Boavista ganha aos pontos

17 jan 2001, 11:43

Estatística dá por bem entregue o primeiro lugar A interpretação dos números sublinha a luta a dois. Boavista e F.C. Porto discutem juntos os pontos mais altos da Liga, permitindo apenas duas intromissões numa análise que não reza sobre o Benfica: o Sporting tem mais vitórias e golos na condição de visitante; o Belenenses detém, a par do F.C. Porto, a segunda defesa menos batida do campeonato. O resto é com as duas equipas da Invicta.

Ao apontar a direcção do balneário, enquanto completava o ritual com dois sopros, um propositadamente mais longo do que o outro, Vítor Pereira não encerrava simplesmente o jogo do Bessa, que acabava de inverter posições entre os protagonistas da Liga. Os silvos, que ergueram braços ao xadrez numa das reacções mais básicas do futebol, assinalavam também o intervalo do campeonato, um breve repouso psicológico sem correspondência física para todos, por culpa da Taça.  
 
A pausa, que excede largamente os tradicionais quinze minutos de revisão estratégica, com repreensões e aplausos à mistura, remete agora os treinadores para análises estatísticas e estudos intrincados, conversas sem resposta audível, com percentagens de orelhas moucas e enigmas de resolução subtil; números e médias que tantas vezes escondem razões difíceis de detectar no mero acerto táctico ou na repetição diária dos treinos.  
 
O intervalo rende um incontornável, mas promissor, empate. Os 153 jogos disputados produziram um total de 397 golos marcados e, obviamente, sofridos, de que resulta uma média de 23,35 golos por jornada e 2,59 por encontro; qualquer coisa como 0,028 golos por minuto. Embora não pareça particularmente brilhante, o cálculo parcial ameaça os melhores resultados finais dos últimos 15 anos, com as marcas mais dilatadas a atingirem a média de 2,65 golos por jogo, em 1997/98, e de 2,6, na época de 1995/96.  
 
Dos 397 golos marcados nos últimos cinco meses, 181 foram festejados por Boavista, F.C. Porto, Sporting, Braga, Benfica e Belenenses, justamente os seis primeiros classificados, que provocaram cerca de metade das alegrias e frustrações dos adeptos. À sua conta, as seis equipas, que representam 33 por cento da competição, ainda que capitalizando a larga maioria das paixões, responsabilizam-se pela produção de mais de 45 por cento dos golos, o que diz bem do peso dos três colossos e de outros tantos candidatos que se debatem pela condição de quarto grande.  
 
Vitórias de fraco proveito  
 
Independentemente da abordagem, do ângulo de incidência, o golo reclama sempre o maior pedaço de luz. Por ele congeminam as equipas, que recorrem a ensaios laboratoriais e arriscam métodos altamente falíveis de aproximação à essência do jogo, partindo do princípio elementar de que o golo, motivo de toda a correria, é sinónimo, possivelmente em segundo ou terceiro grau, de vitória. A total concordância dependerá, quando muito, apenas da frequência com que se o consegue e se o permite.  
 
O raciocínio, que carrega aos ombros a lógica mais profunda, arrasta-se e cai à primeira interpretação dos números que a classificação generosamente oferece. O F.C. Porto tem o maior número de vitórias (12) e não é líder. Nem sequer detém o ataque mais realizador; o Boavista conseguiu mais um golo, precisamente o de Martelinho, aquele que nega a coerência de pressupostos, quase confirmada na íntegra 16 posições mais tarde. O Estrela da Amadora é último e acumula a maior quantidade de derrotas (12), o que faz todo o sentido. Mas é o Aves que se distingue na condição de equipa mais goleada. Tó Luís e Adamo recuperaram a bola nas redes 33 vezes.  
 
No revolver de dados, numa procura mais minuciosa e intensa, distingue-se, por fim, o nome do Sporting, perdido no amontoado de números e percentagens, que lhe atribuem o parco, embora distinto, título de equipa com maior número de vitórias na condição de visitante. Fê-lo por seis vezes. Mais seis do que Marítimo, Leiria, Aves, Gil Vicente e Estrela da Amadora, suficientemente avessos a ambientes adversos ao ponto de nunca terem ganho em estádios que não os seus. 
Pela inversa, para cúmulo e rara negação de peso ao elemento «factor-casa», a que treinador e jogadores repetem irritantemente a vénia, o Campomaiorense nunca venceu no Alentejo. F.C. Porto, Benfica, Braga e Belenenses nunca perderam em casa.  
 
Mais Boavista...  
 
A pesquisa de pequenos pormenores distintivos faz com que Boavista e F.C. Porto esbarrem de novo, impondo ao estudioso o delinear de distâncias mínimas na aferição do intervalo entre ambos. Um mísero golo faz a diferença (37 contra 36) na detecção do ataque mais realizador, com dupla vantagem para o líder, menos depende de individualidades. Juntos, Duda (6), Whelliton (5) e Sanchez (4) assinaram pouco mais de 35 por cento dos golos do Boavista. Sozinho, Pena festejou 14, quase 39 por cento dos remates certeiros do F.C. Porto.  
 
A separação poderia tornar-se suficientemente clara, depois de circunscrita a investigação a jogos disputados no Bessa e nas Antas. Em ambiente favorável, o Boavista volta a ganhar. Agora por 25-22. A aferição da capacidade goleadora das duas equipas estaria completa e os resultados eliminariam discussão, desde que dispensada a abordagem à segunda mão, tipo «jogos fora», que o F.C. Porto vence por 14-12, mesmo sem ser o melhor no género. Para além das paredes de Alvalade, o Sporting marcou por 17 vezes. Muito mais do que Marítimo e Estrela da Amadora, os piores na condição, com quatro golos para amostra. A propósito, o Gil Vicente exibe o ataque menos realizador da prova, com um total de dez golos.  
 
...Menos Boavista  
 
Boavista e F.C. Porto, para não variar. Abrindo, desta vez, a discussão à discreta intromissão do Belenenses, agora com as defesas a conduzirem o ensaio. Ovchinnikov e Marco Aurélio, cada um na sua vez, recuperaram mais bolas (14) depois do indesejado afago de um rectângulo de rede do que William e Ricardo juntos (12), o que, no caso, é sinal de óbvia desvantagem. Em casa, a defesa portista só por três vezes foi irremediavelmente batida, sem que tal significasse a derrota, que o Estrela da Amadora ameçou. Nas Antas, marcaram ainda Paços de Ferreira e Salgueiros.  
 
O Boavista, vergado pelo Braga na única derrota de um currículo por completar, não goza de total invencibilidade em casa, mas refaz-se da diferença em ambientes desfavoráveis, condição em que o F.C. Porto soma mais quatro golos (11 contra 7). Os axadrezados compõem a equipa mas difícil de bater enquanto visitante; o F.C. Porto é o menos sofredor como visitado.  
 
Com 33 golos, o Aves, que não é último, oferece a mais frágil resistência do campeonato, ainda que a especialidade não lhe garanta o estatuto de mais batido em casa ou, sequer, fora, graduação que concede, respectivamente, a Campomaiorense (18) e Salgueiros (22). A equipa de Paranhos acumula o pormenor de ser a única equipa da Liga que ainda não degustou o paladar agridoce de um empate, de que União de Leiria e Campomaiorense têm a barriga cheia. Empataram por sete vezes, sem que a soma lhes permita morder os calcanhares ao Salgueiros. 
 

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