Dossier - Estrangeiros no futebol português

13 nov 2000, 09:30

Os brasileiros e os outros Os brasileiros constituem um terço dos estrangeiros que actuam no futebol português. Comunitários há poucos. Em todos os escalões e divisões do futebol masculino, os futebolistas que não nasceram em Portugal representam apenas 1,3% dos praticantes. Mas depois do que aconteceu em Itália fará sentido contabilizar estas coisas durante muito mais tempo?

Quando for inscrito pelo Benfica em Dezembro, o recém-contratado Marques vai tornar-se no 359º brasileiro a jogar futebol em Portugal oficialmente.  
 
Os jogadores vindos do Brasil constituem, neste momento, quase um terço dos estrangeiros que actuam no futebol português. Estes, por seu turno, não representam mais do que 1,3 por cento do total de atletas federados (1245 em 95.529 jogadores masculinos, dos seniores às escolas e em todas as divisões*).  
 
As frequentes críticas relacionadas com o alegado excesso de estrangeiros em Portugal devem-se sobretudo (se não apenas) ao panorama da I Liga. Aqui, a relação sobe para qualquer coisa como 34 por cento, o que naturalmente potencia as discussões em torno da matéria. Basta, no entanto, «descer» até ao outro campeonato profissional, o da II Liga, para se verificar que o nível cai para a ordem dos 14 por cento.  
 
A lista de estrangeiros ordenada por países continua a falar Português mesmo depois de se largar a liderança brasileira, bem patente no futebol sénior. Cabo Verde, Angola e Guiné-Bissau estão nos lugares seguintes, muito por força da elevada presença de jogadores destes países nas equipas jovens.  
 
Comunitários... nem por isso  
 
A lei Bosman abriu as portas dos países da União Europeia a todos os futebolistas comunitários, não entrando estes nas contas que se fazem para não se excederem os limites de estrangeiros. Mas nem por isso Portugal - exportador por excelência ou necessidade - se tornou um país receptor de profissionais do espaço europeu.  
 
À parte a Espanha e a França (esta com forte representatividade de filhos de emigrantes e luso-franceses nas camadas jovens), a presença de naturais de outros países da UE no futebol português é quase residual.  
 
Acrescente-se que muitos deles não são realmente naturais de países da UE, mas sim portadores de passaportes comunitários, como são exemplo os casos do brasileiro André Cruz (Itália), do paraguaio Rojas (Espanha) ou do argentino Lagorio (Itália).  
 
O grande número de brasileiros e naturais de PALOP que actuam no futebol português faz, naturalmente, com que a fatia mais larga dos estrangeiros seja constituída por jogadores considerados não-comunitários para as contas dos limites (999).  
 
O número de jogadores naturalizados portugueses é significativo nas camadas jovens (41), mas muito pouco relevante nos seniores (apenas 11).  
 
O estatuto de igualdade  
 
Se assim o entenderem, os brasileiros que jogam em Portugal podem a qualquer momento deixar de contar como extra-comunitários? Surpreendido? Se pensar bem verá que não há razões para tal.  
 
Quantas vezes não tem ouvido falar de brasileiros que estão a tratar do estatuto de igualdade? Pois bem, através de um procedimento burocrático relativamente simples, qualquer cidadão brasileiro que viva em Portugal pode gozar dos mesmos direitos e deveres que um cidadão português, o mesmo sucedendo com os portugueses no Brasil.  
 
Os clubes portugueses, sobretudo os da I Liga, recorrem cada vez mais a esta forma de abrir vagas nas limitadas listas de extra-comunitários. Todavia, o número de atletas que detém o estatuto de igualdade é ainda relativamente baixo quando comparado com o total de brasileiros que jogam no nosso país.  
 
Até quando?  
 
Entre os jogadores juniores, a percentagem de estrangeiros é baixíssima (0,6). O número de 424, sozinho, pode assustar, mas se se pensar que há quase 66 mil praticantes a perspectiva muda.  
 
Se ainda assim se achar muito, há sempre a possibilidade de se pensar que parte dos cabo-verdianos, guineenses e angolanos poderiam deixar de contar para a estatística, pois muitos deles reunirão condições legais para se tornarem portugueses de pleno direito. Já para não falar dos 37 jovens catalogados na federação como «filhos de emigrante» no item da nacionalidade...  
 
Foram muitos dias a olhar para números e estatísticas. No fim das contas, surge uma sensação estranha. É que pensando bem afigura-se muito mais que provável que num futuro próximo toda esta discussão em torno de estrangeiros e portugueses seja inócua e desnecessária.  
 
Os jogadores nascidos em países da União Europeia ganharam em 1995 o direito à livre circulação no espaço comunitário. Muito recentemente, em Itália, um nigeriano garantiu em tribunal o direito a trabalhar num clube que descera à Série C, onde a utilização de estrangeiros é (era?) proibida.  
 
Depois do caso Bosman, o futebol arrisca-se agora a ser uma vez mais chamado à atenção pelas leis gerais dos países. E a consequência previsível é a de que os limites impostos pelas federações se tornem ilegais.  
 
Em Itália, o caso Prince já «acordou» gigantes da Série A que querem agora ver os limites abolidos. Até quando vai fazer sentido falar neles?  
  
 
Os números 

Outros textos  
 
1. Quais são os limites de estrangeiros em Portugal?  
 
2. O que é exactamente o estatuto de igualdade?  
 
3. Que brasileiros da I Liga esperam pelo estatuto de igualdade?  
 
4. O que é que os jogadores estrangeiros vão fazer a Vigo e a Sevilha?  
 
5. Que tipo de visto pede um futebolista para jogar em Portugal?  
 
6. Quanto custa inscrever um jogador estrangeiro?  
 
7. O que pensa disto tudo o Sindicato de Jogadores?  
  

*Dados dos totais de praticantes referentes à época 99/2000  
 
Fontes: Clubes/SAD da I Liga (excepto Sporting, SAD), Federação Portuguesa de Futebol, Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

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