A hora de Fabiano e o futuro da baliza do Dragão

20 mar 2014, 10:58
Fabiano no Emirates na pré-temporada

Assume a titularidade da baliza do FC Porto em Nápoles; está pronto e mais completo agora, analisa Baía

Nápoles representa o primeiro dia do resto da época de Fabiano. A partir de agora, e pelo menos até final da temporada, ele será o número 1 da baliza do FC Porto. A oportunidade chegou por via da infelicidade de Helton, mas chegou. Ele cresceu, e está pronto. A análise é de Vítor Baía, a grande referência da baliza dos «dragões», ao Maisfutebol
.

Fabiano
não tem estado parado. Antes de entrar aos 62 minutos no clássico de Alvalade de domingo passado, quando o tendão de Aquiles de Helton cedeu, ele já tinha 14 jogos na baliza dos dragões esta época, tantos quantos tinha feito em toda a temporada passada: quatro para a Taça de Portugal, três para a Taça da Liga e sete para a II Liga, com o FC Porto B.

Foi gigante aliás noutro clássico com o Sporting, o nulo de final de dezembro para a Taça da Liga, com uma série de defesas
que mantiveram o marcador a zero. Recorde aqui
as imagens dessa exibição de Fabiano.

A boa resposta de Fabiano nos jogos em que foi chamado, ainda por Paulo Fonseca, alimentou aliás o debate
sobre se não deveria ter mais oportunidades.

A questão deixou de se colocar, por causa do infortúnio de Helton. Uma lesão grave. E estranha pela forma como acontece e se sente, começa por notar Baía, recordando outro caso semelhante
dos seus tempos de FC Porto: com Pedro Emanuel, num jogo de pré-temporada em 2006.

A lesão estranha e o futuro de Helton


«Lembro-me que o Pedro Emanuel também teve uma lesão parecida e quando aconteceu virou-se para trás, a tentar saber quem é que lhe tinha dado uma porrada no tendão de Aquiles», conta Baía, revelando que Helton lhe relatou exatamente a mesma sensação. «Ao Helton foi a mesma coisa. Ele pensou, e disse-mo, que alguém lhe tinha arremessado algo da bancada. Pensou: ‘Que pontaria, ter acertado mesmo aqui no tendão’. Quando depois olha para trás e vê que está sozinho é que se dá conta que tinha sido sozinho e que tinha rasgado o tendão.»

Helton enfrenta agora uma longa recuperação. Mas o espírito positivo do guarda-redes ajuda, acredita Baía, depois de ter conversado com o brasileiro, já a seguir à operação. «Está animado, com vontade de recuperar o mais rápido possível, embora naturalmente lamentando a forma como aconteceu a lesão, assim do nada. Mas a ser muito acarinhado por todos. Agora há que ter calma, e ele sabe disso, para poder recuperar o melhor possível.»

«O espírito positivo ajuda, e é com esse espírito que ele está. Sabe o que o espera, o sacrifício. Isto também tem a ver com espírito de superação e sacrifício. Ele está preparado, sabe os momentos que vai passar e tem que ser forte mentalmente, porque ele quer jogar, e muito bem. E acho que sim, vai conseguir recuperar e conseguir ainda jogar.»

Aos 35 anos, uma lesão com esta gravidade pode lançar dúvidas precisamente sobre as reais hipóteses de regresso à alta competição. Baía diz que há muitos factores na equação: «Depende do estilo do jogador. Se for um profissional exemplar, que não seja muito propenso a ganhar peso, aí a possibilidade de poder voltar ao mesmo nível é grande. Espero que o Helton esteja neste lote.»

Enquanto Helton inicia a recuperação, o momento é de Fabiano. O compatriota de Helton acabou de completar 26 anos e vai na segunda época no Dragão, já perfeitamente identificado com o clube.

Fabiano foi formado no São Paulo e quis ser guarda-redes desde menino, como contou ao Maisfutebol
em entrevista, quando assinou pelos dragões. Vem daí a sua grande referência nas balizas: Rogério Ceni, o guarda-redes goleador paulista. «O Ceni foi meu colega no São Paulo e passei a admirá-lo muito. Aprendi bastante com ele. Posso mesmo dizer que ele é uma das minhas grandes inspirações. Ele e o Marques, antigo goleiro
do Palmeiras», revelou
.

Chegou a Portugal em 2011 para jogar no Olhanense e bastou uma época para atestar a sua qualidade. Titular do início ao fim do campeonato, foi uma das figuras dessa época em que o Olhanense foi oitavo e terminou como uma das cinco defesas menos batidas da Liga. Foi nessa época o jogador mais pontuado pelo Maisfutebol
.

Fabiano «evoluiu bastante desde o Olhanense»


O FC Porto não perdeu tempo e contratou-o logo no final dessa temporada. Ainda se admitiu a hipótese de novo empréstimo, mas ficou, como suplente de Helton. E evoluiu desde então, analisa Vítor Baía.

«O Fabiano tem evoluído bastante desde que o vi jogar no Olhanense. Melhorou substancialmente o jogo de pés, continua muito forte no um para um, mas mesmo aí melhorando ainda assim a técnica. Depois, aqui sim, melhorou muito o controlo de jogo de profundidade e as saídas da baliza. Houve uma grande melhoria do Fabiano do Olhanense para este», observa Baía, para quem as saídas eram uma das limitações do brasileiro: «Sim, e neste momento está equilibrado nesse ponto.»

«Ele está preparado. Tem demonstrado nas Taças isso mesmo, que é um valor seguro, um guarda-redes de qualidade», acredita Baía, que nota ainda outro ponto a favor de Fabiano: o facto de ele ter tido competição, de forma mais ou menos regular, esta época. Não só na Taça de Portugal e Taça da Liga, mas também no FC Porto B, onde fez sete jogos, o último dos quais a 22 de janeiro.

«É bom, porque dá-lhe competitividade. Enquanto guarda-redes sentimos necessidade de saber os locais que pisamos, as rotinas, daí eu ser um defensor destas chamadas de jogadores da equipa A para a equipa B. Exatamente para que se sinta bem, confortável, a jogar.»



Por trás do trabalho com Fabiano, e com todos os guarda-redes do FC Porto desde 2005, estava até agora um nome: Will Coort, o treinador de guarda-redes holandês que chegou ao FC Porto com Co Adriaanse e ficou muito depois. Precisamente até esta semana: o holandês acaba de deixar o Dragão
, para trabalhar no Zenit com Villas-Boas. 

Will Coort: o trabalho, a saída e a continuidade

Baía elogia o trabalho que Will Coort fez no Dragão. «Durante os anos em que esteve foi um excelente profissional e também com um trabalho muito meritório, não só na primeira equipa como também na formação», nota: «É uma escola holandesa que me agrada muito e que tem uma abordagem completa ao jogo. Integra o guarda-redes como um jogador de campo, em que o guarda-redes é a primeira fase de construção. Daí jogarem muito bem com os pés, saberem jogar muito bem com os pés, nessa primeira fase de construção.» 

Essa abordagem passa também pela «adaptação dos guarda-redes ao estilo e modelo da equipa»: «Se é uma equipa que joga com um estilo de jogo subido e a pressionar médio-alto, o guarda-redes tem que saber jogar mais fora, controlar o espaço e ser rápido nas decisões. Depois o jogo aéreo. Quando se joga de uma forma agressiva e subida no terreno, é de grande importância que o guarda-redes controle. Não só a profundidade, e quando digo profundidade é as costas dos seus defesas, como também o jogo aéreo.»

«E aí o Wil Coort fez um trabalho excelente, que tem acima de tudo a ver com a adaptação da qualidade de cada guarda-redes ao modelo e estilo da equipa e cultura do próprio clube», completa Baía.

Apesar da saída do holandês, Baía acredita que esse trabalho vai prosseguir no Dragão. «Vai ter continuidade, dentro da estrutura do FC Porto, através das pessoas que trabalhavam com ele.» O nome designado para ocupar o cargo é Daniel Correia, que já fazia parte dos quadros do clube. «É um jovem que está na equipa B e com qualidade para assumir o treino da primeira equipa e coordenar a formação. Não se vai perder a identidade nem a forma de trabalhar os guarda-redes», acredita Baía.

É um trabalho que terá de continuar a ser feito com os restantes guarda-redes dos quadros do FC Porto. Uma lista mais curta agora, com a lesão de Helton e várias movimentações de mercado no defeso e em janeiro. Curiosamente, num clube que no início da época chegou a ter nove guarda-redes sob contrato, nesta altura apenas estão no Dragão mais quatro guardiões: o angolano Kadu, o guarda-redes de referência da equipa B e a aposta natural agora para suplente de Fabiano, o sérvio Stefanovic, que passou a primeira metade da época no Arouca, André Caio e ainda o veterano Ricardo Matos. Desde o defeso saíram Bracali, Bolat (cedido ao Kayserispor) e Ventura (no Rio Ave).

Baía acredita que os jovens poderão responder bem se forem chamados. «O Kadu é um jovem com grande futuro. E há o Stefanovic, que esteve no ano passado na equipa B. Dois jovens, um angolano e um sérvio, que estão aí também, para o que der e vier, com capacidade. Nomeadamente o jovem que tem jogado mais na equipa B, que tem sido o Kadu», observa Baía, insistindo de novo na ideia de que todos os guarda-redes que trabalham no dragão têm uma série de princípios adquiridos que lhes garantem a integração: «Isto é quase como uma escola. Os guarda-redes das camadas jovens, do mais pequeninos até aos seniores, trabalham da mesma forma, e com o mesmo objetivo. E estão preparados. É um pouco o que acontece com a escola do Barcelona, aí com todos os jogadores, aqui com os guarda-redes. Todos eles têm os princípios e a forma de jogar da equipa principal, que tenta ser a mesma de toda a formação.»

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