O autor dos cortes artísticos no melhor relvado da Liga

21 abr 2020, 23:48

António Balsas esteve no Mundial do Brasil e cuidou em exclusivo dos relvados da Federação da Argélia. Natural de Quiaios, fixou-se no Algarve em 2017 e acabou por tornar a relva do estádio do Portimonense na melhor da Liga

«Ah! É você! Desculpe, ainda estou a trabalhar. Às 18h acabo por hoje e ligo-lhe.»

A pandemia Covid-19 tirou-nos momentaneamente o futebol, confinou os jogadores às suas habitações e interrompeu o trabalho de muitos agentes desportivos. Mas há exceções, claro. António Balsas tem a responsabilidade de cuidar do relvado do Portimonense e continua a fazê-lo mesmo em tempos difíceis e diferentes.

«Praticamente fazemos o mesmo que fazíamos antes. A única diferença é que não arranjamos estragos causados pelos jogadores depois dos treinos. Como os relvados não estão a ser utilizados, aproveitamos para fazer trabalhos culturais. A relva precisa de repouso depois destas intervenções e quando há treinos não é possível», explicou ao Maisfutebol o encarregado pelo tratamento da relva do Portimonense.

Desde 2017 em Portimão, a rotina deste funcionário da RED era simples antes da pandemia de Covid-19: sair de casa ao amanhecer, ir para o relvado e voltar depois do pôr-do-sol.

«Vamos para o estádio todos os dias às 8h da manhã e não temos hora de saída. Há que cortar a relva, marcar o campo e após os treinos, temos de bater campo, ou seja, recuperar os estragos: pedaços de relva que saltaram, buracos dos calcanhares das chuteiras, enfim, uma série de coisas. Além do estádio, eu e a minha equipa somos responsáveis pelos campos de treino», esclareceu.
 

António Balsas com um dos prémios da Liga que distinguiu o relvado do Portimonense como o melhor da Liga em dois anos seguidos.


O relvado de Portimão surge sempre imaculado para os jogos dos algarvios. Qual é, afinal, o segredo?

«Há vários fatores. Tudo parte de uma boa construção, depois é preciso uma equipa capaz e aqui tenho de elogiar a minha empresa. Não nos falta nada desde materiais a maquinarias. Por fim, uma boa gestão neste caso feita pela SAD do Portimonense. Oriento a utilização dos relvados e o que eu digo é o que conta», refere, sucintamente.

De quando em vez, a relva do Portimonense surge com cortes artísticos. Um dos responsáveis? António Balsas.

«Em parte, sim. Executo esses trabalhos, mas sempre com autorização da SAD. Faço-os para tornar o espetáculo mais agradável. Gosto de fazer esses cortes artísticos e a direção da SAD gosta de ver (risos). O que aparece no relvado parte da minha imaginação, muitas vezes fico a pensar no que posso fazer», confidenciou.

O relvado diferente e original prova sorrisos em quem vê, mas já trouxe alguns problemas de tesouraria aos alvinegros: «Quem paga? Isso é com o Portimonense (risos). Não faço esses trabalhos sem ordem e autorização da SAD.  Autorizam-me e eu faço (mais risos). Se o campeonato estivesse a decorrer, talvez escrevesse alguma coisa sobre o que estamos a viver. Só penso mesmo em melhorar o espetáculo», disse.

Aos 46 anos, António trocou as praias da Figueira da Foz pelas de Portimão. Natural de Quiaios a arte de cuidar relvados levou-o a vários sítios desde Argélia à Amazónia.

«A RED conhece-me há 22 anos. Comecei por trabalhar 14 anos para uma empresa que colaborava num relvado que a RED construiu em Quiaios [Centro de Estágio Rosa Náutica]. Entretanto, adquiri conhecimentos e passei a fazer a manutenção do relvado da Naval 1.º de Maio, mas as coisas não correram da melhor maneira», relatou.

A Naval passou por problemas financeiros e acabou por desaparecer. Ainda assim, António Balsas encontrou outros relvados para cuidar com cuidado e carinho.

«A RED convidou-me para ir para Manaus para o Mundial 2014 [ndr: onde Portugal defrontou Estados Unidos]. Depois dessa experiência, fiquei à frente de todos os relvados da Federação argelina de futebol. Estive lá seis anos e meio», sustentou.

Voltou a Portugal em 2017 e tornou o relvado do Portimonense no melhor da Liga.

«A empresa propôs-me vir para o Algarve e ficou contente com o meu trabalho. Eu também gostei de cá estar e acabei por ficar», concluiu.

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Fora do jogo é uma rubrica do Maisfutebol que dá voz a agentes desportivos sem participação direta no jogo. Relatos de quem vive por dentro o dia a dia dos clubes e faz o trabalho invisível longe do espaço mediático. Críticas e sugestões para smpires@mediacapital.pt ou vem.externo@medcap.pt.

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