O Melhor Ator com o pior momento: como um trauma de infância de Will Smith pode ter culminado numa bofetada nos Óscares

28 mar 2022, 13:28

Um dos atores mais cobiçados de Hollywood finalmente alcançou um objetivo que lhe tinha escapado: vencer um Óscar. Contudo, momentos antes, Will Smith surpreendeu quem assistia à cerimónia ao desferir uma estalada no apresentador

É ator, comediante, produtor e compositor. Mas foi como rapper e sob o nome de The Fresh Prince que começou a ganhar notoriedade no final dos anos 80. A alcunha ficou e, em 1990, a sua popularidade aumentou drasticamente com a popular série O Príncipe de Bel-Air. Ao longo de mais de três décadas de carreira, Will Smith teve sucesso na televisão, cinema e música e, em 2007, chegou mesmo a ser considerado "o ator mais poderoso de Hollywood". O sucesso trouxe-lhe cinco nomeações para os Globos de Ouro, duas para os Óscares e ainda quatro prémios Grammy. Mas foi na madrugada desta segunda-feira que Will Smith, com 53 anos, atingiu o momento mais alto (e provavelmente também o mais baixo) da sua carreira.

O Melhor Ator com o pior momento

Tudo aconteceu durante um momento humorístico da cerimónia em que o apresentador, o comediante Chris Rock, se dirigiu a Jada Pinkett Smith e, vendo o seu cabelo rapado, disse que mal podia esperar por vê-la interpretar o "G.I. Jane 2". Will Smith, que estava sentado ao lado dela, não gostou da piada, levantou-se, subiu ao palco e deu uma estalada a Rock, que ficou tão surpreendido que mal conseguia articular uma palavra. Smith voltou ao seu lugar, mas continuava zangado: "Deixa o nome da minha mulher fora da tua boca", vociferou, mas com um palavrão pelo meio.

Momentos depois, já mais calmo, Will Smith voltou ao palco para receber o Óscar de Melhor Ator pelo seu papel em "King Richard - Para Além do Jogo". Este é um filme de que é também produtor e que é um projeto pessoal seu. O filme conta a história de Richard Williams, o determinado pai das irmãs Venus e Serena Williams, e da sua luta para educar as filhas, tornando-as campeãs de ténis. O ator elogiou o homem que o inspirou para este papel e chamou-lhe "um feroz defensor da sua família": "Eu sei que para fazer aquilo que nós fazemos temos de ser capazes de sofrer abusos, de ter pessoas malucas a desrespeitar-nos e nós temos que sorrir de volta e dizer que está tudo bem", disse no seu discurso. "Eu quero ser um recipiente de amor. Quero ser um embaixador desse tipo de amor, cuidado e preocupação", afirmou por entre muitas lágrimas e pedindo desculpa à Academia.

"Pareço um pai maluco como chamaram a Richard Williams, mas o amor faz-nos fazer coisas malucas”, justificou.

Will Smith perdeu a cabeça porque não gostou que gozassem com a aparência da mulher, uma vez que Jada sofre de alopécia, uma condição que causa repentina perda de cabelo. A agressão está a ser considerada desproporcional à piada, mas também há quem afirme que o ator estava só a defender a mulher. A história pessoal de Will Smith pode explicar porquê.

Uma infância marcada pela violência doméstica

Willard Carroll Smith nasceu a 25 de setembro de 1968, em Filadélfia, no estado norte-americano da Pensilvânia. A mãe, Caroline, era administrativa numa escola e o pai - de quem herdou o nome - é veterano da Força Aérea e engenheiro de refrigeração. Tem uma irmã mais velha, Pamela, e dois irmãos mais novos, os gémeos Harry e Ellen.

Na sua autobiografia, publicada em novembro de 2021, o ator descreve detalhadamente os episódios de violência doméstica que ele e os três irmãos testemunharam. "Quando eu tinha nove anos, vi o meu pai agredir a minha mãe na lateral da cabeça com tanta força que ela desmaiou”, escreveu. "Vi-a cuspir sangue".

"Aquele momento naquele quarto, provavelmente mais do que qualquer outro momento da minha vida, definiu quem eu sou", admitiu.

No testemunho, Will Smith escreveu que não foi apenas a violência que o traumatizou, mas também a sua própria inação diante dela. "Dentro de tudo o que fiz desde então – os prémios e elogios, os holofotes e a atenção, os personagens e as risadas – houve uma série de desculpas à minha mãe pela minha inação naquele dia. Por lhe falhar naquele momento. Por não ter resistido ao meu pai. Por ser um covarde.”

“O que vocês passaram a ver no 'Will Smith', um MC aniquilador de alienígenas, uma estrela de cinema maior que a vida, é em grande parte uma construção – um personagem cuidadosamente elaborado e projetado para me proteger. Para me esconder do mundo. Para esconder o covarde", afirmou.

Os pais de Will Smith acabaram por se separar quando ele era adolescente e divorciaram-se em 2000. O ator manteve um relacionamento próximo com o pai, mas admite que o seu o ódio ressurgiu quando o progenitor foi diagnosticado com cancro e passou a usar uma cadeira de rodas. Tanto que, quando o ator se tornou cuidador do pai, considerou matá-lo.

“Quando era criança, sempre disse a mim mesmo que um dia vingaria a minha mãe”, escreveu, na publicação citada pelo The Guardian. "Parei no topo da escada. Poderia simplesmente empurrá-lo e facilmente escapar a acusações. Graças a Deus somos julgados pelas nossas ações e não pelas nossas explosões internas motivadas por traumas.”

A ascensão do Fresh Prince

Numa tentativa de ignorar o clima de tensão que vivia em casa, o jovem Willard Smith refugiava-se na cave do amigo Jeffrey Townes a criar música. No final da escola secundária foi aceite num programa de verão de pré-engenharia no MIT (Instituto de Tecnologia do Massachusetts), mas acabou por não o frequentar. Já aí sabia o que queria fazer: rap.

Perseguindo o mundo da música, formou uma dupla com o amigo Jeffrey e apresentaram-se como DJ Jazzy Jeff & the Fresh Prince. A popularidade da dupla começou a subir, mas Smith acabou por gastar quase todo o dinheiro, sem pagar impostos. De acordo com o fisco norte-americano, a dívida ultrapassava os 2,5 milhões de euros. 

Em 1989, praticamente na bancarrota e à procura de algo diferente e novo, Will Smith conheceu Benny Medina, que teve a ideia de produzir uma sitcom baseada na sua vida em Beverly Hills. Smith adorou a ideia, assim como a NBC. O Príncipe de Bel-Air foi para o ar em 1990 e o guião era simples - Will apenas fazia o papel dele próprio: um rapaz esperto e rebelde de Filadélfia que se muda para casa dos tios em Bel-Air. A série durou seis anos, tempo durante o qual se aventurou em filmes e se fez notar pela crítica, como em Six Degrees of Separation, em 1992.

Após o sucesso que veio do filme de ação Bad Boys, de 1995, a carreira de Will Smith estava assegurada. Um ano depois, participou no grande êxito Independence Day, onde desempenhou o papel de Steven Hiller, um oficial dos fuzileiros (marines) que luta contra a invasão extraterrestre.

Até aos dias de hoje, Will Smith permanece como uma das poucas pessoas com sucesso nas três maiores áreas do entretenimento norte-americano: cinema, televisão e a indústria discográfica. É vencedor de quatro Grammys e já lançou onze álbuns. Participou também em 21 filmes, seja como produtor, narrador ou a fazer dobragem.

No total, Will Smith já arrecadou cerca de 130 milhões de euros em filmes. Em 2001 conseguiu a primeira nomeação para os Óscares ao interpretar o pugilista Muhammad Ali em “Ali”, e, em 2007, a segunda, com “Em Busca da Felicidade”, um filme inspirado numa história verídica no qual contracenou com o filho, Jaden Smith, na altura com nove anos.

Um casamento aberto

Will Smith casou pela primeira vez em 1992, com Sheree Zampino, com quem teve um filho, Trey. A relação terminou passados três anos e, em 1997, Will Smith voltou a casar, desta vez com Jada Pinkett, que conheceu quando esta fez um casting para “O Príncipe de Bel-Air”. Além de Jaden, têm uma filha, Willow.

A vida pessoal do artista esteve também envolta em polémica: Will e Jada admitiram ter tido casos extra-conjugais e a sua vida conjugal é bastante mediática, uma vez que o casal fala abertamente dos desafios da união de décadas. “Navegamos juntos, morremos juntos. Mau casamento para a vida”, garantiram durante um episódio de “Red Table Talk”, o programa de conversas de Jada Pinkett Smith. "A Jada nunca acreditou num casamento convencional. A monogamia foi o que escolhemos… na maior parte do relacionamento", confessou o ator à revista GQ.

O estilo energético e animado que caracteriza Will Smith permanece até aos dias de hoje. Recentemente, tornou-se também num fenómeno do TikTok e do Youtube, plataformas onde cria conteúdos com os filhos e documenta episódios do seu dia-a-dia.

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