Chega recicla outdoors das legislativas e não destaca Tânger Corrêa. "Temos dois símbolos, o logotipo do partido e a face do André Ventura"

21 mai, 18:00

Todos os partidos com assento parlamentar na Assembleia da República têm ou vão ter outdoors pelas ruas portuguesas com o rosto dos cabeças de lista. Apenas o Chega não o fará

A três semanas das Eleições Europeias, o Chega continua e vai continuar sem cartazes de campanha com o rosto do cabeça de lista António Tânger Corrêa, tendo como estratégia voltar a usar os outdoors das eleições legislativas de março. “O nosso outdoor é o mesmo que foi usado nas legislativas”, revelou à CNN Portugal fonte do Chega.

À exceção do PAN e do Livre, que ainda esta semana irão colocar nas ruas os painéis com os respectivos cabeças de lista, sendo que o Livre ainda está a ultimar o design (e, por isso, não enviou em tempo útil a imagem), Aliança Democrática, Partido Socialista, Iniciativa Liberal, Bloco de Esquerda e CDU já têm imagens dos seus principais candidatos nas ruas. Os socialistas têm mesmo um cartaz com o rosto dos três principais candidatos do partido: Marta Temido, Ana Catarina Mendes e Francisco Assis. Também o PAN terá um cartaz com os números um e dois a estas eleições: Pedro Fildalgo Marques e Tânia Mesquita.

A CNN Portugal questionou o Chega do porquê desta decisão, mas não obteve resposta.

“Apesar de ter 50 deputados, o Chega continua a ser um partido com muita semelhança a todos os outros culturais e identitários que há no mundo. Estes partidos são partidos em que a figura do líder é omnipresente”, começa por explicar o politólogo José Filipe Pinto, que diz ainda que, no caso do Chega, “o líder funciona como o primeiro símbolo do partido e quando ele não é candidato, o que é o caso, não faz sentido dar protagonismo a um cabeça de lista seja ele qual for”. E apressa-se a dizer o porquê: “Nestes partidos - partidos, culturais e identitários -, o líder não se rodeia de delfins, não há o delfinato”. 

Da mesma opinião é Paula do Espírito Santo, que destaca o facto de o Chega continuar “a ser um partido muito centralizado na figura do líder”. A politóloga considera ainda que não colocar nas ruas outdoors com o rosto de Tânger Corrêa “demonstra que [o Chega] é um partido que continua a não ter bases do ponto de vista partidário e político, o que tem é uma personificação muito forte sobre liderança”.

Já nas redes sociais, o Chega tem publicações onde consta o candidato às eleições europeias, mas sempre com André Ventura presente - ainda antes de Tânger Corrêa aparecer, o partido promoveu um cartaz apenas com Ventura. “Isso é interessante”, adianta Paula do Espírito Santo.

“No caso aqui é que o Chega é um partido em que a figura do líder, sendo omnipresente, ofusca todos os candidatos à sua volta, é o que chamamos de estratégia do eucalipto, tudo seca à sua volta mas cresce enormemente”, vinca José Filipe Pinto.

Pedro Silveira, politólogo e professor de Ciência Política na Universidade da Beira Interior, tem um outro ponto de vista sobre este tema e diz que em causa pode mesmo estar um jogo de cintura com os gastos. “O Chega pode jogar esse trunfo, continua a valorizar o seu principal ativo, que é André Ventura, e permite ter a narrativa sobre alguma contenção dos gastos eleitorais face ao que os outros partidos irão gastar. Pode ter essa dupla vantagem”, adianta.

E quanto ao efeito que esta decisão poderá ter nas votações? Paula do Espírito Santo defende que o rosto de Ventura nos outdoors poderá “induzir em erro”, uma vez que, defende, “há um propósito de não desvincular os eleitores relativamente à força do partido que está muito baseada no André Ventura”. Já José Filipe Pinto considera que “não induz em erro”. “O Chega tem dois símbolos, o logotipo do partido e a face do André Ventura, o que importa é aparecer ou um ou outro e também as bandeiras do partido, que são bandeiras antissistema”, frisa o politólogo. 

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