Estava desaparecida há três dias. Recebeu várias ameaças de morte depois de ter interrompido uma peça de teatro devido à discriminação das pessoas transgénero
A atriz Keyla Brasil, que estava desaparecida desde sexta-feira à tarde, foi encontrada esta segunda-feira "em segurança". O anúncio foi feito pela Casa T, estrutura de acolhimento de imigrantes trans.
"Keyla Brasil foi encontrada hoje e já está em segurança. Ela se manterá em recolhimento para que possa se recuperar de tudo o que está passando. Visando sua segurança, não compartilharemos mais informações sobre o caso até que ela mesma possa falar por si. Obrigada por todos os esforços realizados para encontrá-la. Seguimos vivas em em cuirlombo", lê-se na publicação.
No dia 19 de janeiro, a atriz brasileira invadiu o palco do teatro São Luiz, em Lisboa, durante a apresentação da peça "Tudo Sobre a Minha Mãe", e gritou "transfake" pelo facto de a personagem trans "Lola" ser representada pelo ator não-trans (ou cisgénero) André Patrício. A partir daqui, a ativista recebeu várias ameaças, incluindo de morte.
Por estar a ser alvo de tantas ameaças, Keyla Brasil decidiu sair de Lisboa e refugiar-se algures no interior do país. A última vez que tinha sido vista foi em Tábua, uma vila do distrito de Coimbra, quando se preparava para apanhar um autocarro de regresso a Lisboa. Desde então que estava incontactável.
No protesto, a atriz exigiu representatividade em palco para a comunidade trans, lembrando que a falta de oportunidades para pessoas como ela podia atirá-las para contextos perigosos, como o da prostituição. Lembrou mesmo que, por não ter trabalho como atriz, poderia ter "morrido" na semana anterior no Parque Eduardo VII, em Lisboa, onde é trabalhadora do sexo. Segundo a mulher, e do movimento de combate ao "transfake" que a acompanha, ao existirem personagens trans no texto de uma peça de teatro, essa circunstância deveria ser aproveitada para integrar pessoas transsexuais. Aliás, em "Tudo Sobre a Minha Mãe", havia inclusivamente uma atriz transsexual, Gaya de Medeiros, no desempenho da personagem Agrado.
A peça, com texto de Samuel Adamson, a partir do filme de Pedro Almodóvar com o mesmo título, e encenação de Daniel Gorjão, uma coprodução Teatro do Vão, Rivoli Teatro Municipal do Porto e São Luiz Teatro Municipal, esteve em cena desde 11 janeiro e até este domingo. Na sequência do protesto, o encenador anunciou a integração no elenco da atriz trans Maria João Vaz para interpretar o papel de Lola.