Improviso no estádio Tudo é diferente. O estádio está a receber um tratamento de emergência, quatro gruas asseguram a luz e as separações das bancadas estão a ser revistas para que entre o maior número possível de espectadores. Até um morro servirá para albergar muita gente. É deste local, de resto, que se vê melhor o relvado. Que está em mau estado.
Bragança está como sempre. É um sábado normal. Grande parte do comércio está encerrado, as pessoas estão em casa, de pijama e pantufas, separadas do frio por quatro paredes, reconfortadas pelo fogão de sala ou pela salamandra. Quem põe o nariz fora de casa, todavia, passa forçosamente pelo estádio. Para ver a movimentação e para perspectivar uma noite inesquecível. Há igualmente quem calce as luvas por instantes para se colocar na fila da bilheteira. Os sócios pagam mil e duzentos escudos. «Está certo», garantem, «não está caro». Para o público em geral também não será necessário gastar tanto como isso para assistir à partida. A bancada é franqueada por três mil e oitocentos escudos, a superior por mil e setecentos.
O estádio deve esgotar. O Bragança pediu dez mil bilhetes à FPF, mas as bancadas não albergam tanta gente. Engano? Nem pensar, os responsáveis do clube querem que a assistência seja de facto numerosa e participativa, por isso resolveram colocar largas centenas de pessoas num morro situado por trás de uma das balizas. Uma espécie de terceiro anel, de boa visibilidade, ao preço de mil e duzentos escudos. Tirando a lama e a ausência de cimento para descansar nos tempos mortos, parece bem!
A câmara municipal resolveu, à pressa, retocar o recinto, tapando buracos no parque de estacionamento, revendo as vedações do estádio e alargando o espaço, ainda assim reduzidíssimo, para a Imprensa. A SIC está a preparar a transmisão e já montou quatro gruas que iluminarão os pontapés nocturnos. Tudo por causa do F.C. Porto. São os momentos de lucidez em largas horas de emoção e devaneio. Há uma zona da cidade que está em transe, ofuscada pelo desejo de vergar o viajante que vem do litoral. O resto é normal. Amanhã, sim, espera-se a grande confusão, especialmente quando o F.C. Porto, a estagiar em Mirandela, chegar ao estádio. A enchente será histórica. O dia também. O desfecho, não se sabe.
