Porque é que as mulheres têm mais doenças autoimunes do que os homens? A resposta pode estar na molécula Xist

CNN Portugal , MJC
1 fev, 17:44
Ciência

A molécula Xist encontra-se apenas nas mulheres e é a principal causadora destas doenças

Uma equipa internacional liderada por cientistas da Universidade de Stanford descobriu uma explicação provável para um mistério biológico: por que motivo um número muito maior de mulheres do que de homens sofre de doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatóide. Num artigo publicado esta quinta-feira na revista Cell, os investigadores apresentam novas evidências de que uma molécula chamada Xist – pronunciada como a palavra “existir” e encontrada apenas em mulheres – é a principal causadora destas doenças. Isso poderia explicar o facto de as mulheres representarem cerca de 80 por cento das pessoas que sofrem de doenças autoimunes.

As mulheres normalmente têm dois cromossomas X, enquanto os homens têm um X e um Y. Os cromossomas são feixes compactos de material genético que carregam instruções para a produção de proteínas. O Xist desempenha um papel crucial ao desativar um dos cromossomas X nas mulheres, evitando o que de outra forma seria uma desastrosa sobreprodução de proteínas. No entanto, a equipa de investigação descobriu que durante este processo o Xist também gera estranhos complexos moleculares ligados a muitas doenças autoimunes.

Embora os cientistas tenham realizado grande parte da sua pesquista em ratos, fizeram uma descoberta envolvendo pacientes humanos: os complexos Xist – longas cadeias de RNA emaranhadas com ADN e proteínas – desencadeiam uma resposta química que é característica das doenças autoimunes.

Uma melhor compreensão desta molécula poderá levar a novos testes que detetem doenças autoimunes mais cedo e, a longo prazo, a tratamentos novos e mais eficazes, disseram os investigadores.

Para já, a descoberta do papel desempenhado pela molécula Xist não explica como os homens contraem estas doenças, ou porque é que algumas doenças autoimunes, como a diabetes tipo 1, têm uma incidência mais elevada entre os homens. “É evidente que tem de haver mais [por descobrir], porque um décimo dos pacientes com lúpus são homens”, disse ao Washington Post David Karp, chefe do departamento de doenças reumáticas do UT Southwestern Medical Center, em Dallas. “Portanto, esta não é a única resposta, mas é uma peça muito interessante do quebra-cabeças.”

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