Um em cada três menores com deficiência já sofreu alguma forma de violência

Agência Lusa , CE
18 mar 2022, 07:18
Cadeira de rodas (REUTERS)

Estudo utilizou dados de mais de 16 milhões de crianças de 25 países, através de uma análise baseada em 98 estudos, realizados entre 1990 e 2020

Um em cada três menores com deficiência no mundo, crianças ou adolescentes, já sofreu qualquer forma de violência, como física, emocional, sexual ou negligência, de acordo com um estudo divulgado esta sexta-feira.

Apesar dos avanços na consciencialização e nas políticas públicas nos últimos anos, os menores com deficiência têm duas vezes mais hipótese de sofrer qualquer forma de violência desde a nascença até aos 18 anos, alerta um estudo publicado na The Lancet Child & Adolescent Health.

A investigação utilizou dados de mais de 16 milhões de crianças de 25 países, através de uma análise baseada em 98 estudos, realizados entre 1990 e 2020, sendo 75 com dados de países ricos e 23 de sete países de baixo ou médio rendimento.

Os autores do trabalho apontaram que, embora o estudo forneça um quadro mais abrangente de violência sofrida por crianças com deficiência em todo o mundo, há uma escassez de dados em países de baixo ou médio rendimento, especialmente no Sudeste e Ásia Central e na Europa Oriental.

No entanto, as descobertas salientam a necessidade urgente dos governos, assistentes sociais e instituições de saúde trabalharem em conjunto para aumentarem a consciencialização sobre todas as formas de violência e fortalecer os esforços de prevenção.

Os especialistas lembram que estas situações podem ter um impacto sério e duradouro na saúde e no bem-estar dos menores.

"Os nossos resultados revelam índices inaceitáveis e alarmantes de violência contra crianças com deficiência que não podem ser ignorados", sublinhou Jane Barlow , investigadora da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Crianças com deficiências cognitivas ou de aprendizagem ou problemas de saúde mental e aquelas com deficiências de origens em baixos rendimentos, são mais propensas a sofrer violência.

A grande maioria das crianças com deficiência - mais de 94% - vive em países de baixo ou médio rendimento, onde convergem múltiplos riscos.

A estigmatização, discriminação, falta de informação sobre deficiência e acesso inadequado a apoio social para cuidadores contribuem para os níveis mais altos de violência que as crianças com deficiência são alvo.

O risco pode ser agravado pela pobreza e isolamento social, bem como pelos desafios únicos que as crianças com deficiência enfrentam, como a incapacidade de verbalizar ou de se defenderem.

O estudo aponta que as taxas gerais de violência variaram de acordo com a deficiência e foram ligeiramente maiores entre crianças com transtornos mentais (34%) e deficiências cognitivas ou de aprendizagem (33%) do que entre aquelas com deficiências sensoriais (27%), limitações físicas ou mobilidade (26 %) e doenças crónicas (21%).

Os tipos de violência mais relatados foram a emocional e a física, sofridas por aproximadamente uma em cada três crianças e adolescentes com deficiência.

As estimativas sugerem que uma em cada cinco crianças com deficiência sofre negligência e uma em cada dez sofreu de violência sexual.

O estudo também chama a atenção para os altos níveis de bullying por parte de colegas, com cerca de 40% das crianças com deficiência a terem sido alvo deste tipo de ataque.

O bullying presencial (atos físicos, verbais ou sociais, como bater, pontapear, insultar, ameaçar ou excluir) é mais comum (37%) do que o cyberbullying (23%).

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