Ementa de vitória na terra de Rui Rio: “É canja, é canja, o Porto é laranja”

27 jan 2022, 21:18

A comitiva laranja cruzou-se com a azul dos liberais, naquela que é a terra natal do presidente do PSD, mas os líderes não se viram. No entanto, a três dias da noite eleitoral, há quem já faça prognósticos para o dia seguinte: "É uma coligação de afetos"

A Rua de Santa Catarina, no Porto, pintou-se de azul e laranja. Rui Rio e João Cotrim Figueiredo não se cruzaram por pouco. Tinham arruadas marcadas para o mesmo sítio, mas em pontas opostas. Faltavam dez minutos para o PSD iniciar a marcha e já se viam as bandeiras da Iniciativa Liberal no final da rua.

Salvador Malheiro desceu a artéria comercial mais famosa do Porto a correr e esbracejou para que se abrisse um corredor. Assim foi. No meio de um mar laranja passou uma onda azul. De um lado gritava-se “liberal", do outro "PSD". Na linha da frente seguiam João Cotrim de Figueiredo, Tiago Mayan Gonçalves e Rui Moreira. Entre os apoiantes de ambos os partidos ouvia-se “a coligação está aqui”; “é uma coligação de afetos”; “a coligação está feita”. Foi um dos momentos mais marcantes desta quinta-feira.

Os dois líderes não 'colidiram' mas podem vir a encontrar-se num futuro governo de direita em Portugal. Rio e Cotrim já se mostraram disponíveis para negociar a seguir ao próximo domingo. “Nós sempre dissemos que estávamos disponíveis, temos a mesma vontade de alterar este ciclo político”, reforçou o liberal.

Iniciativa Liberal faz campanha no Porto (Lusa/Fernando Veludo)

Rangel: “Cruzei-me com a Iniciativa Liberal, mas deixei-os ir em paz”

Com os liberais cada vez mais próximos do mar laranja, Salvador Malheiro voltou a aparecer, desta vez, para dar um abraço a Cotrim de Figueiredo e deixar-lhe umas palavras de apoio. “Boa sorte, vai chegar o momento”, disse o social-democrata.

Questionado sobre se o cruzamento das arruadas estava programado, o deputado único disse que os dois partidos não andaram a coordenar agendas. Ainda assim, confessou que podia ter evitado o encontro, mas entendeu não o fazer. Esta onda azul não ficou indiferente a ninguém, incluindo Paulo Rangel: “Cruzei-me com a Iniciativa Liberal, mas deixei-os ir em paz”, disse entre um sorriso.

Do lado do PSD marcaram presença Luís Filipe Menezes, ex-líder, que disse que já não via uma mobilização tão grande há 20 anos, André Coelho Lima, Sofia Matos, cabeça de lista pelo círculo do Porto, o antigo ministro da Defesa José Pedro Aguiar-Branco e o candidato às últimas autárquicas à Câmara do Porto, Vladimiro Feliz.

No meio dos vários cartazes destacava-se uma faixa com três ou quatro metros vinda de Gaia. Podia ler-se em letras garrafais: “Rio primeiro-ministro”. Será futurologia? “Não, é a realidade”, assegurou Paula Albuquerque, uma das apoiantes que a seguravam.

“É canja, é canja, o Porto é laranja”

Entre as centenas de pessoas, quiçá mais de 500, o ambiente era de confiança. Ao som dos tambores e dos já habituais gritos de vitórias, surgiram novos slogans: “é canja, é canja, o Porto é laranja”; “o Rio é fixe, o Chega que se lixe”; “o povo não esquece que a culpa é do PS”.

Laranja da cabeça aos pés, Helena disse que viu o casaco que tinha vestido nos saldos e não resistiu a comprá-lo para a ocasião especial: “Adorei. Havia mais cores mas tinha de ser desta”.

Mas também há estreantes nestas andanças. Elisabete Marques, de 79 anos, acompanhada da neta, confessou ser “uma Maria vai com a outras” e acrescentou: “É a primeira vez que me vou meter nestes apertos”.

Rio, mal subiu à varanda e se aproximou do microfone para discursar, ouviu um pedido da multidão: “E salta, Rio, e salta, Rio, olé, olé”. E saltou, ainda que poucochinho. Mesmo assim, foi uma estreia nesta campanha e foi reservada para a terra natal.

O PS “fez uma campanha na base da mentira e merece perder"

O presidente do PSD discursou no edifício ao lado da secção socialista da freguesia de Santo Ildefonso e aproveitou para enviar um recado aos adversários: "Fizemos uma campanha pela positiva, nunca mentindo sobre o adversário".

Rui Rio disse que o PS “optou por fazer uma campanha que, em vez de dar as suas ideias, tratava de deturpar” as ideias do PSD. “Inventou que queremos privatizar a Segurança Social, quando não é verdade, que queremos privatizar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), o que não é verdade, que queremos pôr as pessoas a pagar quando vão ao hospital, o que não é verdade, que não queremos aumentar o salário mínimo nacional, o que não é verdade, que estamos ligados à extrema-direita, o que não é verdade. Fez uma campanha na base da mentira, merece perder.”

Foi depois destas duras acusações que arrancou cânticos dos apoiantes: "O povo não esquece que a culpa é do PS". Orgulhoso da campanha que fez para a disputa no dia 30, Rui Rio disse: “Fizemos uma campanha pela positiva, divulgando as nossas ideias, criticando as opções do adversário, mas nunca mentindo sobre o adversário, porque na democracia é assim mesmo”. Enquanto proferia estas palavras, em baixo, na rua, os apoiantes gritavam “vitória” e ainda “já só faltam três dias para a vitória".

Rui Rio foi presidente da Câmara do Porto durante 12 anos, entre janeiro de 2002 e outubro de 2013. Só a primeira vitória foi sem maioria.

Rui Rio no Porto (Lusa/Mário Cruz)

 

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