Israel diz que "nenhum outro país no mundo está a fazer o mesmo esforço para prevenir baixas civis". A ONU pensa diferente: admite "crimes de guerra" em Jabalia (onde "pareceu o fim do mundo")

2 nov 2023, 18:39
Campo de Refugiados de Jabalia (AP)

Perante estes e outros argumentos, o maior aliado de Israel reage assim: é preciso fazer uma pausa nos ataques a Gaza. E por maior aliado entenda-se: Estados Unidos da América. E por Jabalia entenda-se: campo de refugiados

“Estava na fila para comprar pão e, de repente, sem qualquer aviso, sete ou oito mísseis caíram.” Mohammad Ibrahim descreveu à CNN Internacional o primeiro de três ataques lançados por Israel contra o campo de refugiados de Jabalia, na Faixa de Gaza: parecia o “fim do mundo”. Um fim do mundo em que existiram mais dois ataques, o que levou a comunidade internacional, de forma mais ou menos veemente, a condenar a ação israelita, logo a começar pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Perante as informações existentes, o alto comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos afirmou que os bombardeamentos de Israel contra o campo de refugiados de Jabalia "podem constituir crimes de guerra". "Dado o elevado número de vítimas civis e a escala de destruição na sequência dos ataques aéreos israelitas ao campo de refugiados de Jabaliya, estamos seriamente preocupados com o facto de se tratar de ataques desproporcionados que podem constituir crimes de guerra", escreveu o alto comissariado numa mensagem na rede social X.

Imagens do antes e depois do primeiro ataque a Jabalia

 

O porta-voz do secretário-geral da ONU disse entretanto que António Guterres estava “chocado” com o que tinha acontecido em Jabalia, onde centenas de refugiados - entre os quais muitas crianças e mulheres - vivem em condição precária. “O secretário-geral está chocado com a escalada da violência em Gaza, causando a morte de palestinianos, incluindo mulheres e crianças, em ataques aéreos israelitas em áreas residenciais do densamente povoado campo de refugiados de Jabalia”, disse Stéphane Dujarric.

Já depois das palavras que chegaram das Nações Unidas, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel disse que as mortes de civis em Jabalia, bem como noutros locais da Faixa de Gaza, são "inteiramente responsabilidade dos terroristas do Hamas". Uma acusação que segue a linha de Telavive, referindo que o grupo pró-Palestina está a utilizar os civis como um escudo humano. "Nenhum outro país no mundo está a fazer o mesmo esforço que Israel para prevenir as baixas civis", disse Lior Haiat.

Do lado dos Estados Unidos continua a haver alguma relutância na condenação dos atos de Israel. Washigton D. C. mantém a mensagem de que acredita que o exército israelita faz de tudo para evitar mortes de civis na Faixa de Gaza, mas a viagem do secretário de Estado norte-americano Antony Blinken a Israel leva uma mensagem na bagagem: a necessidade de uma breve pausa nos ataques israelitas ao território palestiniano, para que se permita a libertação dos reféns e a entrada da ajuda humanitária essencial.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Palestina descreveu o ataque como um "massacre", falando em cenas de fazer "tremer" qualquer um, nomeadamente envolvendo mulheres e crianças. Uma condenação que também surgiu rapidamente do mundo árabe, com Arábia Saudita, Irão, Jordânia e Egito a criticarem o ataque. O Egito diz mesmo que Israel quebrou a lei internacional, falando num ataque "desumano" que atingiu uma área residencial. Com efeito, o Hamas diz que mais de 20 prédios onde moravam pessoas foram atingidos e destruídos. "O Egito considera esta uma nova violação flagrante das forças israelitas contra o Direito Internacional e o Direito Internacional Humanitário", disse o governo egípcio.

Também o Catar, que tem estado a ajudar nas negociações para a libertação de reféns, veio condenar o ataque. O Ministério dos Negócios Estrangeiros referiu que o emirado considera este um "novo massacre contra o indefeso povo palestiniano, especialmente crianças e mulheres". "A expansão dos ataques israelitas na Faixa de Gaza para incluir alvos civis - como hospitais, escolas, centros de habitação ou abrigos - é uma escalada perigosa no curso das confrontações, que pode minar a mediação e os esforços."

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