Fábio Martins: «O Pote tem o feitio de jogador de rua, é ranhoso»

12 dez 2020, 09:37

Entrevista ao futebolista português do Al Shabab - Parte II

O Famalicão da temporada 2019/20 deixou uma marca forte na liga portuguesa e nomes para voos mais altos. Pedro Gonçalves foi transferido para o Sporting, Toni Martinez para o FC Porto, Uros Racic voltou ao Valencia. E Fábio Martins? Fábio, contratualmente ligado ao Sp. Braga, não teve lugar no plantel dos Guerreiros do Minho, apesar de ter sido um dos grandes nomes do campeonato passado.

Emprestado ao Al Shabab, na Arábia Saudita, o virtuoso formado no FC Porto responde ao Maisfutebol sobre esta situação peculiar e aceita também falar sobre Pote e Toni Martinez, ex-colegas e amigos próximos. Elogios não faltam, principalmente na análise ao agora médio/avançado do líder Sporting.

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Maisfutebol – O Fábio foi uma das grandes figuras do Famalicão. O Pote saiu para o Sporting, o Toni Martinez para o FC Porto e para si não houve lugar no Sp. Braga. Não lhe causa confusão, houve alguma conversa com o mister Carvalhal?
Fábio Martins – Não, não houve. Na época passada eu saí por indicação do mister Abel. Ele tinha contado pouco comigo, joguei poucas vezes e entendi sair para Famalicão. No final da época em Famalicão, ninguém do Sp. Braga me disse nada, não conversei nenhuma vez com o mister Carvalhal. Pediram-me apenas para me apresentar na Cidade Desportiva em determinada data e comecei a treinar com alguns colegas à parte. Nunca tive nenhuma conversa com o Carlos Carvalhal. A não inclusão no plantel foi uma direção da direção, que pretendia fazer um encaixe financeiro comigo. Infelizmente não foi possível, também por tudo o que a pandemia provocou. Os clubes que manifestaram interesse não bateram a verba que o Sp. Braga queria. Tomámos esta decisão do empréstimo para a Arábia Saudita e o Al-Shabab ainda pagou um milhão. Foi assim.

O que nos pode revelar sobre o Pote e o Toni Martinez, enquanto futebolistas e colegas?
O Toni é um avançado que te dá garantias. Pode não estar num dia brilhante, pode estar num dia em que os recursos técnicos não saem, mas sabes que vai amassar os defesas, lutar e trabalhar. Corre sempre e isso é importante. Foi para a equipa e para o treinador perfeitos para ele. O Sérgio [Conceição] valoriza bastante o trabalho e o Toni vai ter oportunidades a espaços. É difícil entrar na equipa do FC Porto porque há jogadores de muita qualidade na frente. Há o Marega que, digam o que disserem, dá muito trabalho. Mesmo não sendo dotado tecnicamente. Há o Taremi, que fez uma excelente época no Rio Ave e é um jogador diferente. Há o Evanilson, que tem mostrado aqui e ali que faz golos. O Toni vai saber esperar, é jovem e vai trabalhar. Quando tiver oportunidades, vai estar bem e fazer golos. É um rapaz super-tranquilo, cinco estrelas, gostei muito de trabalhar com ele e ainda conversamos.

E o Pedro Gonçalves?
Trabalha muito bem também, mas tem um feitio diferente. Tem o feitio de jogador de rua, ranhoso, sempre a resmungar. É assim fora e dentro de campo. Lembro-me dele em várias discussões, com o Pizzi e outros. Mas ele é assim. Eu dizia-lhe mesmo: ‘és ranhoso, pá’. Tem imensa qualidade e sempre disse que ia ser uma mais-valia para o Sporting. É jovem e o Sporting vai ficar um grande encaixe financeiro com ele. Devem estar arrependidos por só terem comprado 50 por cento do passe. Vai valorizar imenso e será difícil segurá-lo. Temos uma boa amizade, criámos uma boa ligação no ano passado. Criei boas amizades em Famalicão e o Pedro é uma delas. Ainda há dois ou três dias falei com ele. É um bom rapaz, desejo enorme sucesso a ambas.

Além deles, quem destacaria no excelente Famalicão de 2019/20?
Destacaria três jogadores. O Gustavo Assunção, porque não conhecia mesmo e é um jogador de enorme qualidade. Vai dar um bom encaixe ao Famalicão, tem mesmo muita qualidade. O Nehuén Pérez e o Uros Racic. Voltaram a Espanha, têm muito nível. O Uros tem estado muito bem no Valencia. No aspeto pessoal gostaria de destacar o Vaná e o Ivo Pinto. Gostei muito de conhecer o Vaná, é uma grande pessoa, ficámos com uma amizade enorme. O Ivo saiu para o Rio Ave e criámos uma excelente relação.

Em 2017/18 fez 40 jogos no Sp. Braga, com o treinador Abel Ferreira. Na época seguinte, com o mesmo treinador, deixou de jogar em dezembro. Teve algum problema com ele?
Muita gente me faz essa pergunta, mas não sei responder. O primeiro ano foi positivo, apesar desses 40 jogos terem sido quase todos incompletos. Não joguei tanto como queria, mas fui fazendo a diferença com golos, assistências e senti-me útil. No ano a seguir deixe de me sentir útil. As coisas não me estavam a correr bem e deixei completamente de jogar sem explicação. Opção do treinador. Tive oportunidades de sair em janeiro, mas o que surgiu não me interessou. Quis lutar pelo meu espaço no Sp. Braga, mas deixei completamente de jogar. Na época seguinte, sabendo que seria novamente o mister Abel a ficar, acabei por sair. Curiosamente, eu saí para o Famalicão e, quatro ou cinco dias depois, ele também saiu para o PAOK.

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