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Morreu Fernando Gomes. Do tempo em que havia muitos ídolos e poucos Mundiais

26 nov 2022, 17:28
Fernando Gomes e a Intercontinental de 1987

Fernando Gomes foi um futebolista daquela altura em que os miúdos só tinham como ídolos os goleadores do seu clube e não os do PSG ou do Manchester City. Só esteve num Mundial, mas isso era no tempo em que Portugal sofria mesmo muito para lá estar

Hoje seria só mais um sábado de Mundial, com festa australiana e polaca, para já, e dois grandes jogos no cartaz (França-Dinamarca e Argentina-México). Mas hoje morreu Fernando Gomes e não há Mundial que esteja acima disto. Fernando Gomes, o bibota, melhor marcador da história do FC Porto e um dos melhores avançados de sempre a vestir a camisola da seleção nacional.

De todas as homenagens que veremos nas próximas horas e nos próximos dias, as melhores serão sempre as de quem cresceu a querer ser “o Gomes”. E são muitos. Porque o futebol daqueles tempos não era tão efémero, os vídeos dos seus golos não duravam só um tweet e os ídolos não passavam assim que surgia outro mais "viral". Quem queria ser aquele número 9, quis sê-lo para sempre.

Sem craques do PSG ou do Manchester City a inundar as redes sociais a toda a hora, os miúdos iam à bola e festejavam os golos do maior goleador europeu por duas vezes. Muitos golos, muita classe, um avançado que hoje não aguentaria tantos anos nas Antas sem ser vendido por muitos milhões a um desses clubes que agora nos levam as estrelas tão rapidamente (e que certamente não seria um Sporting de Gijón).

Foi assim Fernando Gomes, o goleador daquela altura em que os calções eram curtinhos, as camisolas não podiam ser mais bonitas e nenhum pelo nas pernas incomodava o talento.

Fernando Gomes na Final da Taça das Taças, em 1984, que o FC Porto perdeu com a Juventus. Foto: Peter Robinson - PA Images/via Getty Images

Com a seleção, esteve no Europeu de 1984, até àquela maldita meia-final contra a França (finalmente vingada em 2016), e no Mundial de 1986, cuja confusão não fez justiça a uma das melhores gerações de sempre do futebol português. Pois é, parece estranho, mas, na década de 80, um jogador como Fernando Gomes podia marcar o futebol português para sempre jogando apenas duas grandes competições ao nível de seleções. Aliás, consegui-lo já foi, por si só, um feito. 

Para os adeptos portugueses, hoje habituados a Europeu, Mundial, Europeu, Mundial, Europeu, Mundial, sem falhar, é importante não esquecer quem já fomos. Se hoje nos podemos queixar das opções de Fernando Santos a cada dois anos, lembremo-nos que isso também é um luxo. As competições mudaram, as regras e o acesso também, mas há tantos e tão bons jogadores a poderem representar a seleção nestes grandes palcos que podemos parar para pensar, por momentos, no muito que penámos até aqui chegar.

Agradeçamos, então, a Fernando Gomes. O futebol evoluiu muito nas últimas décadas, a seleção nacional também, mas até o Mundial tem de parar um bocadinho na nossa atenção, para nos emocionarmos com as homenagens de quem o teve como ídolo e nos despedirmos daquele número 9 como nunca mais houve igual.

Adeus, bibota. E obrigada.

Fernando Gomes no Europeu de 1984.  Foto: Peter Robinson - PA Images/via Getty Images

 

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