Oliveira esconde o «onze» da Selecção

2 set 2000, 14:49

Dúvidas até à hora do jogo O seleccionador não disse quem vai entrar de início, mas deixou uma pergunta que parece abrir a porta a Vidigal: «Para quê mudar o sistema que temos usado?»

António Oliveira, seleccionador nacional, já escolheu a equipa que vai fazer entrar em campo amanhã (domingo) diante da Estónia, mas não a divulgou na conferência de imprensa que deu esta manhã em Tallinn após o último treino da Selecção antes do arranque do apuramento para o Mundial 2002. 

«As decisões estão tomadas, mas por norma não as divulgo publicamente antes de os próprios jogadores saberem», explicou Oliveira, alertando ainda para a eventualidade de «aparecer algum imprevisto e ter de haver alterações». 

Mantêm-se, assim, as dúvidas que a semana de treinos da equipa não permitiu dissipar: Simão jogará na esquerda, sacrificando-se um dos trincos, provavelmente Vidigal? Quem estará na baliza, Pedro Espinha ou Quim? 

António Oliveira foi vago nas respostas a estas questões concretas. Assumindo que «não há razões para mudar uma forma de jogar que vem desde 1994 e foi seguida, com grande sucesso, no último Europeu», o seleccionador sempre adiantou que há pelo menos três hipóteses de organizar o ataque à baliza adversária: «Podemos jogar com o Sá Pinto na direita, o Pauleta na frente e o Figo à esquerda; podemos jogar com os tais médios mais recuados; e também podemos ter o Simão à esquerda, o Sá Pinto no meio e o Figo na direita.» 

No que respeita aos guarda-redes, Oliveira afirmou apenas que «a partir do momento em que os jogadores entram nas convocatórias da Selecção fecham-se as outras portas e deixa de interessar se jogaram ou não os últimos jogos pelos seus clubes». Deste modo, o treinador português poderá querer dizer que seguirá a lógica que vem de trás e considerará Pedro Espinha como número 2 da Selecção e substituto de Vítor Baía, entregando-lhe a titularidade na Estónia. 

No treino da manhã de hoje (sábado), Costinha jogou como lateral-direito na peladinha, mas quanto a isso Oliveira disse mesmo quase tudo: «É minha obrigação precaver várias possibilidades. Imaginem que se lesiona o lateral-direito... Não o fiz a pensar no jogo de amanhã, mas num futuro mais alargado. Temos de conhecer as características dos nossos jogadores e testar soluções que nos permitam dar respostas rápidas a situações que podem ocorrer a qualquer momento.» 

«Que não chova e que o jogo de sub-21 não prejudique o relvado» 

Sobre a abordagem portuguesa ao jogo com a Estónia, Oliveira disse o esperado, ou seja, que a equipa das quinas «ambiciona sempre jogar o mais possível ao ataque» e que neste jogo em concreto «tudo aponta para que o adversário defenda bastante, deixando a iniciativa a Portugal». 

«Em futebol é preciso atacar, divertir e saber fazer as duas coisas ao mesmo tempo. É isso, naturalmente, que tentaremos», acrescentou o treinador. 

O estado do relvado do Kadriorg Stadium agradou à equipa técnica portuguesa. «Felizmente as informações más que tínhamos não se confirmaram», adiantou António Oliveira, que só espera agora que «não chova e o relvado não fique pior com a realização do jogo dos sub-21». 

«Ter um clima ameno e um relvado que sem ser o de Wimbledon está em condições razoáveis é naturalmente melhor para explorarmos o nosso futebol», acrescentou. 

O problema da motivação 

Defrontar a Estónia nunca foi nem nunca será o mesmo que ter pela frente uma selecção poderosa do futebol europeu ou mundial. Oliveira sabe-o melhor que ninguém e assume-o com frontalidade: «A motivação para defrontar equipas teoricamente mais fracas sempre foi o grande problema dos treinadores, nas selecções ou nos clubes. Essa é a grande chave do sucesso e muitas vezes tem sido um factor que nos levanta dificuldades.» 

O seleccionador português confia, no entanto, na maturidade dos jogadores e no seu próprio trabalho: «Ter os jogadores permenentemente motivados é uma das nossas funções. Penso que esta equipa está a afirmar-se cada vez mais, cresceu muito e tem consciência da grande responsabilidade que carrega sobre si. Foram os jogadores, com os seus bons desempenhos, quem conquistou essa responsabilidade e agora sabem que têm de manter o nível para não defraudar as pessoas. Eles têm noção da função de representação do país que desempenham actualmente e por isso saberão lidar com o problema.» 

A segunda oportunidade de conquistar algo 

António Oliveira aceitou olhar um pouco para trás. Em 1994, estreava-se como seleccionador diante da Irlanda do Norte. Que diferenças há entre esse tempo e a actualidade? 

«Em 94 encontrei um grupo de bons jogadores, brincalhões, alegres e divertidos. Hoje verifico que fazem as mesmas coisas, mas estão mais felizes. Vê-se que cresceram, que têm maior estabilidade económica, desportiva e social, mas sobretudo vê-se que souberam crescer juntos, o que foi muito importante», sublinhou, acrescentando que «a maior capacidade de vencer que agora demonstram é fruto disso». 

Durante a semana Sá Pinto zangou-se com uma entrada de Jorge Costa. No final desse treino, Oliveira reuniu os jogadores e apelou à união do grupo. Passados alguns dias, olha para o sucedido como «algo de natural num grupo de jogadores que se empenham a fundo no trabalho e sabem que competem uns com os outros». 

Oliveira frisa que «esses pequenos casos já sucederam antes e provavelmente vão continuar a suceder», mas acima de tudo está convicto de que assumem muito pouca importância, precisamente à luz da união que sublinhara antes: «Falei com eles porque acho sempre oportuno conversarmos. Nunca houve nem haverá na Selecção más intenções por parte dos jogadores. Eles formam um grupo unido e amigo, diria que são quase uma família, independentemente de poder acontecer um desses lances num treino.» 

Antes de terminar, o seleccionador ainda respondeu a questões colocadas em inglês por jornalistas estónios. «Pegando» no desempenho português no útlimo Europeu, Oliveira constatou que «Portugal vai ter uma segunda oportunidade de afirmar o seu futebol e partir para a conquista de alguma coisa» nesta fase de apuramento e, claro está, no próprio Mundial, objectivo declarado da Selecção.

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