Salgueiros-E. Amadora, 1-0 (crónica)

10 dez 2000, 19:12

Equívocos dramáticos Como uma tragédia de enganos sucessivos, Pedrosa foi o primeiro a segurar a culpa de não conseguir decidir o jogo. Chutou à barra e falhou o penalty. Todavia, o «prémio» para melhor argumento é atribuído ao árbitro, que expulsou três jogadores e viu uma mão de Kenedy no último minuto. O livre levou ao golo, com Paquito a aproveitar o único deslize de Luís Vasco.

A força de um erro incomoda muita gente, mas o acumular de equívocos incomoda muito mais. A tragédia de enganos serve para adensar desgraças e provocar matérias de sensação pouco reais, mas definitivamente perenes. Moribundos e cambaleantes, os estrelistas tentaram vencer receios próprios e ainda tiveram de suportar a lama, a chuva, a luta adversária e os erros do árbitro. Não aguentaram e sucumbiram. 

Resultado de incaracterística forma de estar das duas equipas, o jogo foi geralmente desinteressante e vagamente conseguiu formar alguma expectativa. A letargia parecia não incomodar somente os jogadores, pois o relvado acusava a agressão da chuva e das chuteiras, e até houve quem rebolasse pelas escadas de uma das bancadas até ao posto médico do Vidal Pinheiro. 

As excepções servem-se de poucas linhas na memória. É o primeiro engano de muitos outros. Pouco depois do jogo começar (1m), Pedrosa enviou a bola à barra, num livre apontado no lado direito. Esta proximidade perigosa do êxito incomodou os salgueiristas, que nestas ocasiões lembram-se daqueles jogos em que o azar afasta as vitórias. Desta vez, o azar ainda apareceu mais uma vez, mas transformou-se em fortuna redobrada nos momentos finais. 

Só de bola parada era possível criar perigo. O Salgueiros cedo reconheceu essa realidade, pois era notória a postura defensiva do adversário, que cortava os lances todos sem qualquer desejo de elaborar jogadas de ataque. Pensava que talvez algum desses chutos sem nexo encontrasse Gaúcho e o jogo estivesse resolvido. É assim que surge a única jogada de perigo dos estrelistas, quando Paulo Ferreira consegue ganhar a linha e centra para o brasileiro, que não consegue ser mortífero. 

Resolvido por quem não devia 

Teimosamente descontraídos e descomprometidos, os jogadores deixavam-se levar pelo acaso. Cansada de fugir à lama, por vezes a bola saltitava para um pouco mais perto das áreas, sempre, sempre sem criar entusiasmos. Convém reconhecer que o estado do terreno não ajudava, mas os treinadores tinham de compreender que só com atletas possantes se podia mover os pedaços de relva levantada. A entrada de Ouattara foi o primeiro sinal de sobriedade. Sem ritmo, mas com muita vontade, o costa-marfinense não perdeu o sentido de baliza. Teve mérito no cabeceamento acrobático a meio da segunda parte, que saiu um pouco por cima, e na grande penalidade cometida por Fonseca, que descobriu força suficiente para derrubar o possante avançado.  

Ouattara não teve culpa da falibilidade de Pedrosa, que denunciou o remate e fez brilhar Luís Vasco na defesa do penalty. A culpa do empate era, então, de Pedrosa, mas daqui para a frente tudo mudou, porque Fonseca tinha sido expulso. O Estrela até que nem sentiu muito a diferença, pois Carlos Brito fez recuar o faltoso Pedro Simões para o eixo defensivo, libertando o meio-campo. Gaúcho, José Carlos e Paulo Ferreira esqueciam-se dos constrangimentos defensivos e criavam perigo quando estavam em inferioridade numérica. Rui Ferreira irritou-se com a ousadia e concentrou a raiva num pontapé em José Carlos, quando partilhavam a queda na lama. Expulsão directa e nova igualdade numérica. Havia mais espaço para jogar. 

Faltava apenas o golpe final para encerrar a cena, num argumento bem concebido por Jacinto Paixão. Já em período de descontos, o «dramaturgo» viu uma cara de Kenedy em forma de mão a cortar a bola e marcou um livre à entrada da área. Como o defesa já tinha um amarelo, foi expulso. Livre de Litera, o relvado torna a bola traiçoeira e obriga Luís Vasco a deixá-la escapar para os pés de Paquito, que a carrega de força para o fundo da baliza. É justo que o Salgueiros vença, mas ninguém deseja um triunfo assim.

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