Goleada, fartura e jejum

17 jan 2001, 11:36

Os mais doces e os mais amargos momentos da I Liga O F.C. Porto, que venceu em sete jornadas consecutivas, contribuiu ainda com o resultado mais dilatado (6-0), justamente no final da sequência e com o Alverca na condição de cúmplice. Durante um mês e meio, o Gil Vicente não fez outra coisa se não perder. Ganhou pela primeira vez à 12ª jornada. O Boavista, derrotado apenas pela eficácia de Feher, vai em 13 jogos sem perder. Mas há mais...

A goleada. Aconteceu nas Antas, a 30 de Outubro de 2000, produto de uma exibição que dispensou excessos e uma boa parte de preciosismo, passando largos centímetros ao lado da eficácia absoluta. A conseguir esbarrar-lhe, mesmo que ao de leve, o F.C. Porto teria vexado para um mês, ou talvez mais, o Alverca, que se recompôs alguns dias depois. Deco, o mais genial da noite, marcou por duas vezes, tantas como Pena. Pizzi fez um golo, muitos minutos depois de Veríssimo acentuar, num lance infeliz, as diferenças de uma derrota inevitável.  
 
Um golo em cada 19 minutos. Ainda hoje o plantel do Alverca ruboriza e treme de pavor a cada vez que escuta o nome do adversário que o deixou vergado de vergonha. A confusão entre o nome do clube e o da cidade atinge proporções máximas e compreensíveis ao ouvido dos jogadores que deixaram Jesualdo Ferreira indeciso entre a irritação e o constrangimento em mais duas deslocações ao Porto. Antes das Antas, o Alverca já havia perdido por 3-1, em Paranhos. Depois das Antas, aguardava-o nova goleada (5-1), então no Bessa. Em resumo: durante as quatro horas e meia em que pisou, mais por imposição do calendário do que por vontade própria, os relvados da Invicta, onde, para alívio colectivo, já não volta no presente campeonato, o Alverca sofreu 14 golos, perfazendo uma média de quase cinco golos por jogo e de um golo por cada 19 minutos. Marcou apenas dois, obras raras de Mantorras e Anderson.  
 
Os cinco em Campo Maior. Em Campo Maior, cinco jornadas e um mês e meio antes de vexar o Alverca, o mesmo F.C. Porto, com as ténues variantes de jogar com Chainho e Cândido Costa nos lugares de Alenitchev e Capucho, já havia goleado. Não fez seis golos, mas cinco, contribuindo com o resultado mais dilatado conseguido por uma equipa na condição de visitante. Pena bisou, Pizzi também e Drulovic, um dos melhores em campo, marcou de permeio.  
 
Sete jogos a ganhar. A onda enrolou durante quase dois meses. Um mês e 21 dias, para ser preciso. Entre 9 de Setembro e 30 de Outubro, o F.C. Porto não fez outra coisa senão ganhar e acumular vantagem sobre o Sporting, que, em igual período, seria vítima do apetite voraz dos dragões, já depois da derrota em Braga e do empate com o Alverca, em Alvalade. Antes do jogo de Barcelos, do qual resultaria um empate que poria fim ao ciclo de sete vitórias consecutivas, o F.C. Porto liderava, mantendo o Sporting à confortável distância de cinco pontos.  
 
(Quase) Três golos por jogo. Entre a terceira e a nona jornada, o F.C. Porto produziu 20 golos (ficando justamente a um remate certeiro de atingir a rara média de três golos por jogo) e consentiu apenas dois: um apontado por Glauber, do Paços de Ferreira, e o outro da autoria de De Los Rios, na deslocação a Faro. À sua conta, o inevitável Pena marcou dez, bisando por três vezes. Pizzi (3), Drulovic (2), Deco (2), Cândido Costa e Chainho fizeram os restantes de uma série que contou ainda com a singela contribuição de Veríssimo.  
 
Mês e meio a perder. Ao longo de um mês e meio penou o Gil Vicente. Da quarta à nona jornada compôs a mais dilatada sequência de derrotas, num total de seis, a que poria termo justamente com o F.C. Porto por adversário. Carlos, a poucos minutos do fim, na marca de grande penalidade, evitou que a colecção se alongasse. Uma semana depois, já em Aveiro, o Gil Vicente perderia novamente.  
 
Milagre! O Gil Vicente mergulhava de novo na dura realidade. Dificilmente se recomporia. Mas, de regresso a Barcelos, à 12ª jornada, algo de mágico e absolutamente inédito se passaria. Dois golos sem resposta, com o União de Leiria por adversário, dar-lhe-iam a primeira vitória no campeonato. Esfumavam-se três meses de uma rigorosa dieta, em que jamais se permitira a uma delícia do género. Nunca sorvera três pontos de um trago só. Na verdade, três pontos era tudo quanto conseguira amealhar até então, ao jeito de grão a grão com que matara a fome em três empates de baixas calorias. Dobrava a pontuação em apenas 90 minutos e corria sérios riscos de congestão.  
 
O «record» que ninguém quer bater. Da primeira à 11ª jornada, o Gil Vicente elaborou o «record» notável, mesmo sem perfilar candidatos invejosos e dispostos a melhorar a marca, de permanecer 11 jogos sem ganhar. Durante a fase de jejum quase completo, três empates, sempre em casa, representam o que de melhor foi capaz: Campomaiorense, Farense e F.C. Porto participaram, ainda que à força, nas pequenas alegrias de Barcelos. Ao longo do seu mais negro período, o Gil Vicente não apontou mais de seis golos, sofrendo, à troca, o triplo (18).  
 
Só uma noite negra. A noite era de Feher, o terror húngaro do ataque de Braga. Marcou primeiro, marcou depois. Pelo meio, Geraldo julgava ter dado o empate ao Boavista, que no Bessa corria por muito mais. Fê-lo em vão, contudo. O Boavista perderia. Pela primeira e última vez nos registos da primeira volta. A 18 de Setembro de 2000 e à quarta jornada. Há sensivelmente três meses. Desde então não se conhece qualquer derrota ao líder. O F.C. Porto, por exemplo, que é segundo, perdeu em Belém, em Braga, em Leiria e no Bessa.  
 
Um 13 que não é de azar. Outra vez em casa, o Boavista venceu o Benfica no primeiro pontapé de um ciclo de 13 jornadas sem perder. A princípio, empatando sempre fora (Belém, Campo Maior, Faro e Alvalade). Depois, revelando-se imune aos ambientes adversos de Barcelos e das Aves. No Bessa, onde goleou Guimarães (4-1), Alverca (5-1) e Salgueiros (5-0), ganhou, invariavelmente. Tudo somado, fez 28 golos e sofreu oito. 

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