos milhões pelas decisões de poucos punhados de gente.
Retomo a frase icónica do Daniel Oliveira – O que dizem os teus olhos? Dizem que tenho 42 anos e que não me lembro de ver paz no mundo ou paz entre os povos do nosso mundo. Sinto agora que as Misses é que têm razão quando lhes perguntam qual o seu maior desejo; a paz no mundo.