António Oliveira: «Esta selecção está muito acima da realidade do futebol português»

21 fev 2001, 22:35

Jóia da coroa O seleccionador nacional não enjeita uma confirmação desassombrada, que é motivo de preocupação... relativa. «O mais importante é sabermos que para lá desta geração há em todos os escalões jogadores de qualidade». O futuro continua ao alcance, mesmo que para os jovens jogadores este tenha de passar por Milan, Inter, Barcelona.

- Como vê a situação actual na I Liga? Todo o equilíbrio na tabela, a subida de Boavista e Sp. Braga ao topo...

- A minha função como espectador dos jogos da I Liga é analisar jogadores e não equipas. A única coisa que posso dizer é o que todos reconhecem: que há uma competitividade maior. Deixo à vossa consideração se foram os habituais outsiders que subiram ou os grandes que desceram. Não faço comentários sobre isso. 

- Estas novidades da I Liga trouxeram-lhe jogadores novos para a família da Selecção?

- Não, todos os que têm potencial para integrar a selecção estão devidamente referenciados e integrados nos vários escalões, incluindo a Selecção B. Tal como nos clubes, temos um plantel - um pouco mais vasto, com 30/40 elementos - que pode ser pontualmente reforçado. Mas não é esse o caso. 

- Concorda que esta selecção é a jóia da coroa num futebol português que já não está à altura dela? Não acha que ela está um pouco acima da realidade que a alimenta?

- Não é um pouco, é muito. Não vale a pena escondê-lo. 

- Isso não o assusta?

- Não, porque temos garantida em qualquer escalão das selecções uma base de jogadores com muita qualidade. Depois, porque há igualdade de circunstâncias com outros países igualmente poderosos, como a Holanda e a França. O problema é comum à maioria dos países, com duas ou três excepções. Não tenho dúvidas é de que se fosse possível trazer de volta os nossos jogadores que actuam no estrangeiro teríamos um dos melhores campeonatos da Europa, com equipas ao mesmo nível das que habitualmente dominam o futebol internacional. 

- Mas esta geração não vai durar sempre...

- A substituição dos jogadores que saem não é feita pelos futebolistas talentosos que temos em Portugal, mas através da importação maciça de estrangeiros. Isso é, em princípio, um problema grave para qualquer seleccionador, mas não o é tanto quando eu vejo que o Milan, o Inter, o Corunha, o Barcelona e o Real Madrid vêm buscar-nos jogadores com 18 anos e os incorporam nos seus plantéis. Vem aí um Inter qualquer e diz: «Ai não há lugar para vocês no futebol português? Ai não querem arriscar com esta miudagem? Então venham para cá...». E daí por um ano ou dois eles são titulares nessas grandes equipas. O mais importante nisto tudo é sabermos que existem jogadores com qualidade para lá desta geração. Estamos em condições de antecipar o futuro assim que o entendermos necessário. 

- A renovação desta equipa foi um tema muito referido após o Euro-2000. Não a considera uma necessidade imediata, tendo em vista o Euro-2004?

- Nem pensar nisso! Até porque quem vai fazer a renovação da selecção actual são os próprios jogadores, com toda a naturalidade, transmitindo a sua sabedoria aos novos valores de forma sequenciada e contínua. Não sou empresário para andar preocupado com renovações... 

- Não está a planificar o seu trabalho com 2004 no horizonte? É apenas uma segunda etapa distante?

- É apenas uma segunda etapa. Mesmo que já estivesse a pensar nisso não o diria. Vamos concentrar-nos apenas no Mundial e, antes do mais, na qualificação para o Mundial. A minha função é pensar as coisas e trabalhar antecipando os desafios, como é evidente. Mas isso não tem nada a ver com o que pretendemos desta equipa e destes jogadores neste momento. As nossas forças estão todas concentradas na tentativa de garantir o apuramento para o Campeonato do Mundo. 

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