Já matou cinco pessoas na Europa e a OMS está alerta. O que é e quais os cuidados a ter com a "febre do papagaio"

8 mar, 22:56
Periquito-monge visto em Apúlia, Itália, a 1 de setembro de 2023. O periquito-monge é um tipo de papagaio doméstico entre os mais populares, famoso pela sua extraordinária capacidade de imitar a linguagem humana. Lorenzo Di Cola/NurPhoto/Getty Images via CNN Newsource

Sabe como se transmite e quais os cuidados a ter?

Papagaios, periquitos, araras ou catatuas. Todas estas aves podem transmitir psitacose, a doença conhecida por "febre do papagaio" que já causou cinco mortes na Europa, lançando um alerta que também já surgiu por parte da Organização Mundial de Saúde (OMS). Trata-se de uma infeção "causada por uma bactéria que infecta aves com bicos curtos e arredondados", como as descritas acima.

Apesar do alarme, o diretor do serviço de Infecciologia do Hospital Curry Cabral garante à CNN Portugal que não é caso para entrar em pânico. "Não é caso para alarme", afirma Fernando Maltez, esclarecendo que os pardais ou os melros, por exemplo, não são afetados, ainda que a bactéria tenha sido identificada em mais de 130 espécies de aves, incluindo papagaios, patos, perus, gaivotas e canários.

Fernando Maltez refere que há vários anos que não trata um doente com esta infeção, destacando que "não é transmissível entre as pessoas". Mas como podemos precaver-nos para esta doença?

As aves infectadas com psitacose “podem apresentar sintomas como perda de apetite, depressão, diarreia, falta de ar, inchaço e fechar frequentemente os olhos”, observa o médico infecciologista. Na maioria dos casos, a presença da bactéria só é confirmada após a morte da ave através de um exame que pode até confirmar que aquela infeção pode ter surgido muitos anos após a exposição ao vírus.

Já a transmissão ao ser humano ocorre “por inalação”, nomeadamente das fezes dos pássaros, sendo raros os casos originados “por bicada de aves”. O período de incubação é de aproximadamente uma semana, e os sintomas em indivíduos expostos podem surgir dentro de cinco a quinze dias.

Fernando Maltez salienta que o quadro clínico envolve frequentemente uma “pneumonia atípica”, em que os sintomas pulmonares comuns são menos significativos. As manifestações podem incluir “dores de cabeça, dores nas articulações e manchas na pele”.

Os indivíduos susceptíveis de contrair a infeção incluem “veterinários, ornitólogos, entusiastas de aves e pessoas que tenham viajado para zonas com estas espécies de aves”. Quando contraída, a infeção pode ser tratada com antibióticos, explica Fernando Maltez. 

Para quem tem aves de estimação em casa, o infecciologista assegura que “não há motivo para alarme”. Aliás, geralmente tratam-se de “casos esporádicos” e “não é costume haver epidemias". É mais preocupante para os indivíduos que fazem criação de papagaios, assegura. Por isso, “é preciso estar atento aos locais onde foram identificados casos e perceber se há alguma fonte em comum”.

Vários casos na Europa

A Áustria, que normalmente regista dois casos desta doença por ano, notificou 14 casos confirmados em 2023 e mais quatro este ano, a partir de 4 de março. Os casos não estão relacionados entre si e nenhum dos indivíduos relatou ter viajado para o estrangeiro ou ter entrado em contacto com aves selvagens.

A Dinamarca regista habitualmente 15 a 30 casos humanos por ano, a maioria dos quais resulta da exposição a aves de companhia ou a aves de recreio, como os pombos de competição.

A Dinamarca tem 23 casos confirmados deste surto desde 27 de fevereiro, mas as autoridades de saúde pública suspeitam que o número de casos é, na realidade, muito mais elevado, segundo a OMS.

Dos casos dinamarqueses, 17 pessoas foram hospitalizadas; 15 tiveram pneumonia e quatro morreram.

Pelo menos uma pessoa na Dinamarca contraiu a "febre do papagaio" através de uma ave de estimação. Dos outros 15 casos com informação disponível sobre a exposição, 12 afirmaram ter tido contacto com aves selvagens, principalmente através de comedouros para aves. Em três dos casos, os doentes não tinham antecedentes de contacto com aves de qualquer espécie.

A Alemanha registou 14 casos confirmados de febre do papagaio em 2023. Este ano, registaram-se mais cinco. Quase todas as pessoas tiveram pneumonia e 16 foram hospitalizadas.

Dos 19 casos registados na Alemanha, cinco referem ter sido expostos a aves de companhia ou galinhas doentes.

A Suécia tem vindo a registar um aumento do número de casos de febre do papagaio desde 2017.

Registou um número invulgarmente elevado de casos no final de novembro e início de dezembro, com 26. Este ano registaram-se 13 casos, o que é menos do que o número registado no mesmo período dos últimos cinco anos.

Os Países Baixos também registaram um aumento do número de casos, com 21 desde o final de dezembro até 29 de fevereiro, o dobro dos casos registados no mesmo período dos anos anteriores, segundo a OMS. Normalmente, este país regista cerca de nove casos por ano.

Todos os casos recentes nos Países Baixos foram hospitalizados e uma pessoa morreu. Oito não tiveram contacto com aves, sete tiveram contacto com excrementos de aves domésticas e seis tiveram contacto com excrementos de aves selvagens.

A OMS disse que vai continuar a monitorizar o surto, juntamente com os países afetados.

A organização está a pedir aos médicos para estarem atentos à infeção e avisar os proprietários de aves de estimação e os trabalhadores que têm contacto frequente com aves para fazerem uma boa higiene das mãos.

A OMS diz que as pessoas que têm aves de estimação devem certificar-se de que mantêm as gaiolas limpas e evitar a sobrelotação.

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