Pais da menina que morreu de peritonite "após oito dias de sofrimento" processam médicos por homicídio por negligência

CNN Portugal , MCP
20 fev 2023, 19:10
Emma e os pais, Pedro e Beatriz (D.R.)

Família de Emma, de 12 anos, defende que exames de rotina seriam suficientes para mostrar que algo não estava bem com a criança

Os pais de Emma Martínez Gascón, a menina de 12 anos que morreu no início do mês, em Valência, Espanha, devido a uma peritonite não diagnosticada, decidiu processar os médicos que acompanharam a filha por “homicídio por negligência”.

Ao longo de oito dias, a criança foi levada pelos pais por três vezes a unidades de saúde e em todas as ocasiões os sintomas evidenciados - como vómitos, dores abdominais e febre - foram desvalorizados, sendo mesmo considerados efeitos de uma primeira menstruação ou de um vírus no estômago. A menina acabou por morrer de peritonite não diagnosticada.

Segundo a queixa apresentada, a que a imprensa espanhola teve acesso, não foram seguidos os protocolos, nem foram prescritos ou sequer realizados exames que pudessem avaliar a gravidade do seu estado.

Segundo relatos da família, a 28 janeiro, Emma começou a sentir dores abdominais, acompanhadas de vómitos e náuseas e imediatamente a mãe levou-a ao centro de saúde. Ali, o médico que a examinou constatou que a menor apresentava dor na fossa ilíaca direita/ovário direito. A mãe ainda sugeriu que pudesse ser apendicite, tal como aconteceu com o filho mais velho quando tinha a idade de Emma, no entanto, o médico encaminhou a menor para casa após lhe administrar Primperan (para os vómitos) e prescrever paracetamol de oito em oito horas.

As dores não só persistiram, como aumentaram, o que levou a família a retornar ao centro de saúde. Nessa segunda visita o médico "não se levantou da cadeira” para examinar a criança e ainda “recriminou” a mãe por ter voltado já que “lhe tinham dito que o mal-estar era resultado de um vírus e que não devia ser apressado, porque supostamente demora a cicatrizar”. Após a insistência da mãe, o médico ,“sem examiná-la”, diagnosticou “diarreia não especificada” e deu-lhe alta.

Perante a sequência de acontecimentos, a família acredita que se o médico tivesse seguido as orientações face a “sintomas abdominais agudos” e tivesse examinado a menor, esta poderia ter sido encaminhada para fazer exames que poderiam confirmar ou descartar a apendicite aguda.

Segundo a acusação, citada pelo El País, a avaliação feita não correspondia à realidade, já que, de acordo com o exame realizado, a menina apresentava “abdómen flácido e depressível, doloroso à palpação” que, segundo a queixa, “são um sinal indicativo de irritação” e são “possíveis causas de apendicite”.

“Não é lógico e supõe uma clara violação da prática médica que se tenha feito uma análise à urina e não ao sangue, e que não se tenha feito uma análise de diagnóstico por imagem” para afastar ou confirmar a apendicite que, por aquela altura, “presumivelmente, já estava à beira da perfuração intestinal, se é que já não havia ocorrido”, pode ainda ler-se na acusação.

Na véspera da sua morte, a menor sofreu uma paragem cardiorrespiratória e recebeu manobras de reanimação. Foi transferida para o Hospital Clínico de Valência. 

Foi nesse momento que se confirmou a existência de perfuração intestinal, com “choque multiorgânico”. Emma ainda foi operada, mas a “falência de múltiplos órgãos, com insuficiência renal e hepática grave, além de acidose metabólica, causou a morte da menor duas horas depois”.

Os factos apontados na denúncia configuram alegado crime de homicídio por grave imprudência profissional, ao não terem sido aplicadas as práticas adequadas ao doente ou por não terem prescrito ou realizado exames complementares que tivessem dado oportunidade à realização de uma “simples” cirurgia de intervenção.
 

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