«Vai ser campeão e seleccionador», augura o primeiro treinador de Domingos

22 jul 2001, 17:02

Fernando Pereira Santos em entrevista ao Maisfutebol

O telefone tocou por volta do meio-dia e Fernando Pereira Santos correu para o atender, suspeitando que do outro lado da linha estaria uma voz conhecida. Bastou uma sílaba para o confirmar. Era Domingos, rigorosamente com o mesmo tom tímido que escutara pela primeira vez há 20 anos, quando o vira de bola colada ao pé e pensamentos em parte incerta. Vinha comunicar-lhe uma novidade que já conhecia. O seu irmão, jornalista desportivo, ligara-lhe pela manhã e dissera-lhe, sem contemplações, que o menino que lançara era agora treinador. 

O técnico, ou melhor, o «treinador, presidente e roupeiro» da Académica de Leça, viajava momentaneamente no tempo e imaginava um Domingos ainda mais franzino. O antigo jogador explicava-lhe o processo, divulgado ontem à noite, após o F.C. Porto-Salgueiros, mas Fernando Pereira Santos só conseguia pensar nas fintas inimagináveis que ajudara a apurar. «Fiquei muito triste», confessa ao Maisfutebol. «Mas ele estava conformado», conta, «por isso tive que lhe dar todo o meu apoio». Começou pelos parabéns que lhe pareciam obrigatórios e terminou com conselhos que achou úteis. «Lembrei-me que ele teve uma carreira de êxitos e que podia ter alguns problemas se continuasse a jogar. Corria o risco de acabar sem a dignididade que merece e isso seria uma tremenda injustiça». 

Da mesma forma que nunca duvidou do valor de Domingos, quando o aconselhou ao F.C. Porto, Fernando Pereira Santos crê igualmente que o antigo avançado vai ter muito sucesso como treinador de futebol. «Desejo que tenha tanto êxito como aquele que teve enquanto jogou», garante, certo que Domingos «tem o perfil ideal para ser um futuro campeão nacional e até mesmo seleccionador». 

Craque aos nove anos 

Era obrigatória falar sobre os primeiros pontapés de Domingos que são cada vez mais uma memória. Fernando Pereira Santos contaria a história pela enésima vez, assumindo a mesma emoção que terá sentido quando viu o seu menino com a camisola do F.C. Porto vestida. «Ele esteve connosco na Académica de Leça dos nove aos 13 anos», recorda. «Era traquina e louco pela bola. Podia não ter roupa vestida, mas bastava que tivesse uma bola no pé para ser feliz». O sorriso era sempre especial, mas transformava-se assim que estava a fazer aquilo que mais gostava. «Tinha uma habilidade que não enganava», assegura o técnico de futsal. Estava fadado para ser profissional. 

Domingos vinha de famílias pouco endinheiradas, mas não imaginava que podia ter tudo o que sempre quis se levasse a sério aquilo que via essencialmente como um divertimento. «As suas origens são muito humildes», confirma. «A mãe dele ainda vive num bairro degradado de Leça da Palmeira que não quer abandonar antes de morrer, mesmo que o Domingos já tenha feito tudo para lhe comprar uma casa melhor». Foi este tipo de preocupações que o antigo internacional assumiu assim que começou a ganhar dinheiro com os golos que marcava. Essa, de resto, foi a derradeira etapa do processo de afirmação que principiou numa tarde no Estádio do Mar. «Tinha pedido a uma pessoa do F.C. Porto para irem ver o Domingos e o Vítor Baía, que também jogava na nossa equipa», explica. «Tinha a certeza que o Domingos daria logo das vistas. Era sempre o melhor jogador dos torneios». Não seria, portanto, de estranhar que Jorge Vieira, dirigente portista que anos antes trouxera Cubillas para as Antas, tivesse ficado encantado. «O Costa Soares, que treinava os iniciados, gostou muito dele, do Vítor e de outro jogador e deu-lhes uma oportunidade». Apostou em cheio. 
 

Artigo relacionado: 

- Um episódio: Rebuçado para as dores de barriga

Patrocinados