Israel voltou a atacar Jabalia e ONU admite "crimes de guerra" no campo de refugiados. Guterres ficou "chocado"

1 nov 2023, 21:30
Campo de refugiados de Jabalia após o ataque israelita (Abed Khaled/AP)

Imagens aéreas mostram a diferença entre o antes e o depois do ataque ao campo de refugiados

Israel atacou um campo onde estavam centenas de refugiados palestinianos, na Faixa de Gaza. O Hamas garante que em Jabalia morreram 195 pessoas em dois dias, e os relatos que chegam do local descrevem bem o cenário.

As Forças de Defesa de Israel (IDF) confirmaram o ataque, afirmando que o mesmo serviu para matar vários combatentes do Hamas, entre os quais Ibrahim Biari, um dos comandantes que terá estado por detrás da operação “Al-Aqsa”, que o grupo lançou contra o território israelita, a 7 de outubro, matando mais de 1.400 pessoas e fazendo centenas de reféns, alguns deles ainda presos.

Não obstante a condenação mundial do caso – até Portugal reagiu, através do ministro dos Negócios Estrangeiros – Israel voltou a atacar o local esta quarta-feira, afirmando que isso serviu para matar mais combatentes do Hamas, que continua a acusar de utilizar os civis como escudo.

Certo é que o local é, agora, um cenário de destruição. São muitas as crateras provocadas pelos caças israelitas, e a diferença entre o antes e o depois do ataque é notória. A empresa Maxar divulgou imagens aéreas do antes e depois, sendo possível perceber a diferença.

Uma das condenações mais fortes chegou de Nova Iorque, mais precisamente da Organização das Nações Unidas (ONU), e de forma faseada. O secretário-geral das Nações Unidas começou por dizer que estava “chocado” com o que tinha acontecido, falando numa “escalada da violência em Gaza”.

“O secretário-geral está chocado com a escalada da violência em Gaza, causando a morte de palestinianos, incluindo mulheres e crianças, em ataques aéreos israelitas em áreas residenciais do densamente povoado campo de refugiados de Jabaliya”, disse o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, no seu'briefing diário à imprensa.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos foi mais longe, afirmando que os bombardeamentos de Israel contra o campo de refugiados de Jabalia "podem constituir crimes de guerra".

"Dado o elevado número de vítimas civis e a escala de destruição na sequência dos ataques aéreos israelitas ao campo de refugiados de Jabaliya, estamos seriamente preocupados com o facto de se tratar de ataques desproporcionados que podem constituir crimes de guerra", escreveu o Alto Comissariado numa mensagem na rede social X.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Palestina descreveu o ataque como um "massacre", falando em cenas de fazer "tremer" qualquer um, nomeadamente envolvendo mulheres e crianças.

Uma condenação que também surgiu rapidamente do mundo árabe, com Arábia Saudita, Irão, Jordânia e Egito a criticarem o ataque. O Egito diz mesmo que Israel quebrou a lei internacional, falando num ataque "desumano" que atingiu uma área residencial. Com efeito, o Hamas diz que mais de 20 prédios onde moravam pessoas foram atingidos e destruídos.

"O Egito considera esta uma nova violação flagrante das forças israelitas contra o Direito Internacional e o Direito Internacional Humanitário", disse o governo egípcio.

Também o Catar, que tem estado a ajudar nas negociações para a libertação de reféns, veio condenar o ataque. O Ministério dos Negócios Estrangeiros referiu que o emirado considera este como um "novo massacre contra o indefeso povo palestiniano, especialmente crianças e mulheres".

"A expansão dos ataques israelitas na Faixa de Gaza para incluir objetos civis, como hospitais, escolas, centros de habitação ou abrigos é uma escalada perigosa no curso das confrontações, que pode minar a mediação e os esforços", referiu o ministério.

Qatar Strongly Condemns the Massacre at Jabalia Refugee Camp in Gaza#MOFAQatar pic.twitter.com/budQ7batzu

— Ministry of Foreign Affairs - Qatar (@MofaQatar_EN) October 31, 2023

Já os Estados Unidos mantêm a posição que adotaram desde o início. Israel não está a "atingir civis deliberadamente, como o Hamas". Palavras do porta-voz do Pentágono, o brigadeiro-general Pat Ryder, que recusou comentar casos específicos, mas que garantiu que os norte-americanos continuam preocupados com as perdas civis.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca acrescentou que as indicações apontam que Israel está a tentar proteger civis enquanto ataca o Hamas. John Kirby classificou de "tragédia" as mortes de civis no campo de Jabalia, garantindo que os Estados Unidos vão "continuar a trabalhar com os israelitas sobre a necessidade de respeitar a vida humana e tentar minimizar a perda de civis".

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